O mercado de trabalho mostrou melhora no terceiro trimestre, mas a geração de vagas permanece concentrada na informalidade, com prejuízos à contribuição para a Previdência Social, observou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na passagem do segundo trimestre para o terceiro trimestre do ano, a taxa de desemprego recuou de 12,4% para 11,9%, com a geração de 1,384 milhão de vagas, embora apenas 138 mil delas com carteira assinada no setor privado.
"Temos motivos para comemorar, esse 1,4 milhão (de vagas), mas temos motivos para ficar preocupados, porque a qualidade do emprego continua em queda", ressaltou Azeredo. "Ainda restam 12,5 milhões de pessoas em situação de desocupação no território brasileiro. Essa geração de vagas tem parte expressiva voltada para ocupações caracterizadas pela informalidade", completou.
No trimestre encerrado em setembro, foram criadas 522 mil vagas sem carteira assinada no setor privado e 432 mil pessoas passaram a trabalhar por conta própria, sendo 299 mil delas sem carteira assinada.
"A taxa de desemprego vem caindo lentamente e a porta de entrada do mercado segue por vagas informais", diz Thiago da Xavier, da consultoria Tendências.
"Se compararmos o terceiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2017, observamos 1,3 milhão a mais de pessoas trabalhando. Desses 601 mil vieram sem carteira e outros 581 mil eram conta própria", completa.
Ele destaca, no entanto, que há sinais de aceleração na criação de postos de trabalho no segundo semestre do ano e de retorno de pessoas à PEA (População Economicamente Ativa), a partir de um contexto de incertezas menos com definições políticas no país e sinais de avanço na economia.
Subocupação é recorde
Azeredo ressalta ainda que o contingente de 6,9 milhões de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas também é recorde. Segundo ele, a situação pode ser gerada tanto pela fraqueza do mercado de trabalho quanto por novas formas de contratação reguladas pela nova lei trabalhista, como o contrato intermitente (por dias ou horas).
"O que puxa o emprego é (vaga) sem carteira assinada e conta própria sem CNPJ. A gente tem entrada (no mercado de trabalho) pela informalidade bem caracterizada mesmo", afirmou Azeredo.
Os desalentados (pessoas que desistiram de buscar uma colocação) também permaneceram estáveis na comparação trimestral, mas saltaram 12,6% em relação ao mesmo período de 2017, chegando a 4,8 milhões de pessoas. Agora, representam 4,3% da força de trabalho.
O porcentual de trabalhadores ocupados contribuindo para a Previdência Social caiu de 63,7% em junho para 63,1% em setembro. No auge da série, em dezembro de 2015, havia 60,577 milhões de ocupados contribuindo. Em setembro, caiu a 58,398 milhões, o equivalente a 2,179 milhões de contribuintes a menos.
"Essa contribuição está muito relacionada também ao dinamismo que o trabalho está te dando. Se você não tem dinamismo, como vai contribuir? O quadro de contribuição para a previdência está muito aquém do que se via antes da crise econômica", observou Azeredo.
Sem ânimo
Apesar da melhor no contingente de ocupados, o volume de mão de obra subutilizada —desempregados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e aqueles que desistiram de buscar emprego— permaneceu estável em 27,3 milhões na comparação com o trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2017, houve aumento de 2,1%.
O rendimento médio real habitual também não refletiu a melhora na ocupação. Ele foi estimado em R$ 2.222, similar ao trimestre anterior e também frente ao ano anterior.
"As vagas que estão sendo geradas são de baixo impacto salarial", diz Azeredo.
Especialistas apontam que o próximo governo deverá olhar não apenas para os 12,5 milhões de desempregados no Brasil, mas também para os 27 milhões de pessoas subutilizadas.
"Estar trabalhando é importante, mas o salário e as condições também são. Se queremos melhorar o quadro do mercado de trabalho brasileiro, precisamos pensar de forma ampla", diz Xavier.