À frente da Finep desde 2011, o sociólogo Glauco Árbix afirma que empresas brasileiras estão acordando para a inovação. Ele usa como argumento a procura pelo Prêmio Finep em média, 560 inscrições anuais. Arbix também gosta de rebater as críticas que o governo federal recebeu ao lançar o Inovar Empresa, em 2013. "Muitos desdenharam, afirmando que não haveria demanda para o orçamento de R$ 32 milhões". Até agora, a empresa de fomento recebeu demanda de R$ 97 bilhões em projetos. "Não há problema de demanda, o Brasil está pronto a dar um salto", diz. "Temos que inovar, é a única maneira de modificar o baixo padrão de produtividade da nossa economia". O que falta para a inovação decolar no país? Bons projetos?
Não é correto dizer isso. A demanda na Finep mostra que muita coisa está mudando nos alicerces da economia brasileira. Comparado com o universo internacional, as empresas brasileiras que inovam são poucas. Mas, apesar de pequeno, é um número crescente, em ritmo acelerado. Quando lançamos o Inovar Empresa, com o BNDES, disseram que não haveria demanda nem bons projetos. O que recebemos foi impressionante em termos de quantidade e qualidade. Há projetos ousados, ambiciosos, o que não é a tônica da nossa economia. Fomos por décadas um país fechado, o que fez com que as empresas se acomodassem. O primeiro projeto engavetado nas crises era o de inovação, considerado um luxo, algo que não era para nós. É preciso lembrar que há um toque de heroísmo em quem faz isso, porque a economia não é amigável à inovação, com o peso dos impostos, a burocracia, marcos regulatórios. A inovação pode salvar a baixa produtividade?
Pouca gente sabe como alterar a produtividade, que é da economia toda, não só indústria. Uma coisa é certa: a educação gera impacto positivo. Empresas que pensam novos processos dão salto, é o caso das vencedoras do prêmio. E não se faz isso sem gente. Não seria o caso de desburocratizar o acesso a fomento? A Embrapii lançou neste ano seu primeiro edital, que é de longo prazo e aberto.
A Embrapii foi pensada para ser ultrarrápida e desburocratizada. Pegamos a Finep em 2010 com uma média de tempo de análise de projetos de 454 dias. Hoje temos o Finep 30 dias, um limite para dar resposta a empresas sobre juros, condições, carência. É possível pensar que uma instituição pública pode se redesenhar. Não é fácil, há constrangimentos fortes, inclusive legais, mas é o caminho. E a burocracia é um entrave, mas existem outros. Um é a falta de abertura para errar. Mexo com dinheiro público, é difícil imaginar que eu possa colocar recursos em uma empresa que falha. Não porque fez mau uso, mas porque é normal no processo de inovação. Vá convencer a opinião pública sobre isso ser natural. Nem sempre temos essa maturidade no Brasil, seja no governo, iniciativa privada ou universidade.