São Paulo Sacudido pela fuga dos investidores em busca de ativos considerados mais seguros, o mercado brasileiro teve um dos piores dias do ano ontem. O temor com a crise no mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos atingiu em cheio os mercados emergentes e as principais bolsas de valores do mundo. Analistas não batem o martelo sobre a extensão da turbulência, mas acreditam que o Brasil tem bons fundamentos.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,78%, para 53.882 pontos, zerando os ganhos do mês, que até a segunda-feira somavam quase 7%. Na mínima do dia, o indicador chegou a cair 6%. Agora, no acumulado de julho, a Bolsa apresenta queda de 0,92%. O volume financeiro ficou em R$ 5,6 bilhões, bem acima da média diária do ano, de R$ 4,1 bilhões.
Dos 59 papéis do Ibovespa índice que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa , somente o da Gol subiu. As duas principais ações, Petrobrás e Companhia Vale do Rio Doce, perderam 3,63% e 3,71%, respectivamente.
O risco Brasil que mede a desconfiança do investidor estrangeiro na capacidade de pagamento da dívida do país disparou 38 pontos, para 221 pontos-básicos, maior nível desde o fim do ano passado. Em Nova Iorque, o índice de principais ADRs (principais títulos de empresas brasileiras negociados em Wall Street) recuou 5,37%.
A moeda norte-americana, por sua vez, fechou a R$ 1,9280, com valorização de 3,27% maior alta em um dia desde maio de 2006. No mês em que o dólar caiu para o menor patamar desde setembro de 2000, porém, a moeda ainda acumula leve baixa, de 0,10%.
"É no mundo inteiro um movimento de fly to quality (fuga para qualidade), saindo de investimentos de maior risco para ativos de menor risco como os títulos do Tesouro norte-americano. A diferença é que (os ativos) no Brasil tiveram uma valorização muito forte (antes). Quando a alta é maior, o tombo é maior também", disse Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Para a Modal Asset Management, a situação parece mais séria do que as correções vistas no começo do ano. "É o terceiro grande espasmo nos mercados neste ano: o primeiro ocorreu quando a bolsa chinesa despencou em fevereiro; o segundo verificou-se quando a questão dos empréstimos 'subprime' eclodiu em março", citou em relatório.
Já o diretor de renda variável da BNP Asset Management, Jacopo Valentino, avalia que esta ainda é uma correção temporária. "O mercado estava um pouco otimista demais. Olhando o lado técnico, estava esticado. Estava subindo muito rápido, em uma velocidade que obviamente não dava para sustentar por muito tempo", disse.
Agostini também acredita que este seja mais um ajuste passageiro diante de "um cenário que não é mais tão favorável", mas ressalva: "se os balanços que forem divulgados saírem com prejuízos ou muito abaixo das expectativas, o mercado vai sofrer mais volatilidade".