As ações das empresas paranaenses navegaram em águas turbulentas no primeiro semestre, em meio ao pior momento do mercado acionário brasileiro desde a crise de 2008. Das seis companhias com maior negociação na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), apenas duas tiveram resultados positivos. As exceções ficaram por conta da Copel com alta tímida de 1,2% e da Bematech, com 6%.
As maiores perdas foram da Companhia Providência (cujos papéis despencaram 23%), Positivo Informática (21%), Paraná Banco (15%) e América Latina Logística (ALL), com recuo de 12%. O Ibovespa, índice que reúne as principais ações da Bovespa, fechou o período com queda de 11,16%. Em 2008, no auge da crise, a queda chegou a 25%.
"O semestre fechou em clima de frustração para o mercado, influenciado negativamente pelos problemas na Europa, com destaque para a Grécia, Espanha e Portugal, e pela recuperação mais lenta do que o esperado de economias desenvolvidas, como França, Inglaterra e Estados Unidos", lembra o analista Luiz Augusto Pacheco, da corretora Omar Camargo.
Os investidores estrangeiros já retiraram R$ 2,9 bilhões do mercado de ações brasileiro no primeiro semestre, a maior saída desde a crise. Somente em junho foram R$ 149 milhões a menos.
Em casa
No cenário interno, embora o país passe longe da crise europeia e esteja vivendo um momento favorável embalado pelo forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e recorde de emprego a alta dos juros para conter a inflação também provocou a migração do investidor mais conservador para a renda fixa.
As poucas ações que se salvaram no período foram as de companhias mais fortemente voltadas para o mercado interno, como as empresas de energia e de consumo. É o caso da Companhia Paranaense de Energia (Copel), que em junho integrou a lista das empresas com maiores altas no mês (10,7%), juntamente com Eletropaulo (16,75%), Braskem (16,13%), Lojas Renner (12,64%) e Cesp (12,28%). No acumulado até o fim de junho, no entanto, os papéis da empresa de energia tiveram alta tímida, de apenas 1%.
As outras duas maiores empresas do Paraná com papéis listados na Bovespa a Positivo Informática e a América Latina Logística (ALL) tiveram menos sorte. Para os analistas, embora as duas estejam se beneficiando do crescimento da economia, tiveram resultados impactados, respectivamente, pela piora nas condições de caixa e de pagamento de dividendos e pela necessidade maior de investimentos para crescer.
Teste de estresse
Para Rogério Garrido, gerente da filial do banco Fator em Curitiba, o mercado vai continuar a ser marcado pela forte volatilidade no segundo semestre. No cenário externo, os investidores aguardam com ansiedade a divulgação do resultado, no próximo dia 23 de julho, do chamado teste de estresse que a União Europeia está fazendo com os bancos europeus. O levantamento, realizado com 100 instituições, vai apurar o grau de fragilidade e do risco de um colapso em bancos com exposição à dívida soberana de países periféricos da zona do euro. "O teste na Europa vai ser uma espécie de divisor de águas para o mercado acionário nos próximos meses", afirma.
Outra preocupação se refere à possibilidade de um aperto monetário chinês como forma de contenção da inflação, já que várias empresas brasileiras têm correlação com o mercado da China.
No âmbito interno, segundo Garrido, há ainda a expectativa sobre a capitalização da Petrobras, que foi um dos fatores de volatilidade que marcaram os papéis da companhia no semestre. A Vale também teve forte oscilação, em meio à expectativa de aumento da cobrança de royalties sobre o minério. "As eleições também costumam provocar forte volatilidade no mercado", lembra Pacheco, da Omar Camargo.
Ranking
No semestre, a Bovespa ocupou a posição de pior aplicação do mês o Ibovespa encerrou junho aos 60.935 pontos, com queda de 3,3% em relação ao mês anterior. O ouro, tradicional refúgio em tempos adversos, voltou a puxar a fila das aplicações mais rentáveis, com valorização de 3,47%.
Os analistas notam que tradicionalmente o índice da bolsa de valores tem três linhas que tende a respeitar: um piso aos 58 mil pontos, um teto aos 65 mil pontos e uma linha intermediaria, na qual "anda de lado" ao redor dos 62 mil pontos. O segundo semestre, contudo, começou em clima de desânimo, a partir das notícias negativas de recuperação da economia norte-americana, segundo Pedro Oliveira Franco, diretor da corretora Oliveira Franco. Mesmo assim, ele acredita que a Bovespa tem chances de bater os 70 mil pontos nos próximos meses.