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Um estudo realizado pela consultoria norte-americana FrontierView aponta que o Brasil poderia crescer até duas vezes mais rápido nos próximos dez anos caso adotasse todas as tecnologias de inteligência artificial (IA) hoje disponíveis. Feita a pedido da Microsoft, a análise apontou que um uso massificado dessas soluções teria capacidade para acelerar a economia brasileira no pós-pandemia. O avanço se daria a partir da geração de empregos de mais qualificação, incremento da produtividade e consequente crescimento econômico.
Conforme os resultados da avaliação, apresentados em evento online nesta terça-feira (8), uma adoção das ferramentas de IA de modo amplo adicionaria entre 1,8 e 4,2 pontos porcentuais de crescimento ao PIB do país. Segundo o diretor de pesquisa da América Latina na FrontierView, Pablo Gonzalez Alonso, o panorama de benefício mínimo (que resultaria em 1,8 p.p.) considera a simples aplicação de tecnologias — por exemplo, a automação de tarefas dentro das empresas. Já o benefício máximo (com 4,2 p.p. de avanço) se daria em um cenário de investimento brasileiro para expandir operações a partir das novas tecnologias.
Tanto o quadro mais conservador quanto o mais otimista, entretanto, tratam de um cenário pouco provável, com setor público e iniciativa privada adotando 100% das tecnologias existentes em inteligência artificial. Apesar disso, os achados do estudo apontam para a capacidade de se alavancar a recuperação brasileira por meio da aposta em inovação. "Esse é o ponto mais importante, como a IA pode ajudar o Brasil a sair mais forte e mais rapidamente da pandemia", avalia Alonso.
A tese é de que a aplicação massiva de soluções em inteligência artificial poderia reduzir custos, aprimorar a arrecadação de impostos e estimular a liberação de crédito para movimentar a economia.
A boa notícia com esse cenário é que a transformação digital ganhou força no país por causa das mudanças de hábito impostas pelo novo coronavírus. Exemplo é a explosão do e-commerce, com crescimento mensal acima de 100% entre abril e agosto. Para a presidente da Microsoft Brasil, Tânia Consentino, os negócios nacionais não tiveram outra alternativa além de adotar a tecnologia para operar a distância. "Esse caminho derrubou alguns mitos, como o discurso do “isso não é para minha empresa”. A partir de agora o mundo vai ser mais híbrido", afirma.
Inteligência artificial e o emprego
No contexto do mercado de trabalho, a consultoria indica de modo geral um quadro de redução na demanda por força de trabalho em paralelo à criação de novos postos de mais alta qualificação. O cenário de benefício máximo avaliado traria crescimento na demanda por profissionais altamente qualificados, chegando a 54% em 2030 contra os 34% atuais. Os demais níveis passariam por diminuição na oferta de trabalho. No cenário de benefício mínimo, os empregos altamente qualificados aumentariam de 34% para 50% do total de empregos em dez anos.
Apesar disso, deve-se considerar que a adoção de tecnologias no aprimoramento de produtos e serviços nos setores público e privado causaria também a expansão dos negócios, com aumento na demanda por mão de obra como impacto inicial. O reflexo se daria em todas as indústrias, mas o diretor da FrontierView destaca o serviço corporativo, a manufatura e comércio, e a alimentação como os setores que passariam a campeões de criação de emprego novo a partir da inteligência artificial.
As características de um mercado de trabalho fortemente impactado pela adoção de ferramentas tecnológicas levaria também ao surgimento de uma necessidade crescente por requalificação profissional. "É um desafio que não é só o setor público que tem que abraçar, não é só o setor privado individualmente, nós coletivamente precisamos endereçar essa equação", avalia Consentino. "Toda empresa passa a ser uma empresa de tecnologia. Nós precisamos não necessariamente ter cientistas de dados, mas de pessoas que tenham fluência em lidar com a tecnologia".
Superado esse passo, o entendimento é da necessidade de avanços em educação e igualdade de acesso à tecnologia a todas as empresas, a todos os negócios, a todas as pessoas, afirma a presidente da Microsoft Brasil. "O estudo confirma que a gente tem, sim, crescimento econômico na adoção de inteligência artificial. A tecnologia gera um elevadíssimo número de empregos e melhores empregos, produtividade e isso aumenta a rentabilidade das empresas, melhora salários, gera crescimento econômico. A preocupação é: se nós não o fizermos, o Brasil vai ficar para trás numa escala mundial", sentencia.