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Pesquisa

Inteligência Artificial promete milhões de novos empregos e menos horas trabalhadas

inteligência artificial

Embora o debate sobre o futuro do mercado de trabalho ainda não paute a agenda política, economistas, sociólogos e gigantes da tecnologia há muito tempo tentam traçar cenários de como a sociedade se transformará na próxima década com a difusão em larga escala da Inteligência Artificial e de outras novas tecnologias. No geral, as previsões sobre a chamada 4ª Revolução Industrial concordam com um cenário de extinção de muitas vagas de trabalho acompanhada, entretanto, da criação de postos novos - muitos deles ainda inimagináveis. Estudos e opiniões, contudo, divergem sobre a amplitude dessas transformações.

As hipóteses mais catastróficas supõem que a automatização dos processos industriais e a adoção de robôs em praticamente todos os setores levarão à perda de dezenas de milhões de vagas e a altas taxas de desemprego. As mais otimistas preveem a criação de novos empregos para atender às novidades tecnológicas, o aumento exponencial da produtividade e mais tempo livre para os trabalhadores.

A pesquisa “O impacto da IA no mercado de trabalho”, realizada pela consultoria americana DuckerFrontier a pedido da Microsoft, mostra qual pode ser esse cenário para o Brasil até 2030. O estudo foi apresentado nesta semana em São Paulo, durante o evento AI+Tour, promovido pela Microsoft em oito países da América Latina.

O cenário ideal – em que as empresas brasileiras invistam alto na adoção desse tipo de tecnologia – aponta benefícios enormes para o mercado de trabalho. Neste contexto, o setor de serviços corporativos será o mais beneficiado, com 26 milhões de novos empregos até 2030, ou seja, 103% mais postos de trabalho em comparação com as estimativas feitas pelo Banco Mundial e FMI, descontados os efeitos da automação. O Produto Interno Brasileiro pode se beneficiar com um aumento de até 7,1% ao ano.

Outros segmentos que teriam ganhos importantes na criação de empregos, de acordo com o estudo, seriam o de manufatura (com alta de 73% na geração de vagas), o setor de comércio varejista, atacadista, hotelaria e alimentação (+44%), e o da construção (+42%). Os postos com maior demanda serão concentrados entre profissionais liberais, técnicos de nível médio e gerentes. Neste cenário, a participação de empregos de alta qualificação aumentaria de 34% para 54% do total do país.

Horas a menos

Com os ganhos de produtividade prometidos pela IA, o estudo aponta mais tempo livre para os trabalhadores. Dependendo do setor e do nível de adoção da Inteligência Artificial, a queda líquida total de horas trabalhadas pode ser de até 33%.

Isso não quer dizer necessariamente que quanto maior a difusão da IA, menor será a necessidade do trabalho humano. Pelo contrário: em um contexto de altos investimentos em tecnologia, maior será a criação de novas indústrias e modelos de negócio, o que vai demandar uma quantidade maior de trabalho. Mesmo assim, a carga horária deve diminuir em relação à atual em pelo menos 7%.

“A Inteligência Artificial permite ganhos de produtividade bastante acentuados. Então no mundo ideal eu posso chegar a trabalhar três, quatro dias por semana e entregar a mesma produtividade. O sistema teria como pagar esse custo”, afirma Tania Cosentino, presidente da Microsoft Brasil.

O gigante da tecnologia já testou a semana reduzida em sua sede no Japão. O resultado foi um aumento da produtividade em 40%, economia nas despesas fixas e maior satisfação entre os funcionários. Apesar dos resultados positivos, não há previsão para que o experimento seja replicado no Brasil. Tania acredita que a redução da semana de trabalho é um plano de longo prazo, que deve passar por um debate sobre o que as pessoas devem fazer com o tempo livre.

“A gente acredita que vai precisar passar uma parte do tempo estudando. Acredito que a gente vai trabalhar menos, mas não vai ficar na praia olhando para cima, vai estar conectado, aprendendo e se desenvolvendo”, afirma a executiva.

O sociólogo italiano Domenico De Masi, defensor do conceito de ócio criativo, calculou em seu livro “Uma Simples Revolução” que há duas gerações as pessoas viviam em média 350 mil horas e gastavam 150 mil trabalhando. Hoje, a expectativa média de vida é de 700 mil horas e 80 mil horas trabalhadas. Embora pareça que o tempo nunca é suficiente, um dos desafios da sociedade do futuro parece ser encontrar o que fazer com tanto tempo livre.

Riscos associados

Apesar dos benefícios que se possa vislumbrar, a previsão é de que a adoção das novas tecnologias não ocorrerá de forma homogênea no mundo, gerando prejuízos entre os retardatários. Segundo o historiador e escritor israelense Yuval Noah Harari, os países desenvolvidos têm grande chance de implementar as transformações em ritmo mais acelerado, o que pode empobrecer ainda mais países que hoje competem no cenário internacional oferecendo mão de obra barata. As perspectivas são de que uma completa automação derrotará essa concorrência, com o risco de jogar milhões na pobreza.

Pablo Gonzalez, diretor de pesquisa na América Latina da empresa DuckerFrontier, que conduziu o estudo, sugere a criação de um fundo alimentado por impostos cobrados de empresas, já que no futuro todas as companhias farão amplo uso da tecnologia. O dinheiro, segundo Gonzalez, deveria ser destinado aos países onde ocorra uma disrupção muito grande no mercado de trabalho.

“Não dá para deixar só as empresas investirem em IA e depois ver qual vai ser o efeito. Os governos têm que ser proativos”, afirma Gonzalez.

*O jornalista viajou a convite da Microsoft

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