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Acidente da Tesla: os carros futuristas são assassinos potenciais?

Modelo S, da Tesla: veículo usa sistema de piloto automático | Divulgação/Wikimedia Commons
Modelo S, da Tesla: veículo usa sistema de piloto automático (Foto: Divulgação/Wikimedia Commons)

A colisão que matou o condutor de um veículo Tesla na Flórida, Estados Unidos, divulgada na última quinta-feira (30), pode ter sido o primeiro acidente fatal do mundo com um computador ao volante. O choque ocorreu quando um caminhão de reboque mudou de pista, cortando a frente de um Modelo S 2015 da Tesla – o piloto automático do veículo não conseguiu frear.

O acidente tirou a vida de Joshua David Brown, de 40 anos, e levantou várias questões sobre a automação dos veículos e o futuro da direção.

Pode ser tentador descrever esta ocorrência como um acidente de carro sem motorista, mas não é bem por aí. Há uma grande diferença entre a tecnologia de condução assistida e a de automação completa; e o que vimos aqui diz respeito à primeira. Vamos entrar nesse quesito, mas antes falaremos dos detalhes da tecnologia do piloto automático, que está no centro do acidente.

Pergunta: Como o piloto automático da Tesla funciona?

Resposta: O piloto automático é composto por um sistema de câmera e radar na parte frontal do carro, bem como uma dúzia de sensores ultrassônicos montados ao redor do veículo, capazes de avisar sobre qualquer eventualidade. A câmera lê sinais de limite de velocidade e detecta as faixas de rolamento da pista para evitar que o motorista desvie delas sem querer. Os sensores detectam a aproximação excessiva de outros carros e têm um alcance de 16 pés (4,8 metros).

Mais importante ainda, o piloto automático tem controle digital sobre algumas partes básicas do carro, como freios e volante.

A abordagem da Tesla para o sistema de pilotagem automática é muito parecida com a do resto da indústria automobilística: está a apenas a um passo incremental de carros totalmente autônomos. A esse respeito, o piloto automático da Tesla é semelhante a outros recursos automatizados já aplicados nos veículos atuais, como o sensor de estacionamento ou de prevenção de colisões. A Tesla descreveu seu piloto automático como uma espécie de controle avançado, com os pilotos sendo capazes de assumir a direção quando quiserem. A Tesla disse no passado que o recurso foi projetado para tornar a condução mais confortável “quando as condições estiverem favoráveis”.

P: E as condições não estavam favoráveis neste acidente?

R: Aparentemente, não. Veja como a Tesla descreveu o acidente: “quando o caminhão virou à esquerda, cruzando o caminho do carro, nem o homem nem a máquina poderiam distinguir o céu do corpo de cor branca do caminhão”, disse a empresa. Como resultado, o Modelo S não desacelerou, acertando a área entre os eixos do caminhão e sendo esmagado.

P: As câmeras não poderiam detectar a lateral do reboque?

R: Não, embora não saibamos exatamente por quê. A Tesla disse simplesmente em seu blog que “nem o piloto automático e nem o motorista perceberam a lateral branca do caminhão contra um céu iluminado”, sugerindo que a luminosidade ou outro problema de imagem teriam impedido o computador de detectar a obstrução a sua frente. Na verdade, o manual do proprietário da Tesla destaca que “luminosidade excessiva (como a dos faróis em sentido contrário ou a luz solar direta)” é um fator que pode afetar o sistema de piloto automático.

Aqui estão algumas outras coisas que podem confundir o mecanismo, de acordo com o manual: “ má visibilidade (devido à chuva, neve, nevoeiro, etc.); danos ou obstruções causadas por lama, gelo e neve; interferência ou obstrução por objeto (s) colocado no Modelo S (como um rack de bicicleta ou um adesivos); estradas estreitas ou sinuosas; danos ou desalinhamento no para-choque; interferência de outro equipamento que gere ondas ultrassônicas; temperaturas excessivamente elevadas ou baixas”.

Ainda que as câmeras tivessem se confundido devido à luminosidade, resta a pergunta de por que o sistema de radar não conseguiu interpretar o obstáculo. A Tesla fez menção a “elevada altura do reboque em relação à pista”, que pode ter feito o radar não captá-lo, já que o sistema busca elementos mais próximos ao chão.

Na sexta-feira, a Mobileye, uma das empresas que trabalha com a Tesla para produzir o piloto automático, disse que a tecnologia é projetada somente para evitar somente colisões frontais, e não laterais.

P: Quão segura é esta tecnologia?

R: Bem, a Tesla diz que você deve sempre estar preparado para assumir a direção e, teoricamente, se você está prestando atenção, deve ser capaz de evitar quaisquer incidentes.

Mas isso levanta questões sobre o tempo de reação. E se você estiver prestando atenção à estrada, mas não tiver a capacidade de evitar acidente iminente? Há casos anedóticos de pilotos automáticos que apareceram para evitar um acidente, o que mostra que o sistema parece fazer um trabalho melhor do que o dos humanos pelo menos algumas vezes.

Estatisticamente, o piloto automático da Tesla ainda pode ser melhor do que a maioria dos seres humanos. A empresa afirma que este foi o primeiro acidente em cerca de 130 milhões de milhas conduzidas pelos carros equipados com seu sistema de piloto automático. Nos Estados Unidos, ocorre uma morte nas estradas a cada 100 milhões de milhas percorridas pelos veículos, de acordo com o Instituto de Seguros para a Segurança Rodoviária. Portanto, carros conduzidos exclusivamente por seres humanos tendem a causar com mais frequência mortes na estrada. Mas precisaríamos de mais dados sobre acidentes envolvendo veículos parcialmente autônomos para confirmar isso. Mas é um começo.

Finalmente, lembre-se de que a tecnologia vai melhorar. O poder de computação vai aumentar, os métodos de detecção vão avançar e a comunicação entre os veículos em breve será possível. Tudo isso provavelmente irá tornar os carros hi-tech mais seguros.

P: Quão similar é o piloto automático de Tesla aos carros sem motorista do Google?

R: Devemos ter cuidado para não confundir o piloto automático com a capacidade de auto-condução completa. O piloto automático da Tesla é substancialmente diferente do carro autônomo do Google, que usa não só radar e câmeras, mas também feixes de laser e modelos de mapas sofisticados para identificar a sua localização exata em relação ao mundo e seu entorno.

Os reguladores têm desenvolvido um sistema de classificação para ajudar a distinguir o quão avançado é um carro na escala de automação. O nível 0 significa que o seu carro é totalmente manual, enquanto o nível 4 de automação (o mais alto) mostra que o veículo é completamente robótico.

O carro autônomo do Google seria um exemplo de nível 4 de automação. O piloto automático da Tesla fica em algum ponto entre os níveis 2 e 3 porque ajuda a tornar a condução um pouco mais fácil e pode assumir “funções críticas para a segurança”.

Como esta tecnologia ainda está sendo desenvolvida, certamente haverá falhas futuras envolvendo veículos parcialmente ou totalmente automatizados. É como respondemos a elas que importa.

P: Quais os próximos passos da Tesla, dos legisladores e dos reguladores?

R: A tarefa dos políticos, dizem os analistas, é combater os temores legítimos que temos a respeito da tecnologia com os benefícios sociais que a automação veicular poderia trazer – e isso não é fácil. Recentemente, o governo declarou que o carro sem motorista do Google pode ser visto como um condutor aos olhos da lei, um movimento que terá repercussões para os governos estaduais, companhias de seguros, bem como fabricantes de automóveis. Oficiais federais também estão desenvolvendo políticas para veículos automatizados; alguns dos trabalhos podem ser acompanhados online.

O que quer que eles decidam provavelmente afetará a Tesla de uma forma ou outra - e moldará o futuro desta tecnologia de condução.

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