Em maio de 2014, o conselho administrativo do fundo de investimentos Deep Knowledge Ventures, sediado em Hong Kong, ganhou um novo membro. Em um movimento inédito, um algoritmo de inteligência artificial passou a integrar a cúpula de uma empresa, tendo inclusive direito a voto. Chamado de Vital, o sistema foi desenvolvido como uma ferramenta para auxiliar o fundo a escolher em quais startups e empresas alocar capital, com base na trajetória dos candidatos e no potencial do negócio. Apesar de ainda incipientes, iniciativas como essa devem se tornar cada vez mais populares nos próximos anos e mudarão a maneira como executivos tomam decisões estratégicas.
A utilização de sistemas de big data no ambiente corporativo, com organização e análise de dados em larga escala, não é novidade. O que surge como aposta agora para a próxima década é a popularização e barateamento de sistemas de computação cognitiva – área em que conceitos de inteligência artificial são aplicados para resolver problemas reais. Apesar de alguns pesquisadores e companhias terem visto o movimento da Deep Knowledge como uma jogada de marketing, há consenso no setor de que tais sistemas já começam a ganhar o status de ferramentas essenciais para dar suporte a decisões – seja indicando ao diretor da empresa onde faz mais sentido cortar curtos ou auxiliando um médico a escolher o melhor tratamento para o seu paciente.
O uso da inteligência artificial na tomada de decisões chegou a ser citado pelo Fórum Econômico Mundial, no fim do ano passado, como uma das principais inovações que irão transformar a sociedade ao longo da próxima década – pesquisa feita pelo fórum com mais de 800 especialistas apontou que a tecnologia deve chegar ao seu auge de implementação em 2026.
Há quem acredite, porém, que esses sistemas se popularizarão no mundo dos negócios ainda mais cedo. A computação cognitiva é apontada pela escola internacional de negócios e inovação Hyper Island como uma das tendências que irão afetar os negócios das empresas já nos próximos três anos. “Estamos falando de algoritmos inteligentes que vão automatizar tarefas cognitivas simples mas também executar tarefas complexas, permitindo que os humanos tomem decisões mais inteligentes. Quem não tomar vantagem desta tendência vai ficar pra trás”, cita a consultória em relatório divulgado há três meses.
Chefe robô?
Mesmo com os avanços na área, especialistas são unânimes em afirmar que não veremos tão cedo um computador ou robô assumindo, sozinho, a gestão de um setor dentro da empresa ou chamando para si responsabilidades dos demais profissionais. “Esse sistema computacional vai dar sugestões baseadas em evidências, mas não será capaz de tomar decisões por alguém”, relata Fábio Scopeta, líder no Brasil do sistema de computação cognitiva Watson, da IBM. “Um bom exemplo é a aplicação na área médica. Com base no conhecimento passado pelos médicos e análise de pesquisas, o sistema vai conseguir propor, em segundos, um tratamento baseado em fatos. Mas a decisão em adotar o tratamento será efetivamente do médico”, completa.
Casos como esses já são realidade. A própria IBM se tornou a primeira empresa a trabalhar com computação cognitiva em escala comercial, com aplicações em uso por companhias do mundo todo (veja box ao lado). A gigante da tecnologia está longe de ser a única interessada neste mercado: a quantidade total de capital de risco aplicado em startups que desenvolvem soluções de inteligência artificial saltou de US$ 70 milhões para US$ 300 milhões somente nos dois últimos anos.