Em um quarto principal escuro, David Kaiserman está de camiseta ao lado de uma cama king-size virada para baixo. “Bom dia, Siri”, ele diz para o iPad em suas mãos, e as luzes se acendem enquanto a cortina blackout começou a se retrair. “Sua casa está pronta para se levantar e brilhar”, responde a assistente virtual.
Dentro desta casa de quatro quartos feita de estuque em Alameda, na Califórnia, Kaiserman, presidente da divisão de tecnologia da empresa de construção Lennar Corp., mostra a visão de uma casa controlada via iPhone ou iPad.
Toque no telefone e a música “Back in Black”, do AC / DC, começa. Outro toque e o banho está pronto a uma temperatura de 38 graus C. Legal, certo? Claro, seu pai pode ver isto como um certo exagero. Tendo dito isso, US$ 30 mil em valores de gadgets e brinquedos tecnológicos estão em exibição ali, muitos funcionando com o aplicativo gratuito HomeKit, da Apple.
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Com as vendas do iPhone desacelerando, a Apple está se unindo com alguns construtores e usando estes quartos-teste para entrar no mercado de mobiliário doméstico conectado à internet, um campo emergente que atrai rivais como o Google e Amazon.com.
A aposta é que os dispositivos caros para a casa terão uma venda mais fácil quando já embarcados no imóvel. Os construtores já embutem bancadas de granito e fixadores de níquel escovado em milhares de modelos de casas em todos os Estados Unidos. Então, por que não campainhas com vídeo?
Ao contrário do Google e da Amazon, porém, a Apple não está desenvolvendo hardware capaz de conectar a casa. Em vez disso, o aplicativo HomeKit pretende impulsionar o valor do seu ecossistema iOS e torná-lo mais difícil para os usuários alternarem seus telefones e tablets para Android.
“Queremos levar a automação residencial para o mainstream”, diz Greg Joswiak, vice-presidente de marketing de produtos da Apple. “O melhor lugar para começar é do início, quando uma casa ainda está sendo criada”.
O preço da conveniência
A conveniência exposta na casa de Alameda não é barata. Uma única cortina que usa uma bateria Lutron custa a partir de U$ 349. Ou, pense sobre o trinco com touchscreen da Schlage, que pode ser controlado remotamente, para que você passe uma senha para o visitante. Ele chega a US$ 200. Um trinco comum custa U$ 32 na Home Depot -- e tem sempre a possibilidade de deixar uma chave debaixo do vaso de plantas para o visitante.
Em Freemont, na Califórnia, a apenas 15 minuto do complexo do Facebook, a KB Home, com sede em Los Angeles, também está terminando sua casa Apple. Com automatização de termostatos, luzes, sistema de segurança, fechaduras, ventiladores e cortinas, ela deixa que você, por comando de voz, mude a cor das luzes.
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Com as palavras “boa noite”, a luz fica roxa. Com um “bom dia”, ela muda para branco.
A KB oferece dispositivos sem fio como upgrade. Um pacote básico custa cerca de US$ 2 mil, que “se embutido nas parcelas da casa, custam uma ninharia por mês”, de acordo com o porta-voz Craig LeMessurier.
A Lennar embute o custo no preço das casas. A casa de Alameda sai por U$ 1,2 milhão, apesar de ser um modelo beta, já que uma casa real dificilmente tivesse os U$ 30 mil em aparelhos.
A Apple também está trabalhando com a Brookfield Residential Properties. E outros construtores. As empresas não quiseram dizer quando as casas estarão à venda.
Os consumidores vão gastar cerca de US$ 24 bilhões em aparelhos domésticos conectados em 2016, de acordo com a Strategy Analytics Inc. Embora seja uma fatia pequena se comparada às cifras dos smartphones, a empresa de pesquisa e consultoria espera que essas vendas praticamente dobrem até 2020.
Úteis ou inúteis?
Para a maioria das pessoas, as casas conectadas ainda estão longe, diz Jonathan Gaw, analista da IDC. Os dispositivos que se proliferam ainda são difíceis de instalar em residências antigas e, em alguns casos, parecem inúteis. Gaw cita uma vela sem fio que viu outro dia.
“Dá um tempo”, diz ele. “Isso só prejudica a mensagem, Diz às pessoas que fomos longe demais. Há muita porcaria lá fora e isso só dilui as coisas que são verdadeiramente legais”.
Mesmo alguns dos que vendem tais aparelhos dizem que o hype pode estar tomando a frente da realidade. O varejista de descontos Target abriu seu próprio mostruário, a Target Open House, há um ano em San Francisco. Os compradores caminham por uma casa futurista, assistindo a mostras pré-gravadas projetadas em suas paredes acrílicas transparentes e mobiliário.
No berçário, um bebê usa um aparelho wi-fi -- feito por uma empresa chamada Mimo, fundada por gente do MIT. Ele avalia a respiração do bebê, temperatura da pele, sono e posição do corpo. Quando ela se agita, o aparelho aciona as luzes da casa, liga uma música suave nos alto-falantes sem fio da Sonos e até diz para a cafeteira no andar de baixo para começar a preparar uma bebida para os pais de olhos cansados.
“Há muita porcaria lá fora e isso só dilui as coisas que são verdadeiramente legais”
Você pode comprar um por US$ 199. Muitos pais preferem preparar seu próprio café e deixar os bebês se mexerem -- ou comprar um monitor de bebê tradicional por apenas US$ 19,99. Os dispositivos domésticos conectados podem custar cinco vezes mais do que a versão antiga, de acordo com a porta-voz da Target, Jenna Reck.
“A casa inteligente vai chegar lá, mas ainda não está lá”, diz Jenna. “A adoção está acontecendo de maneira mais lenta do que as pessoas previam”.
Tudo a um toque (ou um comando)
Como todas as coisas tecnológicas, há a questão de falhas, frustração e complexidade. Markus Giesler, de 40 anos, equipou sua casa de 1924 com um sistema da Apple para, assim, ser objeto de sua própria pesquisa acadêmica na Schulich School of Business da Universidade de York, no Canadá.
Quando o professor associado de marketing liga para casa de seu BMW, o GPS em seu telefone emite um alerta para que a porta da garagem abra e as luzes se acendam em várias cores e brilhos por toda a residência, dependendo de suas preferências e da hora do dia. Pelo menos, na teoria.
“Certos dispositivos obedecem, e outros não”, diz Giesler.
Os construtores começaram a oferecer dispositivos inteligentes, como fechaduras automáticas e termostatos, há mais de cinco anos. Em suas residências modelo atuais, a Lennar, com sede em Miami, trabalha com uma empresa chamada Nexia, uma unidade da Ingersoll-Rand Plc.
Kaiserman, da Lennar, projeta que trabalhar com a Apple terá um efeito “prestígio”, ajudando a convencer os clientes que uma nova casa de sua subdivisão pode ser uma alternativa “legal” a uma já existente.
Sem dúvida, a Apple foi encorajada pela experiência de Ken Bieber. No ano passado, Bieber, um executivo de 39 anos de uma empresa de consultoria, comprou uma casa inteligente da Lennar por US$ 357 mil depois de visitar uma modelo ao norte de Tampa, na Flórida.
Com seu sistema Nexia, as luzes passam a diminuir de intensidade automaticamente a medida que escurece, sinalizando que é hora de se preparar para dormir. Quando sua esposa, April, entrou em trabalho de parto há dois meses, ele ficou com ela no hospital e passava um código de entrada temporária via texto para que um amigo levasse o cachorro para passear.
Desde a compra de sua casa, Bieber gastou mais US$ 1 mil com detectores de movimento sem fio, uma câmera de vídeo e controles para seus dimmers de luz, ventiladores de teto e sistema de irrigação.
Os vizinhos começaram a lhe pedir conselhos de dispositivos para comprar e tornar suas casas inteligentes, e ele planeja adicionar persianas motorizadas.
“Estar assistindo a um filme e, de repente, ter de levantar para fechar as cortinas -- isso é demais para mim”, diz Bieber. “Estou tão acostumado a falar e as coisas simplesmente acontecerem”.
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