Imagine-se acordando de manhã ao ouvir o toque do celular. Não é preciso silenciar o aparelho no criado-mudo ao lado da cama, já que ele está diretamente sobre a pele de seu braço. Horas depois, seu carro o leva até o trabalho enquanto você lê um livro, sem nem colocar os olhos na estrada. Já na empresa, você participa de uma reunião do conselho diretor – entre os executivos do alto escalão, está um programa de computador, responsável por tomar decisões estratégicas em prol da companhia.
INFOGRÁFICO: Conheça as inovações que têm grande chance de virar realidade até 2025.
Acredite: cenas como estas estão mais próximas de se tornarem realidade do que você pensa. Na visão de mais de 800 especialistas consultados pelo Fórum Econômico Mundial, veículos autônomos, dispositivos implantáveis e inteligências artificiais complexas devem deixar de estampar os filmes de ficção científica para se tornarem rotineiros nos próximos dez anos, marcando o ápice da chamada revolução digital já em curso.
As previsões são foco de um estudo divulgado em novembro do ano passado e se somam a um longo artigo escrito no mês seguinte pelo fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab, em que ele chama a fusão entre essas diferentes tecnologias de quarta revolução industrial – o que representaria um passo adiante em relação aos momentos históricos anteriores que marcaram a introdução de inovações como a máquina a vapor, a eletricidade e a eletrônica.
Caminho sem volta
O uso do termo não é novo – muito se fala, por exemplo, na indústria 4.0, com linhas de produção autônomas e integradas por robôs –, mas serviu para esquentar as discussões sobre o real impacto na economia e na vida dos “cidadãos comuns” que as tecnologias vindouras trarão ao longo da próxima década.
Em grande parte, especialistas e companhias do setor concordam que a consolidação dessas inovações, que incluem ainda impressão 3D, nano e biotecnologia, internet das coisas e moedas digitais, é um caminho sem volta. A dúvida é se elas serão de fato tão disruptivas como a energia elétrica e o carro foram ao longo dos séculos 19 e 20.
Nesse sentido, o fato de ninguém poder recorrer ainda a uma máquina do tempo para dar uma espiada logo à frente traz visões bastante conflitantes sobre o futuro que bate à porta. O presidente do Fórum Econômico defende que a quarta revolução industrial trará uma “transformação sem precedentes na história da humanidade” e tem potencial para alavancar o crescimento global.
Por outro lado, economistas como Robert Gordon, professor da Universidade de Princeton (EUA) e um dos mais influentes estudiosos do tema, rechaçam a visão apaixonada de Schwab e destacam que as mudanças trazidas pelas revoluções industrias anteriores não serão equiparadas por robôs ou smartphones superpoderosos.
Em seu livro recém-lançado lá fora, The Rise and Fall of American Growth (A Ascensão e Queda do Crescimento Americano, em tradução livre), Gordon chega a cunhar o termo “tecno-otimistas” para se referir aos que defendem a tese de que estamos prestes a passar por uma evolução radical na qualidade de vida.
“O progresso depois de 1970 continuou, mas focado principalmente no entretenimento, comunicação e tecnologia da informação, áreas em que esse progresso não chegou com o mesmo impacto súbito trazido pelas grandes invenções”, escreve. Em outras palavras: mesmo que você ache seu iPhone super descolado, ele nunca será tão inovador quanto a geladeira, o ar-condicionado ou a rede de esgoto de sua casa.