A internet das coisas, que se refere à conexão de objetos físicos de portes e utilidades diferentes, deve enfim virar alvo de políticas públicas no Brasil, seguindo uma tendência que tem despertado a atenção de governos e empresas no mundo todo.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou no fim do mês passado uma chamada pública para buscar empresas interessadas em fazer estudos técnicos sobre o mercado de dispositivos conectados no país, que vão embasar medidas de incentivo para o setor.
O interesse do governo no tema não surgiu à toa. Estudo da Cisco aponta que a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) poderá gerar ganhos superiores a US$ 4 trilhões para vários países ao longo dos próximos sete anos – o Brasil aparece na nona colocação entre as nações que mais serão impactadas com a economia de custos e novas receitas geradas pela tecnologia.
Este mercado é considerado promissor não somente pelas novas oportunidades de soluções, produtos e serviços que oferece, mas também pela ampla cadeia que fomenta, com empresas atuando em diferentes frentes para fabricar sensores, disponibilizar conectividade e desenvolver softwares.
Necessidades essas que serão assumidas, em grande parte, por startups e pequenas empresas recém-criadas – a Gartner aposta que, em 2017, 50% das inovações em internet das coisas serão originárias de empresas com menos de três anos de existência.
“A internet das coisas poderá induzir à criação de uma nova economia, é uma ruptura tecnológica que vai possibilitar o surgimento de muitas empresas e potenciais novos serviços. Essa é uma hora propícia para uma mobilização sobre o tema, que deve envolver setor público e privado, universidades e escolas”, destaca a sócia-líder da Deloitte para o setor de Telecomunicações, Mídia e Tecnologia, Marcia Ogawa.
A se considerar as pesquisas mais recentes sobre o tema, os próximos anos serão cruciais para que o país se insira nesse mercado de alcance mundial.
“Políticas públicas podem acelerar esse processo em vários aspectos, seja reduzindo impostos para a fabricação de sensores, estimulando prefeituras a inserir soluções de cidades inteligentes em licitações ou garantindo que haja a cobertura necessária para conectar os dispositivos”, avalia Renato Carneiro, presidente da 2S, empresa de tecnologia para o mercado corporativo que já oferece soluções em IoT.
Gargalos
O interesse do governo em compreender o potencial da internet das coisas no Brasil se soma a iniciativas adotadas recentemente pelo poder público em outros países.
Em março do ano passado, a União Europeia lançou a Aliança para Inovação em IoT, a fim de estabelecer políticas de padronização e apoiar a pesquisa e inovação na área.
O Reino Unido também adotou um caminho semelhante, com o governo do país incentivando de forma direta o desenvolvimento de novos serviços e produtos na área, que gerem empregos e valor para o país.
Por aqui, há a expectativa de que o programa de aceleração Startup Brasil, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, lance em breve um edital específico para startups que desenvolvem soluções em internet das coisas.
Para a sócia-líder da Deloitte para o setor de Telecomunicações, Mídia e Tecnologia, Marcia Ogawa, outro ponto que precisa desde já ser atacado pelo governo é a qualificação profissional.
“O governo tem que atuar também com formação de mão de obra. Não há como contar só com as escolas privadas para atender essa demanda. É preciso reformular toda uma grade para os futuros brasileiros, visando desde as crianças que estão hoje no primário. Não adianta nada colocar dinheiro em um setor ou determinado elo da cadeia se não há mão de obra”, reforça Ogawa.