No sul da Alemanha, uma fábrica montada pelo Homag Group produz móveis quase na velocidade que levamos para pronunciar o nome da cidade em que está instalada, Schopfloch.
Funcionários levando peças de uma máquina a outra? Praticamente nenhum. Tudo é digital. Um sistema de esteiras transporta os itens etapa a etapa. Se precisar acelerar ou frear a produção, um software o fará automaticamente.
INFOGRÁFICO: O longo caminho da Indústria 4.0 no Brasil
Os humanos ficam na parte criativa: criam os desenhos, monitoram o processo e se lambuzam com as informações fornecidas pelas máquinas. Parece cenário futurista, mas uma em cada três empresas no mundo está neste caminho. No Brasil, somente uma em cada dez.
Os números de uma recém-divulgada pesquisa da PricewaterhouseCoopers (PwC) com 2 mil empresários em 26 países revelam a lentidão brasileira para se adaptar à “indústria do futuro”, em que as operações (do contato com fornecedores à produção e venda) são digitalizadas e a análise de dados é a espinha dorsal do negócio, por exemplo.
O nome técnico é “Indústria 4.0” (ou “manufatura avançada”), um termo que virou quase palavrão ao ser exaustivamente associado a robôs “roubando” empregos de humanos. Se por um lado a perda de postos de trabalho (sobretudo os de baixa qualificação) parece inevitável, esta tecnologia torna a produção mais eficiente e menos agressiva aos recursos naturais.
“Ainda estamos engatinhando no contexto da engenharia digital, da gestão integrada da cadeia de fornecimento e dos serviços digitais, seja pela ausência de um direcionamento governamental, seja por um padrão ‘nacional’ de cooperação”, avalia Sergio Alexandre, sócio da PwC Brasil.
Ainda assim há otimismo. Por aqui, os industriais ouvidos na pesquisa projetam se enquadrar na tendência mundial em cinco anos, com 72% das fábricas altamente digitalizadas. Só que com investimentos modestos se comparados à média global. Enquanto 21% dos empresários brasileiros afirmam que vão investir mais de 6% de seus recursos em inovação tecnológica, no mundo, a média de industriais é 43%.
O caminho brasileiro é tortuoso. “Tem os entraves que todos conhecem. Infraestrutura, falta de política de inovação, ambiente macroeconômico desfavorável”, diz Rafael Calil Trevisan, consultor de inovação do Senai-PR.
Cenário bem diferente da Alemanha, onde o conceito surgiu, em 2011, e se desenvolve a passos de Usain Bolt. “A educação também é fundamental. Se não há mão-de-obra especializada para trabalhar neste contexto, não vai dar certo”, diz Trevisan, para quem a formação brasileira atual não inspira a inovação. Além disso, só 5% dos egressos de faculdades brasileiras são engenheiros, a área mais impactada na mudança.
Quem está na corrida, porém, pode crescer mesmo em cenário de crise. “Investir na Indústria 4.0 é uma solução para se destacar. Cada vez mais os custos com produção, mão-de-obra e energia pesam na indústria. Se melhorar a eficiência, faz muito mais consumindo bem menos”, aponta Trevisan.