Depois de conquistar espaço em sua rotina com celulares, aplicativos e programas de computador, as gigantes de tecnologia agora querem influenciar também o modo como você cuida da sua saúde – e garantir que cada vez menos você precise recorrer a hospitais e clínicas. Aproveitando a experiência com inteligência artificial e processamento de dados, bem como a evolução recente destas tecnologias, empresas como Google, Apple, IBM e Microsoft têm investido pesado para conquistar espaço em uma indústria global avaliada em US$ 8 trilhões.
Esse movimento começou há cerca de cinco anos, principalmente nos Estados Unidos, mas agora começa a mostrar resultados e se espalhar por outros países, com um boom de novas startups querendo abocanhar uma fatia deste mercado antes restrito a farmacêuticas e departamentos de pesquisas nas universidades. O aumento da longevidade da população e, consequentemente, dos custos dos governos e hospitais em saúde, é visto como uma das principais oportunidade para quem quer investir no setor. Afinal, a promessa é de que as novas tecnologias podem justamente diminuir esses gastos, que já correspondem a 17% do PIB nos Estados Unidos e 9% no Brasil.
O CEO da Apple, Tim Cook, disse em maio que a assistência médica é uma “oportunidade enorme” para a companhia, que quer transformar seu Apple Watch em uma espécie de centro de diagnósticos sobre a condição física dos usuários. A empresa aposta em sua plataforma HealthKit para ajudar na tarefa – a ideia é que o sistema, que por enquanto apenas coleta dados de devices, como pulseiras e relógios, passe a analisar e interpretar essas informações, que poderiam ser usadas por médicos, com o consentimento dos usuários. O movimento é estratégico para a Apple porque pode ajudar a companhia a gerar mais receita com softwares e serviços, diminuindo a dependência do iPhone, cujas vendas estão em queda.
A Microsoft é outra empresa que tem apostado no setor pensando no médio e longo prazo. A companhia anunciou mês passado que está fazendo pesquisas com algoritmos e machine learning – técnica de programação em inteligência artificial – para buscar formas mais efetivas de tratar o câncer. A meta da empresa é ambiciosa: permitir que, no futuro, cientistas “programem” células para combater doenças. “Se os computadores do futuro não serão feitos apenas de silício, e podem conter materiais vivos, cabe a nós garantir que entendamos o que significa programar esses computadores”, afirma, em nota, a vice-presidente corporativa responsável pelos laboratórios de pesquisa da Microsoft, Jeannette M. Wing.
Investimento bilionário
Em outra linha, o Google tem concentrado esforços não só em pesquisas próprias, mas também no trabalho de terceiros. Ano passado, um terço dos US$ 2,4 bilhões investidos pelo fundo de venture capital da companhia foi repassado para empresas e startups de saúde. Em 2014 e 2015, o setor foi o que mais recebeu investimentos da empresa, à frente de outras áreas como inteligência artificial, robótica e produtos para consumidores.
“O aumento do poder de processamento e as melhorias nas técnicas de inteligência artificial permitiram recentemente que essas tecnologias pudessem ser aplicadas para fazer mapeamentos genéticos, tanto com pessoas doentes quanto com saudáveis. Mas só quem consegue fazer isso são as grandes empresas como Google e IBM, que têm acesso a recursos financeiros e laboratórios avançados”, afirma o diretor de inovação da Agência PUC, da Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR), Riccardo Lanzuolo.