Se você tiver um robô ao seu lado amanhã ou depois, talvez a culpa não seja de um gênio do Vale do Silício, o solo sagrado da tecnologia mundial, mas de um estudante (ou um grupo deles) que nem sequer chegou aos 20 anos. E aqui do Brasil mesmo. O país entrou ainda a passos calmos na era da robótica nas escolas de ensino fundamental e de nível médio (técnico ou regular), mas tem se mostrado fértil em ideias inovadoras e aplicáveis.
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Que tal um protótipo de braço robótico que pode ser impresso em 3D desenvolvido por Luiz Fernando da Silva Borges, de apenas 17 anos, um estudante do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul? Ou o trabalho de um grupo de estudantes de Maringá, do Colégio Objetivo, que criou um robô chamado Bibo? Feito de alumínio e peças de baixo custo, ele anda, grava e reproduz áudio, conta histórias e tem compartimento para livros. Tudo controlado pelo bluetooth de um celular.
O roboteca, como foi apelidado, pode ser usado para estimular a leitura para crianças de 5 a 10 anos. “Antes eu só tinha experiência de desmontar carrinhos, barquinhos. Foi com este projeto que aprendi sobre robótica e programação. E isso mudou a minha realidade”, conta o estudante Felipe Neiverth, de 15 anos, um dos autores. O robô do trio serviu para estimular também os colegas. Um deles, Leandro Eiki Iriguchi, de apenas 13 anos, criou uma lixeira inteligente, com sensor que só abre para o tipo exato de descarte a que se destina: o colorido Gomi-Bô.
Outras boas ideias criadas pelas equipes de robótica das escolas do país pipocam em uma série de eventos e competições de robótica. São várias delas. Uma das mais interessantes é a Feira Brasileira de Ciências e Tecnologia (Febrace), realizada em São Paulo. Na edição deste ano, estudantes criaram sistemas como um software capaz de “ler” cores para deficientes visuais (estudantes de João Pessoa) e uma cadeira de rodas que sobe escadas (Rio Claro).
Mas é preciso mais, defende Arquimedes Luciano, físico e doutorando em Educação para Ciência e Matemática, o professor que coordenou os trabalhos dos estudantes de Maringá. “Temos muito o que avançar neste campo. Ainda há um distanciamento dos alunos, mesmo eles usando telefone, tablet, tevê. Eles não conseguiram entender que serão os criadores do futuro. São eles que criarão este novo mundo da tecnologia”, diz.
Competições e mostras formam uma “agenda tecnológica”
A robótica é coisa nova para os brasileiros. Um exemplo disso é que não há por aqui números definitivos sobre quantas escolas desenvolvem trabalhos parecidos ou quantos são os grupos de estudantes envolvidos nestes projetos iniciados. Talvez o melhor panorama seja aquele oferecido pelas competições e mostras regionais, nacionais e internacionais.
Há várias delas. Na Feira Brasileira de Ciências e Tecnologia (Febrace), um evento anual de ciências realizado desde 2003 pela Universidade de São Paulo, os projetos mostram finalidade profissional – neste ano, a feira selecionou projetos para concorrer a uma premiação de inovação da Intel; a delegação com 18 trabalhos faturou nove prêmios.
Na Mostra Nacional de Robótica, que tem apoio do Governo Federal, a ideia também é viabilizar os projetos -- os melhores podem receber apoio do CNPq. O evento deste ano recebe inscrições até julho e o evento, de fato, será realizado em outubro, em recife (Pernambuco).
Em conjunto com esta Mostra, uma das competições mais tradicionais na área: a Olimpíada Brasileira de Robótica, onde os estudantes desenvolvem soluções menos complexas – o objetivo é que os robôs realizem tarefas como percorrer um trajeto com a programação suficiente. O perfil é fortalecer aprendizado de sala de aula e os robôs são, geralmente, montados com o kit Lego (a fabricante disponibiliza uma linha para robótica educacional).
A própria Lego tem sua competição, a First Lego League, que é mundial. No Brasil, a etapa é promovida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi).
“Na prática, os estudantes pegam um conjunto de peças e são obrigados a montar e programar o robô. São aplicados os conhecimentos e conceitos de sala de aula, como centro de gravidade ideal, para que não penda para um lado, e robustez”, explica o professor Marlon de Oliveira Vaz, do Instituto Federal do Paraná. Nesta linha, equipes como a curitibana Hakuna Matata, formada apenas por estudantes mulheres, se destaca em meio a um ambiente ainda bastante masculino.