Maior fabricante do mundo de drones para uso civil, a SZ DJI Technology está em negociação com o governo chinês para fornecer todos os dados coletados em voo pelos seus aplicativos dentro do país. Isso inclui localização, registros de voo e possivelmente vídeos capturados pelos usuários e publicados nos servidores da empresa, segundo Zhang Fanxi, relações públicas da companhia. Ainda não está claro como serão tratados os pedidos de dados de consumidores do resto do mundo. Em sua política de privacidade, a DJI notifica os usuários de que seus dados pessoais serão transferidos para servidores ao longo da China, Hong Kong e Estados Unidos.
“Estamos em contato constante com nosso governo e os departamentos responsáveis. Fazemos sugestões aos órgãos reguladores, damos conselhos e dizemos que estamos dispostos a compartilhar nossos dados”, afirmou Zhang a jornalistas, na semana passada.
A repercussão fez com que a DJI emitisse horas depois uma nota explicando como interage com as autoridades e enfatizou que isso é compatível com a política de privacidade dos seus aplicativos e site.
“Se recebermos um pedido legal de uma agência governamental, forneceremos as informações do usuário a essa agência, exatamente como outras companhias fazem. É assim nos Estados Unidos, na China e em qualquer lugar do mundo onde haja um pedido legal das autoridades”
A empresa garante que não há como as imagens serem vistas antes do upload pelo aplicativo, o que poderia caracterizar censura.
Fundada em 2006, a DJI captou recentemente US$ 75 milhões com investidores, incluindo a Accel Partners e o fundo Sequoia, dois dos maiores grupos de investimento do Vale do Silício. Com escritórios em Pequim e Los Angeles, a empresa anunciou ter lucrado US$ 130 milhões em vendas em 2013, mais que o triplo do ano anterior. A empresa não divulgou outros números depois disso.
Para evitar potenciais preocupações com privacidade, a DJI precisa deixar claro por quanto tempo mantém os dados armazenados, limitar o tipo de informação coletada e descrever como lida com os consumidores em cada jurisdição, diz Lokman Tsui, professor na Escola de Jornalismo e Comunicação na Universidade Chinesa de Hong Kong. Tsui é conselheiro do Google sobre liberdade de expressão.
“Essa decisão põe a empresa em situação difícil perante consumidores estrangeiros. Eles coletam um monte de dados e não é claro até o momento por quanto tempo isso fica armazenado”, disse Tsui.
O governo chinês solicita acesso a um grande número dados coletados pelos setores de mídia e internet do país, sob a justificativa de manter a ordem social. O presidente Xi Jimping disse em um seminário de segurança na internet, semana passada, em Pequim, que o país está tentando acelerar a legislação de internet para reduzir os perigos online.
Drones se tornaram populares nos últimos anos, mesmo com governos por todo o mundo tentando conter essa expansão com leis. O mercado global de veículos aéreos não tripulados deve atingir US$ 11,4 bilhões ao longo dos próximos dez anos, contra US$ 6,6 bilhões em 2013, de acordo com o Teal Group. Os desafios incluem de preocupação governamental com congestionamento do espaço aéreo ao perigo de ataques terroristas. A DJI tem recebido um número crescente de encomendas do governo chinês para aplicar os drones no combate ao crime e a incêndios.
A DJI exige um registro dos seus clientes, que até então acreditavam ter suas informações inacessíveis ao governo. Em fevereiro do ano passado, o CEO Frank Wang começou as conversas com os órgãos reguladores para que os usuários dos aparelhos tivessem de se registrar junto ao governo.
O mais novo modelo, o Phantom 4, usa câmeras múltiplas e um software que detecta e evita obstáculos. Quando se depara com algo que não conseguirá atravessar, a aeronave para e flutua até receber novas instruções de voo.
“É uma forma muito intrusiva de vigilância. Isso tem um significado se for aplicado apenas aos produtos dentro da China. Mas e se for aplicado àqueles de fora da China. Se as pessoas não acreditarem que os dados serão compartilhados apenas em território chinês, acredito que o impacto será enorme para a empresa.”