A história começa por um e-mail angustiado de uma mulher que se tratava em um hospital do Reino Unido. Na mensagem, ela dizia que havia sido despejada e, ao fim do acompanhamento médico, não sabia para onde voltar. O texto foi direcionado a Joshua Browder, um jovem de 19 anos, criador do NoNotPay.
O sistema online – lançado em setembro do ano passado, em Londres – interage com as pessoas por meio de um chat, que funciona na lógica da inteligência artificial. A partir do preenchimento de um formulário rico em questões alternativas, as informações dos usuários se transformam em uma carta de apelação encaminhada à corte responsável pelo caso.
A inovação foi criada por Browder para contestar multas de estacionamento em Londres e Nova York, mas, após o apelo da mulher do Reino Unido, foi ampliada para a atuação em processos de despejo, reintegração de posse e para facilitar pedidos de auxílio moradia ao governo a pessoas que perderam suas casas.
Na Grã-Bretanha – que, por sinal, é a terra natal do criador da tecnologia – o apoio público é oferecido a recém-desabrigados, mas o processo é burocrático e exige assistência jurídica. A falta de conhecimento sobre as etapas do procedimento ou de recursos para pagar um advogado dificulta o processo.
Por meio do sistema, a pessoa não gasta um centavo e pode deixar claras as dificuldades que enfrenta. O robô também reconhece casos mais delicados, como o de indivíduos com a saúde comprometida ou com doença mental, por exemplo, e trabalha para agilizar o processo.
Expansão e resultados
A Grã-Bretanha, por enquanto, é o único país a aproveitar a novidade, mas também um dos que registrou um dos maiores índices de despejos entre os anos de 2010 a 2015. A elevação foi de 53% no período. Só no ano passado, 42.728 moradores de casas alugadas ficaram sem-teto. Em breve, o criador do NoNotPay espera expandir a ferramenta aos Estados Unidos.
Apesar das críticas de alguns especialistas, que consideram arriscado o fato de o sistema atuar como advogado em casos relacionados à habitação, a inovação por enquanto soma bons resultados.
Em menos de um ano, só no caso das contestações relacionadas a multas de trânsito em Londres e Nova York, ela avaliou 250 mil casos e venceu 160 mil. O volume equivale a US$ 4 milhões em multas que deixaram de ser pagas. Todas apresentaram razões legais suficientes para isso.