Como boa secretária, Amy toma notas de encontros, prepara relatórios, marca e desmarca reuniões, fala idiomas, busca os visitantes na portaria do prédio e os acompanha até a sala de conferências. Ela ainda monitora o ar-condicionado, sabe se a impressora está funcionando e manda fazer cópias. Pode até mudar de voz se o patrão preferir um secretário. Amy é um dos modelos de robôs produzidos pela Hangzhou Amy Robotics, uma start-up que abriu as portas há dois anos, como dezenas de outras, na onda da automação chinesa.
Também são da empresa os robôs que recebem pagamento e dão instruções aos consumidores no maior shopping center da China, o Intimes da cidade de Hangzhou. “Modelos semelhantes podem ser usados em hospitais e serviços de home care. Também temos os robôs para uso doméstico”, conta a diretora de vendas da Hangzhou Amy Robotics, Aline Wang.
É mais um sinal da “revolução dos robôs” mencionada pelo presidente Xi Jinping há dois anos, em discurso na Academia Chinesa de Ciências. Os robôs de longos braços articulados já se espalham pelas fábricas: a China é o maior comprador de robôs industriais do mundo há três anos e, até dezembro, deve se tornar o primeiro operador, superando o Japão, segundo dados da Federação Internacional de Robótica (IFR, na sigla em inglês).
Interação homem-máquina
No ano passado, os chineses arremataram 66 mil dos 240 mil robôs industriais produzidos no mundo, um aumento de 288% em relação a 2012. Na província industrial de Guangdong, a automação parece irreversível. As autoridades locais pretendem gastar US$ 144 bilhões até 2018 para patrocinar as mudanças em cerca de 1.950 companhias.
A projeção oficial é que mais de 80% das operações de manufatura em Guangzhou, a capital, serão feitas por robôs com tecnologias inteligentes até 2020. Na cidade de Dongguan, por exemplo, a tarefa de polir as caixas dos celulares, que até pouco tempo era feita por 650 trabalhadoresa em uma fábrica da Everwin Precision Technology, agora é realizada por 60 robôs.
Com seus dois braços, o YuMi (corruptela de You and Me) — da joint venture entre a suíça ABB e a chinesa BU Robotics — pode fazer qualquer coisa: de manipular CDs, automóveis, relógios e tablets a fazer gaivotas de papel. Sua vantagem, como o nome sugere, é permitir que homem e máquina dividam o ambiente de trabalho sem risco de acidentes. Segundo o responsável pelo gerenciamento de produção da BU Robotics-ABB, Hui Zhang, a automação bem planejada é boa para patrões e empregados, além de aumentar a produtividade.
“Os robôs liberam a mão de obra humana para serviços mais especializados. Juntos, homem e máquina obtêm melhores resultados do que separados”, diz Hui.
Além disso, com o envelhecimento do país e os 45 anos de vigência da política do filho único, a população economicamente ativa tem encolhido, o que, consequentemente, eleva os salários. Estima-se que, do atual um bilhão de trabalhadores, serão 800 milhões em 2050. Isso seria mais um estímulo à adoção dos robôs.
“A China já não é o país da mão de obra mais barata do mundo. Hoje, quem quer mão de obra barata vai a Vietnã, Malásia e Filipinas. A China sabe disso e não quer perder espaço”, diz Gan Jie, diretora do Centro de Finanças e Crescimento Econômico da Cheung Kong Graduate School of Business.