Que passageiro nunca ficou chateado no avião? Você embarca em um voo de longa duração, pronto para se ajeitar na poltrona e passar horas e horas assistindo a alguma série de TV ou filme popular, mas ao invés disso descobre que o avião não tem TV nos assentos e você está preso no passado, só com TVs coletivas para a cabine inteira – e filmes e séries dos anos 1990.
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Para um público cada vez mais acostumado com acesso constante à internet, a cabine do avião, muitas vezes, se converte em uma experiência frustrante. Mas o empreendedor francês David Dicko é um dos muitos que quer resolver o problema do entretenimento a bordo. Sua startup, a SkyLights, criou um óculos de realidade virtual que permite que os viajantes assistam aos últimos lançamentos de Hollywood em 3D diretamente de seus assentos. O aparelho, com bateria que dura seis horas, é acompanhado de um fone de ouvido que cancela ruídos externos.
“Nos aviões, as pessoas desejam novas opções de entretenimento”, afirmou Dicko, cuja pequena equipe de desenvolvedores, dividida entre a Califórnia e a França, está testando os aparelhos em voos há quase um ano. Em dezembro, a XL Airways – companhia aérea especializada em voos de longa duração e custo baixo – tornou-se a primeira a oferecer a versão comercial do serviço da SkyLights aos passageiros por US$ 16 por voo.
“Colocar aparelhos de realidade virtual dentro de aviões é uma ideia tão antiga quanto a própria realidade virtual”, afirmou Dicko, que antes era piloto da Air France-KLM, referindo-se às décadas de expectativa de entretenimento 3D para passageiros.
Entretenimento a bordo
O aparelho de Dicko é parte de uma tendência em todo o setor aeroviário, para que o entretenimento a bordo alcance os padrões esperados atualmente por muitos passageiros que viajam de carro ou trem. As iniciativas incluem conexão de internet de alta velocidade diretamente para as cabines, assim como novas parcerias com o Netflix e outros serviços de streaming de conteúdo.
Tudo isso demonstra como os viajantes se tornaram dependentes de conteúdo de mídia. Praticamente todos estão acostumados a acesso à internet praticamente universal por meio de banda largar em casa e pacotes de acesso em aparelhos móveis. Muitos também assinam serviços de vídeo, como o Hulu, e de música, como o Spotify. E, porque muitos viajantes agora vão com seus smartphones e tablets para o avião, eles gostariam de ter a opção de ver e ouvir esse conteúdo, mesmo durante a viagem.
Os analistas afirmam que o acesso digital e o entretenimento poderiam ajudar as companhias aéreas a se diferenciar em um mercado cada vez mais competitivo. Os consumidores mudam facilmente de hábito, caso uma companhia aérea concorrente passe a oferecer novos serviços como Wi-Fi de alta velocidade.
“As companhias aéreas da velha guarda querem imitar a experiência que os passageiros têm dentro de casa, querem fornecer conectividade ininterrupta desde o aeroporto, até a aeronave e a chegada ao destino final”, afirmou Diogenis Papiomytis, analista aeroespacial da empresa de pesquisa em tecnologia Frost & Sullivan, em Dubai.
Tentativas frustadas
Entretanto, ainda existem alguns desafios técnicos. Segundo especialistas, as tentativas anteriores de levar conectividade para as aeronaves foram frustradas por tecnologias de telecomunicação que ficavam velhas rápido demais, ou que acabavam congestionadas em função de uma demanda inesperadamente alta por parte dos consumidores.
Até pouco tempo atrás, os serviços de internet da Delta e da American Airlines, entre outras, eram na melhor das hipóteses lentos, embora os executivos dessas empresas afirmem que as velocidades de conexão estejam melhorando. Além disso, boa parte dos serviços de entretenimento a bordo de aviões mais antigos não foi atualizada para que os viajantes tenham acesso imediato em seus smartphones e outros aparelhos móveis.
“A qualidade das telas dos tablets mais recentes é tão boa quanto as que existem nos sistemas de entretenimento dos assentos, ou ainda melhor”, afirmou Oliver Drennan, conselheiro geral da SitaOnAir, empresa de Genebra que fornece internet e serviços de streaming de filmes a bordo para companhias aéreas como a British Airways e a Emirates. “O entretenimento on-line vai continuar a crescer muito”, afirmou.
Gogo
Boa parte disso se deve a investimentos multimilionários da Gogo, a principal fornecedora de internet a bordo, e suas concorrentes, que desejam equiparar a velocidade da internet à dos serviços em terra firme.
Cerca de 2.600 aeronaves comerciais utilizam atualmente os serviços da Gogo. No fim de 2016, cerca de 75 desses aeronaves foram atualizadas para fornecer velocidades tão altas quanto em terra firme, de acordo com John Wade, COO da Gogo. Outros 450 aviões deverão receber esse mesmo sistema ao longo de 2017, afirmou.
Os novos serviços de alta velocidade estão disponíveis em aviões da Delta e da Virgin Atlantic, entre outras, e representam uma melhoria significativa em relação às atuais opções de conectividade da Gogo, que basicamente se limitam ao envio de e-mails e ao acesso a redes sociais.
A ViaSat, outra fornecedora de internet a bordo, pode oferecer algo ainda melhor. Atualmente, 550 aviões, incluindo a frota da JetBlue, utilizam a rede de satélites de alta velocidade da empresa, que já oferece velocidades similares às que as pessoas têm em seus aparelhos móveis. O serviço via satélite geralmente é gratuito para acessar o Netflix e outros conteúdos on-line, não importa onde o avião esteja.
Os viajantes podem fazer upgrades de hora em hora, caso queiram velocidades maiores para jogar ou realizar outras atividades que necessitem de muita banda. A ViaSat planeja realizar uma expansão internacional a partir de 2017, firmando acordos com empresas como a Qantas e a SAS, além de estender sua cobertura global por meio de mais dois satélites até 2019.
Anais Marzo, diretora de marketing no interior de aeronaves da Airbus, a gigante europeia da aeronáutica, afirmou que os passageiros exigem atualmente uma conectividade quase constante com suas redes sociais, contas de e-mail e outros serviços digitais. Contudo, ela afirma que isso não impede o desenvolvimento de opções tradicionais e telas de TV nos assentos, especialmente na business e na primeira classe, onde grandes telas de alta definição já são a norma.
“Cada vez mais pessoas trazem seus próprios aparelhos à bordo”, afirmou Anais, acrescentando que cerca de 60 por cento da frota internacional da Airbus, ou cerca de 16.500 aviões, terão algum tipo de acesso à internet até 2025. Contudo, ter um smartphone “não exclui o uso das telas dos assentos”, afirmou.
Aumento de custos
Outras pessoas não têm tanta certeza. Alguns executivos de companhias aéreas afirmam que os viajantes utilizam cada vez mais seus próprios aparelhos e isso está levando as empresas a repensarem as opções de entretenimento on-line. As pesadas telas nos assentos, aliadas aos quilômetros de cabos de fibra ótica que as conectam, deixam a aeronave mais pesada e aumentam o custo de cada voo.
Vincent Tomasoni é diretor de produtos da XL Airways, empresa francesa que, além de oferecer os novos aparelhos 3D da SkyLights, também aluga tablets para seus clientes. Segundo ele, a capacidade de oferecer conteúdo por streaming no Wi-Fi dos aviões representa uma mudança para muitas companhias aéreas.
Os passageiros podem continuar a usar seus próprios aparelhos e obter acesso a uma variedade muito maior de filmes, programas de TV e de rádio, afirmou, permitindo que as companhias aéreas abram mão do hardware tradicional de entretenimento a bordo, reduzindo o custo e a complexidade desse tipo de serviço. “O mundo do entretenimento nos assentos de avião chegou ao fim”, concluiu Tomasoni.