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Um curioso efeito da recessão pode ajudar os carros autônomos a ganhar as ruas

Veículo da startup nuTonomy, que passou a oferecer em Cingapura viagens de táxi em carros autônomos | /Divulgação
Veículo da startup nuTonomy, que passou a oferecer em Cingapura viagens de táxi em carros autônomos (Foto: /Divulgação)

Dois pesquisadores afirmam que descobriram uma curiosa relação entre os acidentes de trânsito com vítimas fatais e a taxa de desemprego – e este achado pode ter implicações importantes para a próxima geração das tecnologias no setor automotivo, incluindo carros autônomos.

Menos pessoas morrem em acidentes com veículos quando a economia está piorando. Esta é a principal conclusão do estudo feito por Clifford Winston, pesquisador da Brookings Institution, e Vikram Maheshri, professor de Economia na Universidade de Houston.

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Winston e Maheshri afirmam que a cada 1% de aumento no desemprego, as mortes anuais no trânsito diminuem em cerca de 5 mil. O dado por si só já é bastante revelador. Mas mais importante ainda é a razão por trás dessa ligação: isto acontece porque, em momentos de recessão, os motoristas mais imprudentes permanecem longe das ruas, segundo os pesquisadores.

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Como eles chegaram a essa conclusão? Bem, mostraremos as especificações do estudo logo mais. Mas a conexão com carros que dispensam motoristas é clara: se veículos total ou parcialmente autônomos podem ajudar condutores de risco a se deslocar de forma mais segura, poderemos ser capazes de atingir a mesma redução em mortes no trânsito que os pesquisadores observaram durante períodos de economia fraca sem ser preciso, de fato, passar por uma recessão.

O estudo de Winston e Maheshri provavelmente não seria possível sem a utilização de algumas tecnologias avançadas que estão começando a se tornar populares. Eles se basearam em dados da companhia de seguros State Farm, coletados pela empresa por meio de motoristas que concordaram em ser rastreados (provavelmente na esperança de conseguiram descontos em suas apólices).

Este tipo de informação a nível individual deu aos pesquisadores insights demográficos e comportamentais valiosos – permitindo um tipo de análise que não seria encontrada em dados nacionais mais genéricos sobre o total de quilômetros percorridos pelos veículos, uma métrica nebulosa e imprecisa.

Ao entender quantos motoristas têm mais de 60 anos, dirigem carros antigos que podem não ser tão seguros, estiveram envolvidos recentemente em um acidente ou não vivem com uma família – todos fatores de risco –, os pesquisadores puderam comparar o comportamento no trânsito destes grupos em relação a outras estatísticas demográficas. E o que eles descobriram é que os motoristas que se arriscam mais dirigem menos, noção reforçada pelo número de quilômetros percorridos por eles.

Dúvidas

Os dados da State Farm podem ser questionados pelo fato de virem de motoristas que optaram por aderir ao programa de monitoramento da seguradora e que, provavelmente, já são mais cuidadosos do que a média. E os números também são restritos ao estado de Ohio, o que não representa a situação de todo o país.

O estudo também não explica exatamente porque a recessão tem esse efeito sobre as mortes no trânsito: é possível que pessoas de meia idade (adultos entre 45 e 65 anos) que não estão no grupo de risco precisem trabalhar mais em tempos de crise econômica, e portanto tenham que dirigir mais para realizar esse trabalho. Ou que motoristas que estaticamente são mais propensos a se envolver em acidentes saiam menos às ruas porque percebem um risco maior durante momentos instáveis (como recessões).

Mesmo assim, defendem os pesquisadores, os achados ilustram ao menos como diferentes grupos podem se beneficiar de tecnologias de direção autônoma, e dão uma noção de como a adoção massiva desses veículos poderia diminuir o número de mortes no trânsito. A automação de veículos pode efetivamente tirar da rua motoristas imprudentes ou descuidados, substituindo os efeitos do desemprego vistos por Winston e Maheshri no estudo. Essa tecnologia também poderia permitir que esses condutores continuassem participando da vida econômica do país, o que evitariam se precisassem continuar recorrendo aos carros “tradicionais”. Mas aí isso já é assunto pra outra hora.

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