A intenção de compra de consumidores da classe C aumentou nos últimos 12 meses. Em janeiro de 2011, 15% tinham a intenção de gastar mais que no ano anterior; em janeiro deste ano, o índice subiu para 24%. Foi o maior avanço entre as faixas de renda pesquisadas pela Fecomércio-RJ/Ipsos no levantamento Hábitos de Consumo Brasileiro.
Nas classes A e B, a fatia subiu de 25% para 29% e, nas famílias das faixas D e E, a participação cresceu de 13% para 15%. A pesquisa ouviu mil entrevistados em 70 cidades do país. Desse total, 23% sinalizaram interesse em gastar mais neste ano, ante 17% em 2011, impulsionados pela classe C.
O maior interesse da classe média em compras também ajudou a impulsionar o gasto médio do brasileiro com alimentação, higiene e limpeza, que cresceu 14,5% no período, de R$ 365,54 para R$ 418,56, em valores atualizados. "Este movimento de maior ímpeto de consumo da classe C não é novidade. Mas realmente houve um avanço expressivo no início deste ano", afirmou o economista da Fecomércio-RJ Christian Travassos.
O contínuo crescimento da massa salarial do brasileiro, que norteou a migração de consumidores de faixas de renda baixa para mais elevadas nos últimos anos, tem sustentado o consumo da classe C. "O mercado de trabalho continuou aquecido no começo de 2012, e isso facilitou também o acesso ao crédito", disse Travassos, lembrando que estabilidade no emprego é pré-requisito em tomadas de empréstimos.
Reforma de casa
Entre as prioridades de consumo, o destaque na pesquisa foi a reforma de casa, lembrada por 28% dos consumidores da classe C na pesquisa, ante 17% em janeiro de 2011. Este serviço também foi o mais lembrado pelas faixas de renda A e B (24%); e D e E (31%). Além da continuidade de redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre material de construção, prorrogada três vezes, Travassos lembrou a recente linha liberada pelo governo, via Caixa Econômica Federal (CEF), para reformas de domicílio, com recursos do FGTS.
Salário mínimo
Para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Fernandes, o consumo em alta da classe C deve continuar nos próximos anos. "As condições são favoráveis", afirmou. Em 2012, houve aumento real de 7% no salário mínimo, cujo reajuste é indexado à evolução do Produto Interno Bruto (PIB) e à inflação.
O especialista não descarta novos reajustes em patamar próximo ao de 2012. Caso os aumentos do salário mínimo se mantenham, o poder de compra da baixa renda também vai crescer e impulsionar sua migração para a classe média. "E não podemos nos esquecer que a inflação está mais bem comportada este ano. Isso dá um poder de compra maior para o consumidor", afirmou Fernandes.
Na prática, a alteração na composição das classes sociais no Brasil, beneficiada pela política de transferência de renda, também transformou o orçamento do brasileiro, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). "Com o aumento de renda do trabalhador na última década, o consumidor mais pobre desloca gastos para outros tipos de consumo e não os concentra mais, principalmente, em alimentos", explicou o economista da FGV André Braz.