O interesse do consumidor por compras de bens duráveis, como automóveis e geladeiras, em março é o pior em 14 meses. O dado foi divulgado hoje pelo economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes, ao comentar a pesquisa "Intenção de Consumo das Famílias". De acordo com ele, a queda de 6,9% em março ante fevereiro no indicador que mede o desejo do consumidor em compras de duráveis é a mais forte desde janeiro de 2010, neste tipo de comparação.

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Para Bentes, o apetite do consumidor na compra de duráveis diminuiu devido às medidas macroprudenciais anunciadas pelo governo no fim do ano passado, que diminuíram a oferta e restringiram os prazos nas modalidades de crédito no País. Além disso, o especialista comentou que, este ano, ocorre um avanço paulatino da inflação no varejo de uma forma geral, o que inibe o consumo como um todo.

"Mas a principal influência foi a piora nas condições de crédito", disse, lembrando que bens duráveis, por serem mais caros, são costumeiramente comprados de forma parcelada e via financiamento. Além disso, comentou que os juros ao consumidor este ano estão muito mais elevados do que no ano passado. "Creio que podemos esperar que, em 2011, o crédito vai ficar cada vez mais caro, e com prazos cada vez mais curtos" afirmou. Isso deve continuar a influenciar os volumes de compras de duráveis este ano, na avaliação do especialista.

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Mesmo com o esfriamento no desejo por compras de duráveis em março, o ritmo de consumo continua razoavelmente elevado como um todo, na avaliação de Bentes. Ele observou que, a partir dos dados coletados por meio de 18 mil questionários em todo o País, 70% dos entrevistados informaram que estão consumindo mais ou no mesmo ritmo do que no ano passado. "Estamos prevendo uma alta de 6,8% nas vendas do varejo para este ano, nos dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É abaixo da taxa recorde de 10,9% apurada em 2010, mas ainda assim é um bom resultado", avaliou.

Inadimplência

A parcela de famílias endividadas que informaram não ter condições de pagar seus débitos subiu de 7,7% para 8,4%, de fevereiro para março. O dado faz parte da pesquisa "Endividamento e Inadimplência do Consumidor" também divulgada hoje pela CNC. A sondagem de março ouviu 17.800 consumidores no País.

A pesquisa indica que a inadimplência das famílias endividadas pode crescer nos próximos meses, segundo alerta a economista da CNC Marianne Hanson. "Este é um indicador antecedente. Se esta parcela está subindo, pode ser que tenhamos um aumento no nível de inadimplência nos próximos meses", afirmou.

Na avaliação da especialista, o anúncio das medidas macroprudenciais pelo governo no fim do ano passado explica a dificuldade maior do brasileiro em pagar suas dívidas em março. Ela comentou que as decisões do governo ajudaram a restringir a oferta de crédito, além de diminuir os prazos de financiamentos. "Com isso, também houve uma piora, para o consumidor, nas modalidades de renegociação de dívidas a prazo", disse.

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Para Marianne, o cenário de inadimplência no País só não conta com pioras mais significativas no momento devido à continuidade no cenário positivo no mercado de trabalho, que continua com boa oferta de abertura de vagas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Ela lembrou que, no início do ano, o custo de vida do brasileiro aumentou devido ao avanço da inflação, o que diminuiu o poder aquisitivo do consumidor, bem como sua capacidade de quitar débitos.