Em 1993, quando Don Tapscott começou a estudar o impacto da internet no comportamento dos jovens, a rede ainda era um lugar de "geeks, radicais e visionários", como ele mesmo diz. Mas naquela época, seu filho Alex, então com 7 anos, mostrava um conhecimento invejável do meio digital e havia deixado as cartas de lado: mandara um e-mail para o Papai Noel. Um prodígio, achou o pai até descobrir que, na sua escola, Alex era a regra e não a exceção. "Foi aí que vi que um fenômeno diferente estava acontecendo com aquelas crianças."A curiosidade o fez explorar o tema em Geração Digital (ed. Makron, 1996), uma das primeiras obras sobre como a internet estava alterando a maneira de pensar daqueles que cresciam junto dela. "A juventude de hoje é a primeira a nascer banhada em bits, ou cercada de tecnologias digitais. Hoje, eles são adolescentes ou jovens entre os 14 e os 32 anos, que passam grande parte do tempo na internet. Isso influencia todas as facetas de suas vidas o local de trabalho, a escola, a família. Pelo mundo todo, essas pessoas estão mudando as relações de trabalho, o mercado e praticamente qualquer outro nicho da sociedade", diz.
Com a web 2.0, o salto foi ainda maior. Em A Hora da Geração Digital (Ed. Agir. R$ 69,90), recém lançado no Brasil, Tapscott argumenta que, agora adultos, eles levarão a lógica colaborativa da web a uma nova etapa. Para descobrir como nativo digital pensa, o autor realizou uma pesquisa de US$ 4 milhões com a nGenera (sua empresa de identificação de tendências), entrevistando mais de 10 mil jovens em 12 países.
"A colaboração em massa está apenas começando. Empresas podem projetar e montar produtos com seus clientes. Cientistas e médicos podem reinventar a ciência em código aberto, oferecendo seus dados e métodos para que todo interessado no mundo possa ajudar no processo de descoberta. Mesmo os governos podem envolver-se, transformando a prestação de serviços públicos e envolvendo os cidadãos na criação de leis e de políticas públicas", acredita.
Mas será mesmo que uma mídia pode mudar tanto as pessoas e, assim, a sociedade? Fruto da geração Baby Boom (nascidos no pós-Segunda Guerra Mundial, nos EUA), Tapscott cresceu com pais que viam 22 horas semanais de tevê e criaram filhos que ficam de oito a 33 horas conectados. Para ele, a mudança de comportamento veio em decorrência da transição de plataforma.
A tevê é um meio de transmissão passivo. Já a internet convida a colaborar, participar, criticar. "Eles estão abandonando a televisão e sua comunicação unilateral, em busca de uma comunicação dinâmica. Sentar calado na frente de um aparelho ou de um professor não tem mais apelo", diz. Isso porque eles pensam de maneira diferente. "Eles aprendem mais com experiências não sequenciais, interativas, dessincronizadas, multimidiáticas e colaborativas", diz o professor da Universidade de Toronto.
Nos últimos 20 anos, neurocientistas encontraram evidências de que o cérebro muda e evolui ao longo da vida. Ele é especialmente adaptável a influências externas nos primeiros três anos de vida, durante a adolescência e nos primeiros anos de vida adulta. Justamente quando aqueles que ele chama de Geração Digital se engajaram na nova mídia.
Para Tapscott, a plataforma fragmentária não os deixou mais burros ou superficiais. Muito pelo contrário. Ele acredita que a web moldou suas mentes ampliando a capacidade de pensar. Amparando-se em dados que mostram que desde 1978 as pontuações de testes de QI vêm aumentando, Tapscott acredita que quem nasceu digital tem mais capacidade de mudar de foco e até de julgar se uma informação é ou não confiável. "Crescer com a internet mudou a forma como a mente funciona. Acostumados ao multitarefa, eles aprenderam a lidar com a sobrecarga de informação. As tecnologias digitais e o desenvolvimento intelectual caminham lado a lado".