O livro Cinquenta Tons de Cinza superou 200 mil exemplares vendidos no Brasil em três semanas. O segundo volume da série, Cinquenta Tons Mais Escuros, ainda em pré-venda, já figura na lista de mais vendidos das principais livrarias. É o título de maior sucesso da história da Inglaterra, com 12 milhões de cópias, superando O Código da Vinci.
Mesmo quando a comparação sai da esfera dos livros, os números da autora britânica E.L. James impressionam. Cinquenta Tons levou 14 meses para conquistar 35 milhões de leitores. Neste mesmo período de tempo, o Instagram ainda contava 15 milhões de usuários o site de fotos é tido como um dos sucessos mais rápidos da internet recente.
Tudo isso que se tornou um dos maiores fenômenos do mercado editorial poderia ter continuado no lugar obscuro onde começou um fórum de internet não fosse a capacidade das redes sociais em magnificar o boca a boca em torno do livro. E.L. James era uma executiva de televisão no Reino Unido quando resolveu fazer uma fan fiction, espécie de ritual on-line em que os usuários reescrevem seus livros favoritos com algumas adaptações. A inspiração de Cinquenta Tons foi a série adolescente Crepúsculo. Pouco tempo depois, em maio do ano passado, a autora lançou o livro como e-book num site australiano chamado Writer´s Coffe Shop, uma comunidade de leitores que também funciona como editora independente.
Aos poucos Cinquenta Tons foi ganhando destaque em blogs voltados para o público feminino até chegar ao DivaMoms.com, site de um grupo de mães que vivem em Manhattan e que convidou a autora para uma palestra em Nova York. Em 3 de março deste ano, o livro atingiu a lista de e-book mais vendido da lista do The New York Times. Como encontrar uma cópia física do livro era quase impossível, demorou pouco para que uma grande editora oferecesse uma bolada pela compra dos direitos do livro quem levou, nos EUA, foi a Random House. No Brasil, por US$ 780 mil (R$ 1,5 milhão), de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o direito é da Editora Intrínseca.
Anne Messite, a editora do livro nos EUA, disse à revista The Atlantic que a velocidade com que Cinquenta Tons atingiu o público é diretamente relacionada à internet. "O boca a boca foi absurdamente amplificado pelas redes sociais, criando o potencial para mudar a cultura dos livros como nada antes", disse. O autor da matéria, Peter Osnos, ex-jornalista do The Washington Post e fundador da editora PublicAffair, diz que agora toda a indústria editorial está buscando maneiras para aproveitar essa revolução, ajudada pela instantaneidade da entrega de um e-book.
Para Sarah Fay, da Paris Review, novos sucessos devem surgir da autopublicação, como foi o caso com Cinquenta Tons, mas a boa literatura ainda precisa de editores, revisores, agentes, designers e relações públicas. "A revolução da e-publicação vai continuar e podemos esperar mais livros como Cinqüenta Tons de cinza, mas não se surpreenda se nenhum Whitman [Walt Whitman, pai da poesia americana] aparecer em breve", escreveu Fay.