O início do processo de redução de compras de ativos financeiros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), somado a problemas na gestão fiscal do Brasil, risco de rebaixamento do rating soberano e inflação elevada, deve gerar fortes pressões sobre o câmbio no curtíssimo prazo, avalia o ex-diretor do BC e atual sócio do banco Brasil Plural, Mário Mesquita.

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Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado ele avaliou que esse contexto deverá levar o Banco Central a estender o programa de intervenções no câmbio para todo o ano de 2014. Ele prevê que o real alcance R$ 2,50 no final do próximo ano, mas diz que, "se o BC resolver economizar intervenção", essa taxa poderá ser atingida "bem mais cedo". Segundo ele, agentes do mercado internacional já voltaram a falar na hipótese de o dólar chegar a R$ 3, o que, segundo ele, não pode ser descartado para os próximos anos. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O relatório de inflação adverte que os preços administrados podem ser uma fonte de risco para a inflação no curto prazo. Qual a avaliação do senhor sobre a percepção do BC relativa ao IPCA?

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A comunicação recente do BC, feita pela ata da última reunião do Copom e pelo relatório de inflação de dezembro, abre espaço para o Banco Central subir a taxa de juros num ritmo mais lento. A visão do Brasil Plural é a de que vêm mais duas altas de 0,25 ponto porcentual cada, levando a taxa para 10,5% em fevereiro. Quando o BC menciona defasagens de política monetária, que demora um tempo para os efeitos da política ficarem evidentes nos dados, é uma indicação de que está levando em consideração reduzir o ritmo do aperto monetário. Se ele vai conseguir parar em fevereiro ou se continuará elevando os juros depois a gente vai ver.

E qual seria seu viés para os juros no curto prazo?

É subirem mais e ficarem acima de 10,5%. Pode ser 0,50 a 1,0 ponto porcentual a mais. Em função da depreciação cambial, que pode gerar uma outra rodada de repasse (à inflação) e também da questão dos preços administrados. O governo, de certa forma, está sem margem de manobra para continuar reprimindo os preços administrados ou interferindo diretamente no sistema de preços. A situação fiscal é desafiadora. A gente está perseguindo meta de superávit primário muito com base em receitas extraordinárias. A margem do Tesouro ir oferecendo esses subsídios a torto e a direito para controlar a inflação está diminuindo, o que adiciona incerteza para o panorama inflacionário à frente.

Quais as chances da compressão dos preços administrados feita pelo governo levar as expectativas de inflação para cima?

Isso já está dificultando o Banco Central trazer as expectativas de inflação para baixo. Todos os economistas que vivem de fazer projeção de inflação estão cientes que há 1 ou 1,2 ponto porcentual de inflação cheia que não aparece, porque os governos federal e regionais intervêm nos preços. Além disso, há a questão do tapering (redução de compra de ativos) pelo Fed. Ele sinaliza que o mundo está caminhando para a normalização, o que significa que a taxa de juros lá fora não vai mais ser zero. Não que a taxa básica nos EUA vá subir logo, pois o Federal Reserve avalia que só subirá em 2015, mas as taxas de mercado vão se ajustando antes. E o tapering só foi anunciado, pois começa em janeiro. Eu achei que a leitura inicial do mercado foi exageradamente otimista. Estamos vendo um reequilíbrio de opiniões. E isso vai tornar a vida das autoridades um pouco mais complicada.

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Em que sentido?

Nós tivemos nos últimos anos uma configuração internacional extremamente favorável ao real: juros zero nos EUA e a China liderando a recuperação da economia mundial. Estamos entrando numa conjuntura internacional diferente. Os quatro grandes blocos da economia mundial estão crescendo: China, EUA, União Europeia e Japão. Essa conjuntura é menos favorável para o real. A discussão que os economistas e investidores têm – eu passei 10 dias visitando investidores no exterior – é de depreciação do real. A questão é quão rápido isso vai acontecer. Lá fora voltou-se a comentar sobre taxa de câmbio a R$ 3,00. Isso é uma coisa que há muito tempo eu não escutava. Não dá para descartar que nos próximos anos nós veremos essa cotação. É um mundo diferente, mais equilibrado, no qual as economias maduras têm uma performance econômica mais forte, taxas de juros mais elevadas. E isso terá implicações nos termos de troca, que provavelmente não serão tão favoráveis como têm sido até agora. E também para a capacidade de atrair fluxos de capitais. Não é um desastre. É só uma conjuntura diferente que requer preços relativos diferentes.

O senhor avalia que o câmbio vai registrar uma forte depreciação em 2014?

Nós achávamos que o câmbio terminaria neste ano em R$ 2,30 e está com jeito de que deve encerrar 2013 mais perto de R$ 2,40. Para 2014, estamos com o câmbio terminando em R$ 2,50, mas acreditamos que o BC vai ter de intervir além de junho. A gente acha que as intervenções provavelmente deverão ocorrer no próximo ano inteiro. Se o BC resolver economizar intervenção, aí a gente vai testar essa taxa de R$ 2,50 bem mais cedo.

Por que essa extensão do programa de intervenção do câmbio pelo BC será necessária?

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Pode ter um componente eleitoral, mas é mais a mudança do cenário internacional, o que não vai ocorrer somente em seis meses.

Quanto deverá subir o IPCA em 2014?

6,40%.

O BC impedirá que o câmbio passe dos R$ 2,50 para evitar o estouro do teto da meta de inflação no ano que vem?

O Banco Central está oferecendo hedge para o mercado. Um efeito dessa política é mitigar o risco inflacionário de uma nova rodada de depreciação do câmbio. Aí pode perfeitamente superar o teto. Se por alguma razão, o câmbio for para o patamar de R$ 2,60 ou R$ 2,70, nós teremos novas pressões inflacionárias, derivadas de um possível repasse cambial, que tende a levar a inflação para cima do teto da meta.

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O senhor espera melhora fiscal em 2014?

Há reportagens de vocês e de outros órgãos segundo as quais o governo poderá anunciar uma nova meta fiscal, crível, uma meta para o superávit e/ou para a dívida bruta. Isso é muito importante, mas não foi anunciado e é uma expectativa.

O senhor prevê rebaixamento do rating do Brasil em 2014?

Sim, a não ser que a política fiscal seja reforçada. Vamos esperar esse anúncio que eventualmente o governo vai fazer no início do ano que vem.

O que o governo deveria adotar para acalmar o mercado?

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Tem de ter uma meta para o superávit primário sem receitas extraordinárias, sem contar com operações triangulares, essas criatividades contábeis. Aparentemente 1,8%, 2% do PIB. Mas deveria ter uma meta ou teto para a dívida bruta. Idealmente um teto declinante para a dívida bruta, que não é pequena para um país emergente. Quanto à natureza do ajuste, a nossa carga tributária já é bastante elevada para um país emergente. A ideia é ter um ajuste do lado da despesa.