A agência Moody’s rebaixou a nota da Petrobras na semana passada para grau especulativo, o que derrubou as ações da empresa.| Foto: Antonio Lacerda/EFE

O nome é eloquente, mas o selo de “grau de investimento” concedido por agências de classificação de risco a empresas – como a Petrobras, que o perdeu parcialmente na última semana – não assegura a confiabilidade nem o retorno de aplicações. Especialistas recomendam que o indicador seja relativizado e combinado com outros fatores para a escolha de um negócio, como debêntures e ações.

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Entenda o rating de crédito

Saiba como funciona a atribuição de notas de risco e que importância isso tem:

O que é

É uma nota que agências de classificação de risco atribuem à capacidade e à disposição de um emissor (empresa ou governo) honrar no prazo determinado as dívidas que têm. Há classificações para curto e longo prazo, e em nível nacional e internacional – estas, dividem-se em moeda nacional e estrangeira.

Quem faz

Há diversas agências de rating no mercado. As três principais, em nível mundial, são Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s.

Como é feito

As agências têm metodologias próprias. Em linhas gerais, reúnem e analisam informações da saúde financeira do emissor, do mercado em que ele atua e da economia como um todo.

Classificação

Cada agência tem uma escala própria de notas, que combinam letras (de A e D) e códigos (números e símbolos positivo ou negativo) para determinar a nota de cada emissor.

Principais efeitos

Aumento dos custos de financiamento da empresa e perda de credibilidade com agente do mercado. Possível oscilação na Bolsa de Valores e perdas para carteiras de investimentos que detêm o ativo.

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A chancela é concedida a organizações consideradas detentoras de boa capacidade e vontade de honrar compromissos financeiros no prazo estabelecido, nacional ou internacionalmente – o que não significa, porém, que irão fazê-lo. Para conquistar o título, elas precisam ser alocadas na metade superior de escalas com cerca de 20 posições que as agências utilizam para classificar o potencial de quitação das dívidas. Quem se situa abaixo dessa faixa, recebe o conceito de “grau especulativo”.

O analista Alex Agostini, da agência Austin Rating, explica que a nota é um indicador do perfil da dívida da empresa, a partir de uma metodologia específica, e que não deve ser tomado como recomendação de investimento. Um dos fatores para o descompasso é o horizonte das análises das agências, cujo viés de longo prazo pode ser incompatível com as perspectivas do investidor.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) define o rating como uma “atividade de opinar” –sujeita a erros, portanto. Há casos conhecidos – como os dos títulos subprime americanos, responsáveis pela crise imobiliária de 2008 – em que as agências falharam ao atribuir notas altas a dívidas que mais tarde seriam desonradas. No Brasil, bancos que entraram em processo de falência passaram por situação semelhante.

Presidente da FTI Consulting, Eduardo Sampaio diz que é saudável que a nota de crédito seja considerada na análise para a alocação do dinheiro, mas que é preciso priorizar variáveis como o perfil do investidor, em especial objetivos e tolerância ao risco. No caso da Bolsa de Valores, mesmo que se opte por ações de empresas com “grau de investimento”, a ameaça de perdas sempre é alta, dada a natureza volátil desse mercado.

Outros investimentos

Duas áreas impactadas pelas notas de rating são as de fundos de pensão e de investimentos, que utilizam em seus critérios de aplicações as notas de crédito, já que a legislação determina avaliação de riscos. Assim, a perda de um “grau de investimento” pode determinar a saída de determinado ativo das carteiras.

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As agências também atribuem notas a aplicações como debêntures e fundos de investimentos com destaque para o Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.

Mais um rating importante, com impacto em toda a cadeia financeira, é o soberano, que mede a capacidade de um país honrar suas dívidas. Atualmente, o Brasil tem grau de investimento nas três principais agências classificadoras, duas delas no nível limite para perder o título.

Risco de Petrobras sofrer novo revés em avaliação é grande

Embora o rebaixamento da Moody’s já tenha impactado a Petrobras, a situação da empresa ficará mais complicada caso as agências Fitch e Standard & Poor’s sigam o mesmo caminho e retirem o grau de investimento da estatal. Quando ao menos dois dos três avaliadores atribuem o mesmo conceito, o impacto no mercado é maior – há fundos de pensão e de investimentos que excluem a empresa de seu rol de investimentos. A corretora XP divulgou, em comunicado, que a considera grande a probabilidade de isso ocorrer.

O principal efeito para a petroleira é o aumento de custos para o financiamento, já que a empresa tende a perder aportes do mercado financeiro e pagar juros mais altos para obter empréstimos, dado o risco maior que oferece ao credor. No caso da Petrobras, o quadro se agrava porque o nível de endividamento da estatal é bastante elevado.

Uma consequência secundária ocorre no mercado acionário, com é a redução da confiança dos agentes do mercado, que se inclinam a depreciar o valor dos papéis da empresa. “Com a perspectiva de captar recursos com taxas maiores, a empresa embute risco maior aos seus credores”, explica Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos.