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O governo brasileiro demonstra que está em uma força tarefa para reconquistar os investidores e atrair capital para aportes no setor produtivo do País, mas ainda há resistência desses agentes para embarcar nas propostas. Segundo o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, os investidores ainda estão mal humorados com o Brasil.

"O mau humor começou no IOF (sobre renda fixa). Quando mexe no bolso, o pessoal vira bicho. Aí a inflação sobe, o crescimento não vem, mudam as regras para as elétricas" disse, mencionando fatores que se somaram ao longo do tempo e pioraram a disposição dos investidores em relação ao Brasil.

Ao olharem as opções, Goldfajn considerou que esses empresários se sentem "mais confortáveis" com países como Peru, Chile e México, "onde o crescimento está surpreendendo para cima e a inflação está surpreendendo para baixo". Nessas economias, explicou, a taxa de investimento maior é consequência de uma política de longo prazo. "Eles não consumiram todo o ganho da época do boom e geraram condições para o investimento aumentar", disse, lembrando que o Brasil, por sua vez, optou por distribuir renda e ampliar o mercado interno.

Ao mesmo tempo, esses países abriram suas economias ao exterior de forma importante, o que colocou a produtividade e a competitividade como base do crescimento, quesitos que no Brasil são pontos críticos atualmente. Há ainda, salientou, o benefício de bons acordos comerciais que garantiram a sustentabilidade do comércio exterior mesmo em tempos de preços de commodities mais baixos, enquanto o Brasil segue amarrado ao Mercosul. "Isso está fazendo diferença agora."

O economista acrescentou que os investidores também estariam num processo de "esperar pra ver" se a retomada da economia se concretiza efetivamente e para onde vai a política econômica do governo em relação a desonerações e estímulos setoriais. "Tem vários itens que importam para cada setor que faz com que haja uma situação de espera", afirmou. O impasse sobre quando e como mudará a política monetária pesaria pouco para as decisões de investimento. Segundo ele, importa mais para esses empresários saber que o BC atuará para controlar a inflação do que o tamanho e a hora dessa atuação sobre a Selic.

Perspectivas

Mesmo com um cenário de crescimento de 3,5% e inflação pouco abaixo de 6%, o economista-chefe do Itaú comentou que também há investidores estrangeiros que olham para essas previsões do Itaú e enxergam "um copo meio cheio", ou seja, com otimismo. Isso seria explicado por uma situação de PIB melhor ante o de 2012 e quadro inflacionário que não estaria "explodindo" o teto da meta. "Eu diria que nós temos um cenário médio, morno."

Ele lembrou que a taxa de investimentos no Brasil já subiu no último trimestre de 2012 e deve subir de novo nos primeiros três meses deste ano. Ainda assim, a previsão de crescimento para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é tímida e deve se ampliar como proporção do PIB, de 18,1% para 18,6%, "retomando ciclicamente o que perdeu no ano passado".

Como perspectiva apaziguadora do desânimo desses investidores, Goldfajn citou a iniciativa do governo de apresentar em Nova York e Londres seus projetos de investimentos com taxas de retorno mais atraentes. O economista, que também participou de reuniões paralelas organizadas pelo Itaú na ocasião, disse que ampliar a taxa de retorno dos projetos foi "fundamental" para despertar o interesse e mostrar que são projetos viáveis.

Sobre o fundo que o governo quer criar para que os bancos emprestem mais nesses projetos, o economista observou que está sendo avaliado no mercado e que o Itaú estaria disposto a entrar na proposta desde que tenha as mesmas condições de taxas dos bancos públicos. "Mas o governo tem dúvidas sobre isso."

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