Há três anos, prestes a chegar aos 70, Luiz Octavio Correa decidiu parar de empreender, vender sua empresa de guarda móveis e viver dos rendimentos de aplicações financeiras. Para isso, distribuiu o dinheiro da venda em produtos de renda fixa, mas reservou 10% para se aventurar sozinho na Bolsa pela primeira vez. Assim como Correa, o contador aposentado Toshihiko Moriya é um investidor maduro. A diferença é que ele começou por volta dos 50 anos na renda variável e hoje, aos 72, usa dos dividendos de algumas blue chips (empresas mais negociadas) para complementar seu plano de previdência.
LEIA TAMBÉM: Retorno médio na Bolsa brasileira fica abaixo do Ibovespa. E o problema não é a bolsa
As aplicações em Bolsa de Correa e Moriya fazem parte do gordo montante de R$ 79,4 bilhões nas mãos dos investidores com mais de 66 anos. Apesar de dividirem espaço com os mais jovens, que têm investido mais em ações e aumentado sua participação na B3 nos últimos tempos, esses investidores mais velhos ainda concentram o maior estoque – mesmo sem ter o maior número de contas.
A faixa etária detém quase metade (44,65%) do montante em Bolsa, distribuído por 106 mil contas. A faixa dos 36 aos 45 anos, com 179,9 mil cadastros, tem apenas R$ 20 bilhões ou 11,34% do total.
Apesar de contrariar a lógica de que os mais velhos deveriam concentrar seu patrimônio em aplicações mais conservadoras, o professor da B3 Educação, Luiz Pardal, explica que é nessa faixa de idade que as pessoas conseguem casar dois fatores fundamentais para aplicar em ações: tempo e dinheiro.
LEIA TAMBÉM: Quer viver da Bolsa? Traders revelam que técnica não é o mais importante para isso
Entre os 30 e 40 anos, mesmo ganhando mais, as pessoas destinam montantes maiores para outros projetos de vida, como a aquisição da casa própria ou um curso no exterior, além de terem menos tempo para se dedicar à Bolsa, que exige conhecimento mais técnico sobre investimentos.
“Há um ano eu parei de trabalhar, então hoje acompanho os balanços com mais calma. Gosto de recortá-los dos jornais e ficar estudando as empresas com atenção”, diz Moriya, que já chegou a ter ações mais arriscadas, mas hoje prefere as empresas mais sólidas, que não oscilam muito e pagam dividendos regularmente.
Além do tempo e dinheiro como aliados, Correa acrescenta que a experiência como empresário também o ajudou a decidir investir em renda variável. “A vida toda eu tomei decisões em cima de muitos riscos - e Bolsa é isso. Além da experiência, hoje tenho mais paciência e maturidade que não tinha quando mais jovem.”
Walter Cestari, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), explica ainda que a renda acumulada nessa faixa de idade deixa as pessoas mais confortáveis para tomar mais riscos. “Quem tem 66 anos pode arriscar mais porque já tem sobras, é aposentado, não tem de se preocupar com faculdade do filho. Quem tem 35 anos tem mais medo de quebrar e arruinar a vida financeira.”
Outro fator que ele aponta como motivo para concentração do volume na faixa etária dos maiores de 66 anos é a diminuição da renda per capita em razão da queda do PIB. Em anos de PIB per capita maior, os mais jovens conseguem investir e diversificar mais seus investimentos.