Os investidores chineses preparam-se para mais volatilidade no mercado acionário e no cambial nesta semana, após uma crise de confiança no gerenciamento da economia por Pequim causar turbulências nos mercados nos primeiros dias de negociação de 2016. No topo da lista de desejos dos investidores está uma maior clareza do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) sobre sua política para o yuan e uma melhor comunicação do regulador do mercado de ações do país.
As ações na China recuaram 10% na última semana, enquanto Pequim permitia uma desvalorização maior que a prevista do yuan ante o dólar. A postura da China gerou mais preocupações entre os formuladores de política monetária sobre a condição econômica desse país.
Investidores e operadores também ficaram confusos com o novo sistema de circuit breaker, segundo o qual as negociações seriam encerradas no dia sempre que um índice acionário do país recuasse 7%. Na quinta-feira, as bolsas de Xangai e Shenzhen fecharam apenas 29 minutos após abrir, em meio a uma frenética onda de vendas de papéis.
Em Hong Kong, a queda semanal da bolsa foi de 6,7%, puxada pelas companhias chinesas listadas ali. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 6,7%, seu maior declínio semanal porcentual desde 2011. Em Nova York, o índice Dow Jones recuou mais de mil pontos, ou 6,2% na semana.
Sem medidas específicas de política atualmente previstas, investidores observam qualquer declaração de autoridade chinesa que possa mudar as avaliações.
“O mercado deve recuperar parte das perdas nesta semana, mas isso depende de quão bem o regulador pode restaurar a confiança do investidor”, afirmou Deng Wenyuan, analista da corretora Soochow Securities, sediada em Suzhou. “Não será fácil.”
As ações se recuperaram um pouco na China na sexta-feira, após a Comissão Regulatória de Ações do país informar na quinta-feira que continuará a restringir a possibilidade de que os grandes detentores vendam seus papéis. Além disso, o órgão também suspendeu o funcionamento do novo sistema de circuit breaker.
Ainda assim, a confiança entre o exército de investidores do varejo que domina os negócios nos mercados chineses segue fraca. Um deles, a investidora Jiang Binbin, disse que as coisas aconteceram tão rápido que ela não conseguiu reduzir o montante de três ações que possui listadas em Xangai e Shenzhen antes da interrupção dos negócios. “O sistema é cheio de brechas que os especuladores podem explorar”, afirmou ela. “No curto prazo, certamente me manterei afastada - isso é provavelmente a melhor coisa a se fazer, em um mercado onde o regulador muda muito de posição.”
Na sexta-feira, o PBoC orientou o yuan para cima pela primeira vez em nove sessões, por meio da taxa diária para a moeda ante o dólar, interrompendo uma série de dias em que o banco central deixou a divisa se desvalorizar. O PBoC estabelece a taxa de paridade do yuan ante o dólar a cada manhã, deixando que a moeda flutue 2% para mais ou para menos no mercado doméstico. Ao mesmo tempo, o yuan é negociado livremente em mercados offshore, onde tem caído fortemente, desde que investidores passaram a apostar que o banco central continuará a deixar a moeda recuar.
Autoridades chinesas enfrentam cada vez mais pressão para ajustar e explicar suas políticas em tempo real, incluindo sua orientação para o yuan. Uma moeda mais fraca deveria, em teoria, fortalecer as exportações chinesas. Mas uma rápida depreciação aumenta o risco de uma guerra cambial global e de mais volatilidade nos mercados financeiros, caso os investidores vejam isso como mais um sinal de vulnerabilidade na segunda maior economia do mundo.
“A política do banco central depende de como o mercado e a economia da China vão, bem como de que maneira os mercados pelo mundo reagem”, afirmou Jiwu Chen, executivo-chefe da corretora VStone Asset Management, sediada em Xangai, que gerencia cerda de US$ 2 bilhões. “Eu não acho que o banco central tenha de nenhuma maneira decidido para onde o yuan deveria ir”, afirmou ele. “Não espero que a política fique estagnada.”
As próximas pistas sobre a condição da economia chinesa serão dadas nesta semana, quando saem dados de oferta monetária e empréstimos a bancos, nesta segunda-feira, e sobre a balança comercial de dezembro, na quarta-feira.
Há uma “forte possibilidade” de que o PBoC coloque mais dinheiro nos mercados nesta semana, após a injeção líquida de 90 bilhões de yuans (US$ 13,65 bilhões) na semana passada por meio de instrumentos de liquidez de curto prazo, na maior operação do tipo em quase um ano, acredita Liu Dongliang, analista sênior do China Merchants Bank.
As ações na China permanecem relativamente valorizadas, apesar da queda da semana passada. Em Xangai, por exemplo, o valor das ações negociadas é cerca de 12,3 vezes superior à receita das companhias, enquanto em Shenzhen essa relação é de 36,3 vezes. Em comparação, em Hong Kong esse valor é oito vezes superior à receita.
A incerteza, porém, persiste, diante da iminência de uma série de novas ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) de ações nos mercados chineses neste ano. Essas listagens foram interrompidas em parte do ano passado, após uma forte queda nas ações chinesas, antes de voltarem a ser autorizadas em novembro.
O regulador do mercado avalia acabar com o atual modelo de IPOs, onde ele deve ou aprovar ou rejeitar todas as novas ofertas, passando para um sistema de registro similar ao dos mercados desenvolvidos. Um modelo do tipo poderia acelerar o tempo para as companhias chegarem ao mercado, mas o momento em que essas medidas podem ser adotadas não está claro. O regulador do mercado disse no fim da sexta-feira que a permissão para novos IPOs dependeria de como o mercado reagisse, dizendo que deseja uma transição tranquila nesse modelo.
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