As operações de compra e venda de ações num mesmo dia, conhecidas como day trade, estão mais difíceis nos últimos tempos. A causa é uma relativa calmaria na bolsa, com oscilações menores nos preços.
A intensidade dessas oscilações é medida pelo índice de volatilidade, calculado pela BM&FBovespa. No mês passado, ele ficou em 19%. Em outubro do ano passado, no auge da crise, chegou a 112%. No primeiro semestre de 2008, antes de o mercado ser afetado pelas turbulências internacionais, andava perto de 35%.
A bolsa está, portanto, um pouco mais previsível agora do que costumava ser. Mas isso não significa que esse dado deva ser interpretado como tendência. "Não dá para ter certeza de que isso vai prosseguir", diz Leonardo Boguszeski, analista do Paraná Banco. Pelo contrário: muitos especialistas Boguszeski entre eles acredita que os preços atuais das ações estão altos demais, e que está para vir uma "correção". Ou seja, uma redução mais ou menos generalizada das cotações, que traria de volta a volatilidade.
Embora deva despertar a cautela dos investidores, essa correção não é uma má notícia (não para todos, pelo menos). Segundo Boguszeski, muitos investidores estão à espera dela, para voltar a buscar ganhos nas distorções de preços geradas. E não apenas no day trade, mas também aproveitando distorções momentâneas de preço. "É aproveitar as distorções de curto prazo para montar uma carteira de obter lucros no longo prazo", observa.
Há razões para esperar uma correção. "A nossa Bolsa está entre as que mais subiram em dólares no ano. E aparentemente há um certo exagero aí, afirma Silvia Baum Ludmer, economista do banco Fator. O Ibovespa, índice que reúne as 64 ações mais negociadas, praticamente dobrou em dólares no ano. Dentre as maiores bolsas do mundo, sempre considerando o resultado em dólares, quem se aproxima mais é a da Rússia, com alta de 81,9%. O Dow Jones, principal índice de Nova Iorque, registra elevação de apenas 9,45% em 2009.
Como os investidores estrangeiros que representam a categoria que mais negocia na Bovespa já tiveram ganhos bastante elevados com as ações brasileiras em 2009, eles têm optado por desacelerar as compras, ao menos nas últimas duas semanas. Ao se retraírem, acabaram por tirar um pouco da intensidade dos pregões. "O mercado está menos agitado, e temos visto o estrangeiro menos presente. Para a volatilidade aumentar, é necessária a entrada de mais dinheiro no mercado, afirma Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.
"O ruim de um mercado muito parado é que os investidores mais agressivos, os especuladores, somem. E esses investidores são importantes para a liquidez do mercado, afirma Bandeira. O que poderia trazer alguma agitação à Bolsa é a retomada dos IPOs (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial, é lançamento de novas ações). Mas esse tipo de operação começou a ser reconsiderada pelas empresas há pouco tempo. A impressão do mercado é que poucas ofertas ocorrerão nos próximos meses.