A economia brasileira parou definitivamente em 2014 e está a caminho da recessão. Ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de toda a renda gerada no país num período) cresceu apenas 0,1%, informou nesta sexta-feira (27) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda nos investimentos foi a principal vilã da atividade econômica e o consumo das famílias, sem fôlego, não conseguiu compensar.
Em 2014, a economia viveu um quadro de “estagflação” – apesar da atividade pífia, o IPCA, índice oficial de inflação, ficou em 6,41%. Para este ano, economistas esperam retração no PIB, alta do desemprego, renda em queda e inflação ainda maior. Levantamento feito pela reportagem com 30 analistas de mercado após a divulgação dos dados do IBGE aponta, na média, para uma contração de 1,0% na economia.
O avanço de 0,1% no ano passado foi menor do que o ritmo de crescimento no número de habitantes. Com isso, o brasileiro ficou mais pobre: o PIB per capita recuou 0,7% em termos reais na passagem do ano, para R$ 27.229. Foi a primeira queda desde 2009, auge da crise internacional.
Questões
“O nosso desafio é criar as condições para retomar o impulso que foi se enfraquecendo em 2014”, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para quem as “questões” por trás da “desacelerada forte” da economia “estão sendo respondidas”. “Há um esforço para que a gente veja mais para a segunda metade do ano uma recuperação do investimento”, completou.
Os investimentos (medido pela formação bruta de capital fixo) recuaram 4,4% ano passado, após uma alta de 6,1% em 2013, e foram os grandes responsáveis pela estagnação.
Como reflexo, a indústria recuou 1,2%, com agravamento da crise na indústria de transformação e o primeiro recuo no PIB da construção desde 2006. Isso mesmo sem os efeitos da crise causada pela Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção envolvendo o setor de construção. “No caso da Lava Jato, o efeito vai ser mais em 2015”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, quando questionada se a operação da Polícia Federal já havia impactado o PIB.
Riscos
“O governo e o Ministério Público precisam fechar acordos de leniência. Sem eles, podemos passar da recessão à depressão”, afirmou o economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor da Unicamp.
Isso aconteceria se uma quebradeira de construtoras criasse problemas nos bancos de menor porte, que poderiam então levar a problemas no sistema bancário, travando o crédito na economia. Bastos defende que as empresas do setor sejam preservadas, pois não há opções de outros agentes para investir em infraestrutura.
Embora no campo positivo, o PIB de serviços teve o pior crescimento (0,7%) desde 1996 e o consumo das famílias (0,9%), a menor alta desde 2003, ritmo três vezes menor do que o avanço de 2013 (2,9%).
Economistas concordam que houve um esgotamento no ciclo de consumo, sobretudo de bens duráveis. Crescimento menor da renda, inflação pressionada e a elevação dos juros reduziram a disposição de consumir, segundo o IBGE – o crédito para pessoas físicas teve expansão abaixo da inflação em 2014.