Visão contábil é limitada, diz especialista
Para o professor João Basilio Pereima, chefe do departamento de Economia da UFPR, a prestação de contas como ela é feita hoje pelo estado traz limitações para se enxergar realmente o que está sendo investido. Para ele, parte dos gastos com pessoal e encargos, por exemplo, também deveria entrar na conta. Mas como? "Trata-se de uma limitação conceitual e não se pode confundir isso com má gestão. É possível implementar uma classificação paralela à contábil para se ter um conceito alternativo de investimento que vá além da conta capital, mas isso será tão polêmico e subjetivo quanto escolhas religiosas e futebolísticas. Um médico de plantão no posto de saúde ou num hospital regional é despesa de pessoal ou investimento em saúde? Provavelmente os dois".
Nada de novas admissões, por enquanto
O ritmo de crescimento das despesas com pessoal e encargos diminuiu de 19% em 2011 ante 2010 para 12% em 2012 ante 2011. Ainda assim, com R$ 14,5 bilhões empenhados no ano passado, o governo está próximo demais dos limites fiscais.
Pelos cálculos da Lei de Responsabilidade Fiscal, a despesa com folha fechou 2012 absorvendo 46,67% da receita corrente líquida. O limite prudencial é de 46,55%. Ao ultrapassar esse porcentual, o poder público fica impedido de reajustar salários e contratar novos servidores.
Já segundo a instrução normativa 56, de junho de 2011, do Tribunal de Contas do Estado, que prevê outra metodologia, a relação entre pessoal e receita líquida está em 53,88%, com limite prudencial em 57% e legal, em 60%.
Seja qual for o parâmetro, as novas contratações, inclusive decorrentes dos concursos para policiais e professores lançados recentemente, dependerão de brechas obtidas com a arrecadação do estado para ocorrer. "Não será diferente do que foi no ano passado. As contratações ocorrerão conforme forem abrindo as janelas para isso", explica Hauly.
Melhor do Sul
Ainda que insuficiente, o investimento do Paraná tem superado os montantes aplicados pelos vizinhos da Região Sul. Santa Catarina, com uma arrecadação de ICMS bastante similar a do Paraná, tem aplicado o mesmo patamar de 0,5% do PIB. Já o Rio Grande do Sul, com uma arrecadação 20% maior, investe menos, cerca 0,23% do PIB.
No ano passado, os investimentos empenhados pelo governo estadual cresceram nominalmente 71% em relação a 2011, atingindo o montante de R$ 1,3 bilhão. Mesmo maior que no ano anterior, no entanto, o número ficou longe do previsto na Lei de Orçamentária Anual (LOA) de R$ 1,9 bilhão e também está aquém do patamar necessário para destravar o Paraná logisticamente.
Como a Gazeta do Povo mostrou ainda em janeiro deste ano, das 55 obras fundamentais para a infraestrutura do estado entre ampliação do Porto de Paranaguá, novo ramal ferroviário de Cascavel ao litoral, entre outras apenas 14 têm projetos prontos ou em alguma fase de execução.
INFOGRÁFICO: Veja os investimentos feitos no ano de 2012
Para a elaboração dos projetos executivos dessas obras e a execução delas, o Fórum Permanente de Desenvolvimento do estado, formado por empresários e entidades como as federações da Indústria (Fiep) e da Agricultura (Faep), estima que seriam necessários R$ 400 milhões e R$ 7 bilhões, respectivamente. "Nesse ritmo de investimentos, porém, o governo estadual levaria 15 anos para destravar o Paraná. É muito tempo", diz o economista e professor da PUCPR, Fábio Tadeu Araújo. Ele usa como base do argumento a parte do montante efetivamente aplicado em obras e instalações R$ 463 milhões, ou 35,5% dos investimentos e no fato de que esse padrão de distribuição se repete historicamente nas contas do estado.
Os analistas observam que, após um ano de contenções como 2011, o governo conseguiu voltar ao patamar médio de investimentos dos últimos sete, mas que isso não é suficiente. "O aumento do investimento de R$ 760 milhões para R$ 1,3 bilhão entre 2011 e 2012, embora significativo, apenas repõe a taxa de investimento num nível médio, que ainda é muito baixo quando confrontado com as necessidades da sociedade. Também não configura mudança estrutural na política fiscal do Paraná", observa o professor e chefe do departamento de Economia da UFPR, João Basilio Pereima. "O montante de investimentos não chega a 1% do PIB do estado. O último ano em que esse nível foi alcançado foi 2006", diz Araújo. Os dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e do portal Gestão do Dinheiro Público apontam uma média de investimentos equivalente a 0,57% do PIB do estado desde 2006.
Na média
Para 2013, a previsão de investimentos é da ordem de R$ 1,5 bilhão, valor alcançável, mas não superável, segundo os analistas. "A estrutura legalmente engessada do orçamento e o aumento das despesas correntes ou operacionais no mesmo ritmo da arrecadação sinalizam que em 2013 poderá ocorrer apenas um investimento mediano", observa Pereima.
DER é o órgão que mais investe no estado
Individualmente, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) é o órgão que mais investiu em 2012, com mais de 68% do montante de R$ 348,6 milhões aplicados pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Seil), a quem é vinculado, e quase um quarto do total aplicado pela administração estadual.
Para o diretor financeiro do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR), Valter Fanini, o dado bom para as estradas do Paraná e detalhado pela própria Seil demonstra o quão de curto prazo é o planejamento do governo estadual e de caráter passivo. "O caminho passivo é aquele em que você espera ter dinheiro para investir e quando ele aparece você faz escolhas para decidir onde. É esse o caminho que tem sido seguido pelo Paraná já há algumas décadas".
Planos
Para Fanini falta iniciativa e um planejamento de longo prazo, que abarque mais que estradas investimentos que são "mais imediatistas" que os em portos e ferrovias e que seja baseado em um profundo conhecimento da dinâmica de geração de cargas no território paranaense. "Com um bom plano de logística que dimensione no tempo e no espaço o que e o quanto será transportado você poderá não só convencer o governo federal da justeza de suas proposições como também atrair investidores privados [que demandarão essas informações]".
"Remendos"
O economista do Dieese-PR Fabiano Camargo da Silva lembra que várias entidades, entre o próprio Senge-PR, Fiep e Faep, já desenvolveram estudos que servem de subsídio ao governo estadual. "Não existe uma política de planejamento de longo prazo no Paraná. Existem alguns remendos, políticas localizadas, focando o curto prazo, na maioria dos casos se limitando a prazo de término de mandato do governador. Isso não é exclusivo deste governo."
Estado pode ter R$ 1,6 bilhão da União neste ano
Como mostrou a Gazeta do Povo na semana passada, dos três estados do Sul, o Paraná é o que vai receber o menor volume de investimentos federais em 2013. Os dados da Comissão Mista de Orçamento apontam R$ 1,6 bilhão para o estado, enquanto o Rio Grande do Sul receberá R$ 2,6 bilhões e Santa Catarina, R$ 2 bilhões. No bolo do orçamento, de R$ 86,3 bilhões, não entram outros R$ 110,6 bilhões em verbas das empresas estatais de Brasília.
Entre os projetos contemplados estão a segunda ponte sobre o Rio Paraná (R$ 77,4 milhões), a aquisição de um terreno ou imóvel para o edifício-sede do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (R$ 50 milhões) e a construção do trecho ferroviário entre Cascavel e Maracaju, no Mato Grosso do Sul (R$ 35 milhões) a possibilidade de um novo ramal do Oeste ao litoral também foi prometida pela ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, desde que o estado corra com o projeto executivo e mostre que traçado é melhor para o trecho.
No horizonte
Ainda em dezembro, no anúncio do novo marco regulatório do setor portuário, o governo federal destinou R$ 984,4 milhões para a construção de um novo acesso rodoviário ao Porto de Paranaguá e um contrato de 10 anos para a dragagem do terminal. Por ora, é isto que existe no horizonte do estado.
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