Brasília - O fluxo de investimentos estrangeiros diretos para o país encerrou o primeiro trimestre do ano com queda de 39%, segundo o Banco Central. Entre janeiro e março, multinacionais colocaram US$ 5,342 bilhões no setor produtivo, em comparação com US$ 8,799 bilhões nos três primeiros meses de 2008. Entre as empresas que puxaram esse recuo, destacam-se as do setor financeiro, um dos segmentos mais afetados pela crise econômica internacional e que, no primeiro trimestre de 2008, havia respondido por US$ 1,403 bilhão em investimentos estrangeiros no país. Neste ano, as aplicações somam US$ 305 milhões (-78%).
Já os fabricantes de veículos se mantiveram entre os que mais atraem investimentos internacionais. No primeiro trimestre, o setor recebeu US$ 1,789 bilhão, o triplo do valor apurado no início de 2008. O resultado, porém, foi influenciado pela venda da fábrica da Volkswagen em Resende (RJ) para a alemã MAN AG, operação que movimentou US$ 1,6 bilhão e inflou as estatísticas do BC.
Transações
Mesmo com a queda nos investimentos diretos, porém, o ingresso observado até agora tem sido suficiente para financiar o déficit nas contas externas. Em março, o saldo em transações correntes que contabiliza a negociação de bens e serviços com outros países ficou negativo em US$ 1,645 bilhão, acima do esperado tanto pelo BC como pelo mercado financeiro, que estimavam déficit de US$ 1 bilhão. Ainda assim, o resultado negativo apurado apenas no primeiro trimestre, que foi de US$ 5,020 bilhões, corresponde à metade do valor observado um ano antes.
O economista Maurício Molan, do Santander, ressalta que a queda no déficit externo é consequência tanto da desaceleração da economia brasileira como da desvalorização do real. A combinação desses fatores, diz ele, foi decisiva para conter alguns itens que vinham pressionando as contas externas, como as remessas de lucros e dividendos para o exterior. "A perspectiva para as contas externas ainda é extremamente benigna. A melhora tem sido muito forte, ainda que tenha sido menos intensa em março", afirma Molan.
No primeiro trimestre, as multinacionais instaladas no Brasil enviaram US$ 3,556 bilhões em lucros para suas matrizes no exterior queda de 59% ante o mesmo período de 2008. Segundo Molan, isso acontece não só porque as empresas estão lucrando menos devido à freada na economia, mas também porque, com a desvalorização do real, as remessas, quando convertidas para dólar, ficam menores.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que já se observa fluxo positivo nos investimentos externos feitos no mercado financeiro doméstico, o que pode ser entendido como um sinal de confiança dos estrangeiros no país. Em março, segundo o BC, as aplicações externas feitas na Bovespa somaram US$ 844 milhões, o primeiro resultado mensal positivo desde maio de 2008 e que praticamente zerou as perdas deste ano.