Após sofrer uma queda de 45% no primeiro ano da pandemia, o investimento estrangeiro no setor produtivo do Brasil aumentou 23% em 2021, informou nesta quarta-feira (26) o Banco Central.
O chamado Investimento Direto no País (IDP) – também conhecido como Investimento Estrangeiro Direto (IED) – somou US$ 46,4 bilhões de janeiro a dezembro do ano passado, ante US$ 37,8 bilhões em 2020.
O valor investido em 2021 correspondeu a 2,89% do PIB, acima dos 2,61% do PIB do ano anterior. Esses valores representam o saldo do IDP, isto é, ingressos menos saídas de capital.
Em seu comunicado, o Banco Central destacou:
- o aumento no ingresso de lucros reinvestidos (de US$ 5,5 bilhões em 2020 para US$ 14,2 bilhões em 2021);
- a alta nas participações de capital - exceto lucros reinvestidos (de US$ 28,1 bilhões em 2020 para US$ 32,2 bilhões em 2021); e
- a queda nas operações intercompanhia (que registraram ingressos líquidos de US$ 4,2 bilhões em 2020 e saídas líquidas de US$ 29 milhões em 2021).
Apesar do crescimento de 23% no acumulado do ano, os valores de 2021 ficaram abaixo dos patamares pré-pandemia. Em 2019, os estrangeiros investiram US$ 69,2 bilhões no setor produtivo brasileiro, ou 3,69% do PIB. Em 2018, foram US$ 78,2 bilhões, o equivalente a 4,08% do PIB.
A estatística do investimento direto não contabiliza dinheiro aplicado no mercado financeiro, considerado de curto prazo, e sim operações relacionadas à "economia real", menos voláteis. Entram no cálculo do IDP os recursos destinados por estrangeiros à compra de empresas, desenvolvimento de produtos, construção ou ampliação de fábricas e outras operações. Por outro lado, as saídas de capital produtivo ocorrem, por exemplo, quando filiais remetem lucros às matrizes no exterior.
Em dezembro, quase US$ 4 bilhões deixaram o país, maior saída da história
Os números do investimento estrangeiro no Brasil pioraram significativamente em dezembro, pois no mês as saídas de capital superaram os ingressos em US$ 3,9 bilhões.
Esse saldo negativo foi o pior resultado mensal da série histórica iniciada em 1995. Saídas líquidas de IDP são muito raras. Antes, apenas dois meses registraram saldos negativos desse tipo de aplicação: julho de 2016 (-US$ 103 milhões) e março de 1995 (-US$ 24 milhões).
Em entrevista coletiva, o chefe do departamento de estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, atribuiu o resultado a um forte aumento nas remessas de lucros para o exterior. Segundo o BC, em dezembro o saldo das transações de participação no capital ficou negativo em US$ 2,3 bilhões, enquanto as operações intercompanhia registraram saídas líquidas de US$ 1,6 bilhão.
Até novembro, o fluxo em 12 meses indicava um IDP de US$ 51,5 bilhões, ou 3,21% do PIB. Com a saída de recursos de dezembro, esses valores caíram para US$ 46,4 bilhões e 2,89% do PIB.
Dados do Banco Central mostram crescimento menor que o estimado pela Unctad
Os dados do Banco Central, que registra todas as movimentações formais de dinheiro estrangeiro no país, divergem das estimativas publicadas na semana passada pela Unctad, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio de Desenvolvimento.
A Unctad também apontou crescimento, porém muito mais forte. Pelos cálculos preliminares da organização, o investimento no Brasil mais que dobrou, aumentando de US$ 28 bilhões em 2020 para US$ 58 bilhões em 2021.
Série histórica do investimento estrangeiro no setor produtivo do Brasil
Confira a seguir a série histórica do investimento estrangeiro no setor produtivo do Brasil, segundo os registros do Banco Central:
Ano | Investimento (US$ bilhões) |
1995 | 4,4 |
1996 | 10,8 |
1997 | 19,0 |
1998 | 28,9 |
1999 | 28,4 |
2000 | 33,0 |
2001 | 23,2 |
2002 | 16,6 |
2003 | 10,1 |
2004 | 18,2 |
2005 | 15,5 |
2006 | 19,4 |
2007 | 44,6 |
2008 | 50,7 |
2009 | 31,5 |
2010 | 82,4 |
2011 | 102,4 |
2012 | 92,6 |
2013 | 75,2 |
2014 | 87,7 |
2015 | 64,7 |
2016 | 74,3 |
2017 | 68,9 |
2018 | 78,2 |
2019 | 69,2 |
2020 | 37,8 |
2021 | 46,4 |
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