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O investimento das empresas começou 2021 em alta. A demanda interna por bens industriais iniciou o ano com um avanço de 1,5% em janeiro, comparativamente ao mesmo período de 2020, aponta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A importação de máquinas e equipamentos no primeiro bimestre foi 2,7% superior, em dólares, à registrada nos mesmos meses do ano passado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Este cenário contribui para as expectativas de um forte crescimento na formação bruta de capital fixa (FBCF) – o principal indicador de investimento. O Bradesco, por exemplo, projeta uma expansão de 7,4% neste ano, recuperando as perdas de 2020.
Apesar da perspectiva positiva, alguns fatores exigem atenção. O ritmo lento de vacinação contra a Covid-19, o avanço do dólar e a expectativa de alta dos juros podem inibir ao menos parte do desembolso esperado.
Expectativas da indústria
Os primeiros números do investimento estão alinhados às expectativas da indústria. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 82% das grandes empresas planejam realizar investimentos em 2021, próximo ao observado nos últimos três anos. Os principais motivos são a melhoria do processo produtivo e a expansão da capacidade produtiva.
“Esta alta sinalização sugere a expectativa de consolidação da forte recuperação da atividade industrial após o período mais crítico da pandemia”, aponta relatório da entidade. Em janeiro, a produção industrial teve um crescimento de 2% em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A expectativa é de que dois terços deste investimento envolvam a aquisição de máquinas e equipamentos. Isso embala os planos do setor para 2021.
Setor de máquinas e equipamentos planeja mais investimentos
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) projeta um investimento de R$ 6,7 bilhões para 2021, um crescimento de 31,6% em relação ao ano passado. E mesmo diante do recrudescimento da pandemia da Covid-19, o presidente do conselho de administração da entidade empresarial, João Marchesan, mantém os números para este ano.
“Observando o impacto da pandemia na indústria de máquinas e equipamentos em 2020, notamos que poucos segmentos foram afetados negativamente. A queda na atividade foi observada apenas no início da crise [abril e maio], quando os setores paralisaram temporariamente as atividades para se adequarem à realidade de maior afastamento social. Isso feito, setores logo normalizaram as atividades e alguns, como aqueles relacionados à agricultura, infraestrutura e bens de consumo não duráveis até superam os números do ano anterior à crise", diz Marchesan. "Nossa perspectiva é de que esse cenário se repita em 2021.”
O segmento de máquinas e equipamentos estima que possa crescer 13% em 2021. Para isto, conta com o bom desempenho da agropecuária, da construção civil e da infraestrutura.
Marchesan também vê impactos decorrentes da desvalorização do real: “Também esperamos que o mercado externo, que em 2020 anulou parte importante do bom desempenho em das vendas, em razão da queda de 23% nas exportações, contribua de forma positiva em 2021.”
Construção civil
Outro segmento que tem peso relevante no investimento e que tem boas expectativas em relação a 2021 é o da construção civil. “Esperamos um crescimento de 5% nos lançamentos e nas vendas”, diz o presidente da Câmara da Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), Celso Petrucci.
A expansão, entretanto, tem algumas condicionantes: a vacinação em massa da população brasileira, o encaminhamento nas reformas e a manutenção dos juros do crédito imobiliário.
Segundo o dirigente, a procura por imóveis está boa. “O movimento começou já no ano passado, pelo Sul e Sudeste, e se estendeu para outras regiões do país.”
As operações contratadas com recursos da caderneta de poupança para construção, aquisição, reforma e compra de material aumentaram 72% em janeiro, contra mesmo período do 2020, aponta a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Foram liberados R$ 12,3 bilhões.
Alta nos juros pode afetar investimento
O cenário de alta nos juros preocupa principalmente o segmento de máquinas e equipamentos. O aumento da inflação vai obrigar o Comitê de Política Monetária (Copom) a mexer na taxa básica, atualmente no mínimo histórico de 2% ao ano. O ponto médio das projeções de bancos e corretoras para o final do ano está em 4% ao ano, segundo o relatório Focus, uma pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central (BC).
Marchesan, da Abimaq, diz que o aumento na taxa tende a tornar o investimento produtivo um negócio relativamente menos atrativo frente às aplicações financeiras.
“Pelo lado do custo do capital, o aumento na Selic tende a tornar os financiamentos ainda mais caros. A forte queda na taxa em 2020 foi pouco sentida pelo tomador final de crédito. Vimos que a substituição da TJLP pela TLP na remuneração do FAT – fonte de recursos do BNDES – deixou mais caro o financiamento oferecido por essa instituição financeira.”
Ele afirma que, como as taxas são atreladas aos juros de mercado, passaram a embutir os riscos políticos e econômicos, que se refletiram em oscilações e altas nas taxas de juro de longo prazo.
Petrucci, da CBIC, avalia que, mesmo com uma alta da Selic para 4% ao ano, não há espaço para um aumento no custo dos financiamentos imobiliários. É que, segundo ele, as instituições financeiras estão trabalhando com uma certa folga. “Há uma ampla disponibilidade de recursos”, diz ele.
Câmbio também preocupa
Outra fonte de preocupação, segundo Leonardo Mello de Carvalho, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, é em relação ao câmbio. As incertezas políticas e econômicas se acentuaram e estão pressionando o dólar. Apesar de a mediana das previsões para a moeda norte-americana estar em R$ 5,25, ela é negociada pouco abaixo dos R$ 5,60 nesta terça (16).
“Isto encarece a importação de bens de capital”, explica Carvalho. Mas, no primeiro bimestre, segundo dados da Secex, houve um aumento nas compras de máquinas e equipamentos. Foram US$ 6,58 bilhões, 2,7% a mais do que na mesma época de 2020.