As empresas estão investindo com maior vigor após os piores momentos da pandemia. Cerca de R$ 154 bilhões em investimentos produtivos foram anunciados no país em seis semanas, entre o início de julho e meados de agosto, segundo levantamentos do Bradesco. Com isso, a demanda por máquinas e equipamentos está em alta. Os fabricantes desse segmento preveem aplicar R$ 7 bilhões em expansão e modernização neste ano, aponta a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A produção setorial cresceu 22,7% nos 12 meses encerrados em junho, comparativamente a igual período anterior, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior taxa de expansão desde março de 2011.
O monitor do PIB, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), indica que a formação bruta de capital fixo, o indicador que mede a expansão da indústria de bens de capital e da construção civil, teve um crescimento de 29,3% no trimestre móvel encerrado em maio, comparativamente ao mesmo mês de 2020. Com isso, a taxa de investimento da economia saltou para 22,1% do PIB, bem acima dos 18% de média histórica registrada desde janeiro de 2000.
Com isso, a Abimaq reviu para cima a expectativa de crescimento neste ano. A projeção é de uma expansão de 18% a 20% na produção. "Não deveremos desacelerar o ritmo. A expansão será menor no segundo semestre por causa da base mais forte em igual período do ano passado", aponta o presidente da entidade empresarial, José Velloso.
A associação observa que a intensificação das campanhas de vacinação em diversos países, combinada com uma importante política de estímulo das atividades, vêm permitindo uma recuperação consistente em diversas economias. Isto acaba favorecendo o aumento das vendas de máquinas e equipamentos.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos (importação mais vendas internas) cresceu 19,7% nos 12 meses encerrados em junho, e a receita líquida total do setor teve um aumento real (já descontada a inflação) de 27,9%, em relação a igual período anterior.
Exportações e emprego em alta
Assim como o mercado interno, as exportações de máquinas e equipamentos estão em alta. No primeiro semestre, elas atingiram US$ 4,1 bilhões, 21,7% a mais do que no mesmo período de 2020.
Os melhores desempenhos da exportação estão nos segmentos de logística e construção civil (alta de 46,7%), máquinas para bens de consumo (33,6%) e máquinas para a agricultura (30,8%). Na divisão por destino, a maior expansão ocorreu nas vendas para a América Latina (crescimento de 41,9%).
O bom momento do segmento se reflete na ampliação no número de empregos com carteira assinada. Junho registrou o 12.° crescimento mensal consecutivo no quadro de pessoal do setor, que agora conta com 357 mil pessoas trabalhando diretamente, 20,8% a mais que no mesmo mês de 2020. O pico de mão de obra empregada pelo setor foi registrado no fim de 2011, com 386,1 mil pessoas trabalhando.
Multinacional japonesa reforça investimento no Brasil
Um dos exemplos de maior vigor nos investimentos vem da multinacional japonesa Nidec, uma das gigantes mundiais na fabricação de compressores para refrigeração e que tem plantas industriais no Norte de Santa Catarina. As unidades estão recebendo um aporte de R$ 110 milhões direcionados à modernização e à expansão das linhas de produção.
“Estamos vendo uma forte demanda tanto nacional quanto internacionalmente”, explica o vice-presidente de estratégia e relações com investidores, Guilherme Almeida. O Brasil, ao lado do México, está sendo alvo, neste ano, dos maiores investimentos do grupo.
Uma nova linha dedicada à fabricação de compressores destinados aos mercados de refrigeração comercial leve e residencial está sendo colocada em operação em Joinville (SC) neste mês, com possibilidade de fabricar mais de 2,5 milhões de unidades ao ano. A capacidade produtiva vai subir para 20 milhões de unidades anuais e estão sendo abertas 200 vagas de trabalho.
Outro investimento está sendo realizado em Itaiópolis, também no Norte Catarinense. São R$ 10 milhões que estão sendo aplicados na instalação de uma linha para fabricação de unidades condensadoras e seladas, além de componentes internos. São 120 novos postos de trabalho e uma ampliação de 25% na capacidade produtiva.
Desafios setoriais
Ao mesmo tempo em que o segmento de máquinas e equipamentos detecta uma forte demanda, há uma alta nos custos de insumos como aço, cobre, alumínio e resinas plásticas. “Buscamos fornecedores alternativos”, diz Almeida, da Nidec. E para completar o cenário, o dólar acumula uma valorização de aproximadamente 30% frente ao real desde o início do ano passado.
Este movimento também favoreceu um processo de substituição de importações no segmento de máquinas e equipamentos. Equipamentos estrangeiros estão dando espaço a nacionais, aponta a Abimaq. O market share dos fabricantes nacionais atingiu 56% do consumo nacional, contra 42,1% em maio de 2020.
A carteira de pedidos corresponde à produção de 12,3 semanas, 37,7% acima do nível verificado em junho de 2020. “Os dados até o mês de junho indicam, no curto prazo, continuidade da expansão das atividades do setor”, ressalta a entidade empresarial.
Outro desafio setorial, segundo o executivo da Nidec, está relacionado à logística. A necessidade de contêineres não está sendo suprida adequadamente, causando atrasos nas entregas de insumos e na saída de bens. Ele aponta que, em alguns casos, os fretes chegaram a aumentar cinco vezes. “Aliado a isso, a inflação de commodities mostrou que o mundo não estava preparado para uma recuperação em V", diz.
Esta é a quarta reportagem da série "O Brasil que cresce", que apresenta alguns dos setores que mais avançam no país. Acompanhe a série neste link.
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