Com o cenário político conturbado e sem perspectiva para a retomada da atividade econômica, os investimentos pesaram sobre o resultado da economia no primeiro trimestre, mostram dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (1º).
Os investimentos recuaram 2,7% no primeiro trimestre frente ao três meses anteriores – o décimo trimestre consecutivo de queda nessa comparação, um recorde na série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada em 1996.
Quando comparando aos três primeiros meses do ano passado, a baixa deste primeiro trimestre foi de 17,5%, o pior resultado para o primeiro trimestre na série histórica da pesquisa do IBGE.
Os investimentos são um dos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico. Incertezas sobre o futuro (como câmbio, juros, inflação, demanda) levam empresários a adiar decisões de ampliar fábricas, comprar máquinas e modernizar.
Desta forma, o tombo foi comandando por uma combinação de menor importação e produção de bens de capitais (máquinas e equipamentos para setores como indústria e agropecuária), além da queda do setor de construção civil.
Fora a iniciativa privada, o governo e estatais federais também tiveram um papel decisivo para a queda dos investimentos. Trata-se neste caso dos efeitos do ajuste fiscal e dos cortes no plano de negócios da Petrobras.
Os investimentos registram agora uma queda de 15,9% no acumulado de quatro trimestres (período de 12 meses).
Já a taxa de investimento foi de 16,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano.
Retomada
Um dos fatores importantes para a retomada dos investimentos é a volta da confiança dos empresários. Em março, o Índice de Confiança da Indústria medido pela FGV atingiu o nível mais alto desde março de 2015, mas o cenário segue de incertezas.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem defendido nos últimos dias que as medidas de redução dos gastos públicos anunciadas pelo governo podem recuperar a confiança dos empresários e os investimentos.
Segundo Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a mudança de governo pode contribuir para melhorar as perspectivas, já que no governo Dilma havia “dificuldade para governar e ausência de agenda econômica”.
Vale lembrar que o resultado do PIB do primeiro trimestre é anterior ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, em 12 de maio deste ano.
“Mas a discussão é que, mesmo que isso ajude, o empresário para investir precisa primeiro renegociar dívidas e pagar as contas. Empresas estão passando por uma séria crise financeira. Há também muita ociosidade a ser preenchida”, disse a economista.
Para ela, os investimentos podem voltar a crescer em algum momento no próximo ano, mas o quadro ainda seria de muitas incertezas.
“Se não houver sucesso do governo em trazer de volta a confiança, se houver boas intenções mas pouca medida concreta, se as pessoas começaram a questionar se o governo Temer vai até o final, podemos vamos ver outra pernada na economia”, disse.
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