Em meio à crise financeira internacional, que tem gerado quedas das bolsas de valores ao redor do mundo e disparada da taxa de câmbio no Brasil, os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira continuaram a subir e, na parcial de janeiro a outubro deste ano, somaram US$ 34,74 bilhões, segundo números divulgados nesta segunda-feira (24) pelo Banco Central. Somente em outubro, o pior mês da crise financeira, os investimentos estrangeiros somaram US$ 3,9 bilhões.
Com isso, mesmo antes do fim do ano, os investimentos estrangeiros diretos atingiram o maior valor da série histórica do Banco Central, que tem início em 1947. O recorde anterior havia sido registrado em todo o ano de 2007, com US$ 34,6 bilhões. A estimativa do Banco Central, até o momento, é de que os investimentos diretos somem US$ 35 bilhões.
Entretanto, com o resultado até outubro e parcial de novembro, este número já está defasado. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, os investimentos estrangeiros somaram US$ 2,35 bilhões em novembro, até esta segunda-feira (24). A previsão para todo este mês é de um ingresso de US$ 2,8 bilhões. Se confirmado o número, os investimentos totalizarão US$ 37,5 bilhões na parcial até novembro - bem acima do recorde anterior de US$ 34,6 bilhões.
Setores e investidores
Por setores, o que mais recebeu investimentos diretos neste ano, segundo dados do BC, foi o de Serviços, com US$ 13,9 bilhões de janeiro a outubro. Dentro deste setor, se destacaram os serviços financeiros, o comércio, as atividades imobiliárias e a construção de edifícios.
A indústria, por sua vez, recebeu US$ 10,7 bilhões em investimentos diretos até outubro, com destaque para metalurgia (US$ 4,7 bilhões), produtos alimentícios, derivados de petróleo e veículos automotores. Já a agricultura recebeu US$ 7,5 bilhões em investimentos estrangeiros, sendo US$ 5,7 bilhões para a extração de minerais metálicos.
Já os principais países que investiram no Brasil, até outubro deste ano, foram: Estados Unidos (US$ 5,7 bilhões), Luxemburgo (US$ 4,26 bilhões), Países Baixos (US$ 3,74 bilhões), Espanha (US$ 2,91 bilhões), França (US$ 2,16 bilhões), Ilhas Cayman (US$ 1,41 bilhão) e Canadá (US$ 1,40 bilhão).
Contas externas
Mesmo com a forte entrada de investimentos estrangeiros diretos, que são voltados para o setor produtivo, a situação das contas externas brasileiras não está tão confortável.
Segundo o BC, o déficit em transações correntes (balança comercial, serviços e rendas) - um dos principais indicadores do setor externo brasileiro - somou US$ 24,7 bilhões de janeiro a outubro deste ano. Somente em outubro, o resultado negativo das contas externas, informou a autoridade monetária, foi de US$ 1,5 bilhão.
Para todo este ano, a estimativa do BC permaneceu em um rombo de US$ 28,8 bilhões nas contas externas. Se confirmado, este será o maior déficit desde 1998, e o terceiro pior número da série histórica da autoridade monetária, que tem início em 1947. Entretanto, o déficit ainda está sendo financiado pelo ingresso de investimentos estrangeiros diretos.
Razões para o déficit
A deterioração das contas externas neste ano, de acordo com a autoridade monetária, está relacionada com a piora da balança comercial brasileira, cujo saldo teve queda, até 16 de novembro, de 37,2%, além do aumento significativo no volume de remessas de lucros e dividendos pelas empresas multinacionais.
De janeiro a outubro deste ano, as remessas de lucros somaram US$ 29,3 bilhões, mais do que o registrado em todo o ano passado (saída de US$ 22,4 bilhões). Além disso, o dólar, que estava mais barato até a piora da crise financeira, em meados de setembro, também contribuiu para a saída de recursos por causa do aumento das viagens, e consequentemente dos gastos, de brasileiros ao exterior.
Conta de capital
No caso da conta de capital e financeira, pela qual transitam os investimentos estrangeiros diretos, as remessas de lucros e dividendos e os investimentos em carteira de estrangeiros (ações e renda fixa, entre outros), o BC informou que foi registrado um superávit de US$ 41,8 bilhões de janeiro a outubro deste ano. Com isso, o balanço de pagamentos brasileiro, que engloba todas as transações do Brasil com o exterior, teve superávit de US$ 15,3 bilhões nos dez primeiros meses de 2008.