Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Indústria automobilística

Investimentos migram do Brasil para a Argentina

São Paulo – Depois de enfrentar fuga de investimentos, a Argentina começa a receber de volta importantes projetos da indústria automobilística. Com o real valorizado, produzir no país vizinho está em média 30% mais barato comparado ao Brasil. Para escapar da crise cambial, montadoras estão transferindo contratos de exportação para filiais argentinas ou intensificando a produção local de carros de maior valor agregado e de componentes para abastecer também as fábricas brasileiras.

A Volkswagen – que há poucas semanas anunciou um projeto de reestruturação no Brasil, que inclui 5,7 mil demissões e o possível fechamento de uma fábrica – retomou projetos no país vizinho. Em 2003, com o fim da produção do Gol, a Argentina não exportou mais nenhum modelo da marca para o Brasil. Este ano a Volks inaugurou na Argentina a linha da SpaceFox, perua derivada do Fox, projeto que consumiu US$ 100 milhões. O próximo produto da família, uma picape, também deve ficar na Argentina. Na estratégia da Volks, pesou a necessidade de equilibrar sua balança comercial para evitar atritos com o parceiro, que adquire do Brasil quase todos os modelos nacionais.

A PSA Peugeot Citroën vai transferir de sua fábrica do Rio de Janeiro para a de Buenos Aires um contrato de exportação de 5 mil unidades/ano do compacto 206 para o México. Com a mudança, o mercado externo passará a responder por 15% da produção da empresa no país, ante 20% no ano passado.

A medida pode se estender para outras montadoras pois as fábricas argentinas, além da diferença cambial, operam com alta ociosidade. "A transferência pode ser feita sem grandes investimentos adicionais", diz Letícia Costa, presidente da consultoria Booz Allen.

A Fiat desativou a produção de carros em Córdoba em 2002. Desde então, mantém no país uma ociosa fábrica de motores e componentes. Agora, vai investir US$ 50 milhões para produzir, em 2007, caixas de câmbio para os modelos da Peugeot e da Citroën feitos na Argentina e no Brasil. Cerca de 30% do aporte é da própria PSA.

A produção local de caixas de câmbio vai passar de 20 mil para 140 mil unidades/ano. A mão-de-obra direta e indireta, hoje de 700 trabalhadores, receberá reforço de mais mil pessoas. Hoje as caixas são importadas da França. Com a produção na Argentina a empresa aumenta o conteúdo de peças feitas no Mercosul, afirma o diretor-geral da PSA no Brasil, Pierre-Michel Fauconnier.

"Momentaneamente, o Brasil não é o país que está na cabeça dos presidentes de grandes empresas na hora de decidir novos investimentos", diz o diretor da consultoria CSM Worldwide, Paulo Cardamone.

Os planos da PSA para a Argentina também incluem o início da produção, em junho, do Peugeot 307 sedã. No primeiro semestre do próximo ano entrará em linha o Citroën C4. Ambos serão vendidos nos dois países e em outros mercados da região. O C4 terá preço próximo a R$ 65 mil e disputará mercado com Renault Mégane, Toyota Corolla, Honda Civic e Chevrolet Vectra, todos brasileiros.

"Estamos dividindo nossos investimentos entre os dois países, com prioridade para modelos médios na Argentina e pequenos no Brasil", diz Fauconnier.

Além do câmbio, a Argentina tem a seu favor o crescimento do mercado de carros. A produção este ano deve ficar próxima a 450 mil veículos, 40% acima de 2005. No Brasil, o aumento previsto é de 4,5%, para 2,5 milhões de unidades.

A Toyota adicionou US$ 70 milhões neste ano à fábrica de Zárate para ampliar a produção de 45 mil para 65 mil unidades anuais dos modelos Hilux. O novo aporte foi feito dez meses após a conclusão do gasto de US$ 200 milhões na linha argentina. No Brasil, a empresa mantém a linha Corolla. Dante Marchiori, diretor de exportações da Ford, diz que a empresa não tem planos de transferência de linhas. "Temos o Focus e a Ranger na Argentina e Ka, Fiesta, Courier, EcoSport e caminhões no Brasil e o intercâmbio entre as duas unidades é equilibrado, apesar das oscilações do câmbio."

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.