Sal na conta
Em 12 meses, comer fora de casa ficou 12% mais caro em Curitiba
Apesar da deflação de 0,37% em abril, a alimentação fora de casa ainda pesa sobre o IPCA de Curitiba no acumulado de 12 meses, em que esse item registra a maior variação média do país (12,22%). Segundo o economista Luciano DAgostini, enquanto a alta nos alimentos reflete os efeitos da sazonalidade e do clima na oferta e demanda de algumas culturas importantes na mesa dos brasileiros, o reajuste no preço dos serviços é consequência do aumento da demanda.
"Com renda maior em razão do baixo desemprego, as pessoas estão experimentando serviços que antes não faziam parte da lista de prioridades, e comer fora de casa passou a fazer parte da realidade de um número maior de pessoas", afirma. Quem trabalha nesta área aproveita o momento para aumentar seus rendimentos e garantir reservas futuras, já que num período de crise são justamente os serviços que sofrem os primeiros cortes. Entre os itens da alimentação fora de casa que apresentaram maior variação em 12 meses estão refeições (11,59%), lanches (12,09%), refrigerante e água mineral (14,41%) e doces (17,17%)
Reajustes em itens que compõem os grupos de Alimentação, Habitação e Despesas Pessoais entre eles, feijão, taxa de água e esgoto, cabeleireiro e manicure influenciaram a alta da inflação de Curitiba e região metropolitana em abril. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da capital fechou em 0,73% no mês, superando a média nacional, que foi de 0,64%, o nível mais alto em um ano. Apesar desse avanço, no acumulado de 12 meses o IPCA de Curitiba recuou a 4,56% em abril, ante 5,09% em março. Esse indicador também diminuiu na média nacional, de 5,24% para 5,1%.
No grupo Alimentação, que possui grande peso na composição do índice, o aumento dos preços de itens como feijão (que subiu 3,96% em abril), hortaliças e verduras (5,71%) e tubérculos e legumes (3,95%) que tiveram a maior alta entre as 11 capitais analisadas contribuiu para elevar o IPCA da capital paranaense.
Os moradores de Curitiba e região também gastaram mais com Habitação, que subiu 1,92% e ficou acima da média nacional (0,80%) e das demais capitais. Nesse grupo, o maior destaque foi o reajuste na taxa de água e esgoto cobrada pela Sanepar, que no mês avançou 11,27% na medição do IPCA. Aluguel residencial (1,03%), condomínio (2,07%) e mudança (1,12%) também elevaram o IPCA da Habitação.
No grupo das Despesas Pessoais, o destaque ficou por conta do reajuste nos serviços. Curitiba registrou a terceira maior alta nesse item (1,67%), atrás de Rio de Janeiro (5,2%) e Belém (1,68%). Serviços de costura (3,38%), empregado doméstico (1,77%), manicure (1,67%) e cabeleireiro (1,43%) foram os itens que mais encareceram no período. Enquanto o reajuste nos preços dos empregados domésticos acompanhou o cenário nacional, o aumento do preço das costureiras em Curitiba foi o maior do país.
Além disso, o cigarro, que registrou aumento de 15,78% em abril, exerceu forte pressão sobre a inflação de Curitiba. Incluídos os demais itens, o grupo de Despesas Pessoais foi responsável pelo maior impacto no IPCA curitibano de abril. Depois do Rio de Janeiro (4,17%) e Fortaleza (2,51%), Curitiba é a capital com maior alta (2,46%).
Análise
Para o economista Luciano DAgostini, professor da FAE Business School, o aumento da inflação de Curitiba é motivado pelo baixo índice de desemprego e pelo aumento da renda em Curitiba e região metropolitana. Segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a capital paranaense tem taxa de desemprego de 4,5%, a menor do país. "Estamos vivendo praticamente em uma situação de pleno emprego", diz DAgostini. Mais emprego significa mais renda e consumo e, portanto, pressão nos preços sobretudo dos serviços.
DAgostini também destaca o aumento da inflação da habitação, que cresce acima da média do IPCA há cerca de quatro anos. "Devido ao bom momento do setor, a inflação da habitação está acima da correção dos salários. Isso é preocupante, porque o nível de endividamento das famílias sobre a sua renda chegou a históricos 42,97%, diante dos 15% registrados em 2005", observa. Segundo ele, o salário que não sobe à mesma velocidade deve funcionar como restrição a novos reajustes, principalmente nos aluguéis.
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