Os preços dos alimentos dispararam em março, fazendo a inflação oficial repetir a maior alta mensal em 11 anos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,92%, mesmo resultado verificado em dezembro passado e maior taxa desde abril de 2003. Tomate, batata, leite e carnes ficaram mais caros, mas as despesas com passagens aéreas e combustíveis também aumentaram, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta nos preços acumulada em 12 meses atingiu 6,15%, aumentando as apostas em um estouro do teto da meta do governo neste ano, de 6,5%. O resultado fez subir os contratos de juros de curto prazo no mercado futuro. Analistas lembraram que o Banco Central (BC) pode se ver obrigado a prolongar o ciclo de aumentos na taxa básica de juros, a Selic.
"Como o BC vem trabalhando com a inflação muito perto do topo da meta, agora não tem espaço nenhum para acomodar algum choque que aconteça, como um problema climático", avaliou Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da consultoria Schwartsman & Associados e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC. O economista enxerga uma grande probabilidade de que a inflação fique em torno de 6,6% ou 6,7% em 2014.
O salto de 1,92% nos preços dos alimentos foi responsável por mais da metade da taxa do IPCA de março. A estiagem prejudicou as lavouras, impulsionando o preço de produtos importantes na cesta básica do consumidor, como tomate, batata, hortaliças, frutas e feijão. O tomate ficou 32,85% mais caro, enquanto a batata subiu 35,05%. A seca atingiu também as pastagens do gado, encarecendo carnes e leite.
"(A alta de preços) Tem influência do clima, mas pode ter influência também de alguma possibilidade especulativa, que só mais para frente, diante dos resultados agrícolas, que a gente vai entender melhor", ponderou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Gasolina
Os transportes também pesaram no bolso do consumidor em março, com aumentos nas passagens aéreas e combustíveis. O etanol subiu 4,07%, com reflexo sobre o preço da gasolina, que aumentou 0,67%. Graças à influência do carnaval, as tarifas aéreas ficaram 26,49% mais caras. O economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Flávio Combat, prevê que as passagens de avião continuarão a fazer pressão ao longo dos próximos meses, já que as companhias do setor devem aproveitar o aumento da demanda por conta da Copa do Mundo. Juntos, transportes e alimentos responderam por praticamente 80% da inflação de março.