O aumento da contratação de pessoas com ensino médio completo e nível superior e a queda da diferença salarial entre essas ocupações e as dos que recebem menores salários mostram que não há escassez de mão-de-obra qualificada no Brasil, revela boletim divulgado hoje (7) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad)-2012.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Gabriel Ulyssea, a falta de mão-de-obra qualificada hoje é pontual, existindo em algumas ocupações apenas. Há uma expansão da oferta de trabalhadores mais qualificados e queda dos salários deles, disse Ulyssea. Então, ressaltou o coordenador da pesquisa, não há compatibilidade entre o aumento do volume (de mão de obra qualificada) e a queda de preços (salários) desses trabalhadores.
Para o presidente do Ipea, Marcelo Neri, que também é secretário de Assuntos Estratégicos, o verdadeiro "apagão no mercado de trabalho" está nas ocupações pouco qualificadas, como trabalho doméstico, construção civil e agricultura. "O grande apagão está na base da pirâmide educacional", disse Neri, destacando a falta desses profissionais no mercado. Ele lembrou que esses trabalhadores foram os que tiveram também os maiores aumentos salariais nos últimos anos.
A renda média, em 20 anos, aumentou 71,62% para quem tinha até três anos de escolaridade e recuou 4,84% para aqueles com 11 anos de estudo, ou mais. Os dados mostram que o país também não se encontra em situação de pleno emprego e que há espaço para expansão da oferta.
"A taxa de desemprego é muito baixa, mas a taxa de participação entre os que estão em idade produtiva e poderiam entrar no mercado de trabalho continua baixa e pode ser ampliada, especialmente entre as mulheres e os jovens entre 15 e 24 anos. Com isso, diminuiria um pouco a pressão sobre o mercado de trabalho", disse Neri. Segundo ele, a queda da participação dos jovens no mercado ocorre desde 2009.
Entre 2009 e 2012, a taxa de participação entre as mulheres caiu 4,2%, contra 2,5% dos homens. Já entre os jovens na faixa de 15 a 24 anos, a queda foi de 5,9%. O estudo revelou também que, no mesmo período, aumentou o número de jovens nessa faixa etária fora do mercado de trabalho e da escola. Cerca de 23,2% dos jovens não estavam na escola, nem trabalhando em 1999, e esse percentual aumentou para 25,7%. Entre as mulheres esse percentual que era de 38,4% e, 1999 passou para 40,6%.
De acordo com o pesquisador, os determinantes dessa situação dos jovens (fora do mercado de trabalho e da escola) precisam ser estudados, mas é possível fazer algumas inferências. "Entre as mulheres, parece que boa parte disso está associada às questões [do período] de fecundidade, das que saem do mercado de trabalho para cuidar dos seus filhos", destacou Ulyssea, citando também a falta de creches de qualidade como uma das motivações para que elas parem de trabalhar. O aumento da renda familiar também pode explicar que alguns membros deixem de trabalhar.
Marcelo Neri apontou como uma das soluções para esse problema investir em educação de alta qualidade e diminuir a diferença de salários entre homens e mulheres.
Segundo o estudo, embora a indústria quenha acumulado perdas de 6 pontos percentuais (de 27% para 21%) na participação do mercado de trabalho, foram quedas menos acentuadas que as registradas em países como os Estados Unidos. Além disso, a indústria brasileira perdeu espaço no emprego total, sobretudo, pela redução do emprego sem carteira nos últimos três anos.
"O emprego com carteira continuou subindo desde 2000, e o que houve foi uma retração do emprego sem carteira. São dados que ajudem a relativizar a magnitude desse processo", disse Ulyssea.