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Mercado de ações

Mais empresas estão indo à bolsa. Vacinação e reformas podem acelerar esse movimento

IPOs
A Eletromidia, de mídia urbana, é uma das empresas que estreou na B3 em 2021. Ações da empresa começaram a ser negociadas neste ano. (Foto: Divulgação/B3)

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O apetite por ações está em alta. Somente neste ano já foram realizados 11 IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) na B3. A última empresa a entrar na bolsa foi a Westwing, uma plataforma de casa, decoração e lifestyle. No ano passado, foram 28. E para os próximos meses, já estão em análise mais 42 novos IPOs, segundo a Associação Brasileira da Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

“Esta fila de emissões aguardando para sair mostra que a alta no mercado verificada no ano passado pode continuar ao longo de 2021”, diz o presidente da entidade, José Eduardo Laloni.

Os IPOs no primeiro mês do ano movimentaram R$ 486 milhões. No mesmo período de 2020, não havia sido registrado nenhum IPO. Mas o apetite por ações vai mais além: as ofertas subsequentes de papéis registraram R$ 5,32 bilhões, 330% a mais do que o verificado em igual período do ano passado.

A princípio, o tombo que a B3 sofreu no começo da semana não deve afetar esse movimento. A desvalorização de boa parte das ações, que puxou para baixo o índice Ibovespa, foi puxada pela percepção de intervenção do governo na Petrobras e em outras estatais. Por enquanto, não há temor de que o setor privado possa ser afetado, muito embora investidores estrangeiros possam, ao menos num primeiro momento, ficar mais receosos em pôr dinheiro no Brasil.

Dois fatores têm pesado para o cenário favorável aos IPOs: os juros reais historicamente baixos e a busca por diversificação por parte dos investidores. Segundo Rogério Santana, diretor de relacionamento com clientes da B3, esta é uma combinação tão poderosa que, mesmo em um período de pandemia e intensa volatilidade nos mercados, houve um volume significativo de ofertas públicas.

“É um dinheiro mais barato para as empresas se financiarem, comparativamente ao crédito”, ressalta o professor Carlos Heitor Campani, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ). Em janeiro, segundo o Banco Central (BC), a taxa média de juros das operações de crédito para pessoas jurídicas chegou a 13,44% ao ano. Foi o quarto mês seguido de alta.

A pandemia também pode ter dado um “empurrão” para os investidores em direção à renda variável, explica ele. “Com as pessoas ficando mais tempo em casa e tendo acesso a recursos online, elas ganharam mais tempo para se informar sobre o mercado acionário.”

Maiores compradores

Os principais interessados na compra das ações colocadas no mercado em janeiro foram os fundos de investimento, com 54,2% do total, aponta a Anbima. Em seguida, vieram os investidores estrangeiros, com 25,5% do total.

Laloni aponta que o apetite dos fundos foi fundamental para manter o mercado de renda variável aquecido em 2020. “É mais um fator derivado dos juros baixos, que incentivam a procura por papéis com maiores oportunidades de retorno”, diz ele.

Outro fator que tem favorecido as ofertas públicas de ações, de acordo com Santana, é a busca por diversificação por parte dos investidores, tanto institucionais quanto pessoas físicas.

“Há uma busca por ativos e oportunidades muito mais ampla e profunda do que em um passado recente. Isto ocorre tanto para investidores institucionais, que buscam alternativas para rentabilizar adequadamente seus investimentos, quanto para os individuais, que estão se educando e se sofisticando cada vez mais”, afirma o executivo da B3.

O controle da pandemia pode ajudar a manter essa tendência positiva. Campani, da Coppead/UFRJ, aponta que a vacinação pode gerar otimismo e favorecer um “boom” de consumo. Mas o executivo da B3 aponta que há espaço para ir além.

“Se essa agenda [de reformas do governo] for sólida, com compromisso com a responsabilidade fiscal e com reformas que permitam que o crescimento seja retomado, há espaço para continuarmos esse desenvolvimento. Se, por outro lado, essa agenda for tímida ou se mostrar insuficiente, o mercado deve refletir os impactos dessas incertezas.”

Campani não acredita que a procura pela renda variável vá se arrefecer mesmo com a tendência de alta na Selic. O relatório Focus, uma pesquisa feita pelo Banco Central junto a instituições financeiras, sinaliza que a taxa básica de juros da economia estará em 3,75% ao ano, no final de 2021. Atualmente, está em 2%.

“É um fenômeno comportamental. As pessoas estão saindo da zona de conforto. Não há razões para elas darem o passo no sentido contrário.”

IPOs: mudança de perfil

A Anbima detectou, neste início de ano, uma mudança no perfil da destinação dos recursos captados. Em janeiro do ano passado, a totalidade dos recursos foi destinada ao refinanciamento de passivos. Neste ano, este item representa apenas 32,1%. A maior parte dos valores captados (61,6%) foi direcionada à aquisição de ativos e a atividades operacionais.

Uma tendência detectada pela B3 é a diversificação de empresas que estão ofertando ações. Em 2020, o protagonismo foi de setores tradicionais, como a construção. “Observamos o fortalecimento de setores, como o varejo, que já estão representados na bolsa, e a entrada de players de outros segmentos, como varejo pet, varejo de material de construção”, diz Santana.

Outros segmentos que vêm entrando no mercado acionário são startups, empresas da chamada nova economia (como brechó online e cashback) e empresas com maior governança ambiental e social (ESG, na sigla em inglês), nas áreas de energia eólica e gestão ambiental.

A diversificação deve continuar em 2021, aponta o diretor da B3. Na fila dos 42 IPOs previstos para o ano estão empresas ligadas aos segmentos de tecnologia, comércio eletrônico e commodities agrícolas.

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