Ministros europeus trabalharam durante o último fim de semana para montar um plano de resgate financeiro da Irlanda. Ao mesmo tempo, o país passou a enfrentar ainda mais pressões para que busque algum tipo de ajuda externa evitando, assim, que os mercados espalhem uma nova onda de turbulência para outros países do continente. O governo irlandês, no entanto, insiste que não necessita desse socorro. De acordo com os políticos de Dublin, os investidores ficarão mais calmos após a apresentação de um plano de austeridade orçamentária, no mês que vem. Eles também argumentam que o país tem dinheiro suficiente em caixa para financiar suas operações até o início de 2011.
O problema é que analistas, investidores e até integrantes do alto escalão de governos vizinhos dizem que esse pacote governamental precisará vir acompanhado de uma promessa de financiamento externo. Só assim, acreditam, o nervosismo do mercado financeiro que empurrou os juros cobrados pelos títulos da dívida irlandesa para níveis historicamente altos poderá ser aplacado. "Há o risco de estarmos diante de uma profecia autorrealizável. Até os desmentidos oficiais são interpretados como a confirmação de que existe algo a ser desmentido", diz um diplomata europeu, que pediu para não ser identificado.
O esforço para reerguer as finanças irlandesas é um sinal de como os governos europeus querem adiantar uma solução para um problema que não apenas mina as tentativas de recuperação econômica traçadas em Dublin, como também põe em xeque outras economias debilitadas do continente Portugal e Espanha, por exemplo. No primeiro semestre deste ano, quando a Grécia estava à beira da inadimplência, uma série de garantias dadas pela União Europeia não conseguiu acalmar os investidores. Um gigantesco fundo de resgate teve de ser arranjado às pressas para estabilizar o país do Mediterrâneo e aliviar a pressão sobre o euro.
Na última sexta-feira, a tempestade nos mercados deu uma trégua após cinco ministros europeus terem dado declarações de apoio à Irlanda durante a reunião do G-20, em Seul. Na mesma ocasião, o ministro das Finanças irlandês, Brian Lenihan, reafirmou a determinação de organizar a economia de seu país. Ainda assim, autoridades europeias acreditam que outras medidas precisam ser adotadas antes da apresentação do orçamento irlandês, no próximo dia 7.
A reação do mercado de títulos públicos foi mais um teste pelo qual o país não passou nos últimos dois pregões, os juros cobrados pelos papéis da Irlanda continuaram subindo. Caso a variação dessas taxas fique mais brusca, um plano de contingência deverá entrar em cena, afirmam autoridades europeias.
Reuniões
Conversas preliminares sobre o pacote de resgate estão ocorrendo. De acordo com uma fonte que participa dos encontros, as discussões do último domingo envolveram ministros e outros membros de alto escalão da UE. Entretanto, segundo informações oficiais de Bruxelas (sede da UE) e de Dublin, a Irlanda não fez um pedido formal de empréstimo e, por isso, nenhum socorro financeiro poderia ser aprovado ou executado.
Um relatório do banco Barclays Capital diz que a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) precisariam levantar cerca de 85 bilhões de euros para sanear as contas públicas da Irlanda, bem como criar um programa de recapitalização dos bancos do país. "As tensões extremas que prevalecem no mercado financeiro e que estão especialmente relacionadas à capacidade de a Irlanda alcançar, por conta própria, uma trajetória fiscal sustentável" indicam que recorrer a um empréstimo da UE "seria, a nosso ver, uma saída razoável", escreveram os analistas Julian Callow e Antonio Garcia Pascual, do Barclays.
Autoridades financeiras da Europa começaram uma reunião ontem para discutir a situação da Irlanda. O debate está programado para se estender hoje, ao longo do dia.
Tradução: João Paulo Pimentel
