Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicanor Duarte, do Paraguai, inauguram nesta segunda-feira (21) as duas turbinas remanescentes da hidrelétrica binacional de Itaipu. Trata-se de um marco histórico para o sistema energético do estado e do país. Com o acionamento das 19.ª e 20.ª unidades, ocorrido em setembro e março, respectivamente, o Paraná passou a aproveitar cerca de 71% de seu potencial hidrelétrico em todo o país, apenas Alagoas exibe aproveitamento maior (88%).
Sem a usina de Foz do Iguaçu, o índice paranaense não chegaria a 30%. O volume gerado por ela em 12 meses seria suficiente para abastecer o Paraná por quase cinco anos. Por sinal, o estado usa apenas uma pequena parte da energia que produz: embora a potência instalada das usinas paranaenses, incluindo as termelétricas e eólicas, represente 23% de toda a potência nacional, o consumo estadual não chega a 5%.
Os 1,4 mil megawatts (MW) de potência adicionados recentemente à hidrelétrica de Itaipu podem abastecer cerca de 4,2 milhões de pessoas, e vão elevar a média de geração anual de 90 milhões de megawatts-hora (MWh) para algo entre 92 milhões de MWh e 94 milhões de MWh. No ano passado, a usina gerou 92,6 milhões de MWh, sendo que 95% dessa energia foi direcionada ao Brasil, e Itaipu respondeu por 21% do consumo total.
Construída durante o regime militar, antes que se exigissem estudos e relatórios de impacto ambiental, a hidrelétrica pôde ostentar o título de maior do planeta por mais de duas décadas. No entanto, ela vai perder o posto para a usina de Três Gargantas, na China onde o regime comunista, assim como ocorreu por aqui durante a ditadura, não demonstra paciência com questões sócio-ambientais que possam emperrar o desenvolvimento econômico.
A potência instalada da hidrelétrica chinesa, de 22,4 mil MW, será bem maior que os 14 mil MW de Itaipu. Entretanto, o nível do reservatório de Três Gargantas não terá a mesma constância que tem o lago de Itaipu regulado pelas 44 barragens que ficam acima, em cinco rios da Bacia do Paraná , e por isso a média anual de geração deverá ficar próximo de 84 milhões de MWh. Ou seja, a maior geradora tende a continuar sendo Itaipu.
As questões que não chegaram a atrapalhar a construção de Itaipu agora emperram uma série de usinas em todo o Brasil. Estudos de impacto ambiental mal-feitos estariam impedindo a autorização para a instalação de boa parte delas. O caso mais famoso é o de duas usinas do Rio Madeira, em Rondônia, que somam 6,48 mil MW, quase metade da potência da hidrelétrica binacional.
Não fosse uma espécie de embargo decretado há quatro anos pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o aproveitamento do potencial dos rios paranaenses seria ainda maior. Ocorre que, à exceção de algumas das hidrelétricas incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo estadual suspendeu a análise de licenças ambientais, que só deve ser retomada no ano que vem.
Se os projetos de 65 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) planejadas no estado deslanchassem, a potência adicional seria de 709,7 MW, energia suficiente para abastecer pouco mais de 2 milhões de pessoas. Contando também com os 1.183,7 MW das seis hidrelétricas paranaenses previstas no PAC, o aproveitamento hidrelétrico no estado atingiria 77%. Naturalmente, a geração de impostos e empregos no estado também ganharia impulso por conta das obras. Mas, de tudo o que está planejado no Paraná, sabe-se apenas que a usina de Mauá (362 MW), no Rio Tibagi, começará a ser construída ainda neste ano.