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Open banking

Itaú quer transformar banco em algo “cool”

Leandro Franco, do Itaú, em evento da Ebanx, em Curitiba. | Alan Cardoso Shynay/Ebanx
Leandro Franco, do Itaú, em evento da Ebanx, em Curitiba. (Foto: Alan Cardoso Shynay/Ebanx)

A Apple foi uma das primeiras empresas a cultivar uma legião de seguidores – fãs da marca que pagam mais caro em seus produtos, entre outros motivos, porque são “cool”. Esta é a lógica que ditou a criação de nove em cada dez startups, nos últimos anos. É também como o Itaú enxerga o seu futuro. O banco quer ser visto pelos seus clientes como um parceiro – que vai trazer soluções para sua vida financeira. E não como um empecilho.

Nos últimos anos pipocaram empresas dispostas a fazer do setor bancário algo “sexy”, como se diz na linguagem das startups. O Itaú sabe disso, e não quer assistir passivamente a estas mudanças. Seguindo uma tendência dos “bancões” ao redor do mundo, a empresa brasileira corre para se converter em um “banco tecnológico”.

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Um dos primeiros passos é fomentar o ambiente de startups, inclusive de fintechs. Em 2015 o Itaú lançou o Cubo, inicialmente como um coworking, e atualmente um dos principais hubs de inovação do país, reunindo startups, grandes empresas, investidores e outros atores que buscam azeitar as relações entre os diferentes personagens no mundo da inovação.

Parte desta migração para o mundo digital ocorre nos bastidores. “A mudança digital não é sobre tecnologia, é sobre pessoas”, resume o superintendente de Produtos Digitais do Itaú Unibanco, Leandro Franco. O que significa uma mudança na cultura da empresa — como flexibilizar o padrão de roupas dos funcionários — e também na lógica de trabalhar em parceria com outras soluções bancárias.

Um exemplo é a carteira de investimentos da conta corrente premium Itaú Personalité, que hoje permite ao usuário aplicar seu dinheiro em produtos que não são exclusivos do Itaú. Pode parecer algo pequeno para quem investe com startups que oferecem até robôs para onde aplicar o dinheiro dos clientes. Para o banco é um passo simbólico, impensável até pouco tempo.

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“É uma forma de eu reconhecer que não tenho mais a exclusividade da solução para o meu cliente, existem outras soluções fora [da minha plataforma”, explica Franco, que conversou com a Gazeta do Povo durante o Ebanx Summit. O evento reuniu nomes da tecnologia financeira da América Latina e do mundo, em Curitiba.

Outras parcerias do banco incluem os pagamentos mobile Samsung Pay e Apple Pay, já disponibilizado para clientes com smartphones compatíveis, e a integração com o Paypal, em processo de implantação, que também envolve a Rede, empresa de “maquininhas” do Itaú Unibanco.

Em paralelo, o banco investe em seus canais digitais. A abertura de novas contas pelo aplicativo, por exemplo, cresceu numa taxa de 200% em um ano, entre os segundos quadrimestres de 2017 e 2018. Já o número de contas abertas em canais tradicionais, como agências, se manteve estável, com pequenas variações de 1% a 2% para mais ou para menos.

A parcela que as operações digitais representam na receita do banco também cresceu. Do segundo quadrimestre de 2016 para o mesmo período, em 2018, o digital saltou de 22% para 20% das receitas totais do banco.

Nova era bancária

Estas mudanças representam um momento de transição do Itaú para uma nova era bancária, em que atores de todo tipo, como bancos, fintechs e até empresas de outras áreas, como varejistas, atuam de forma simultânea e em simbiose. Processo de integração conhecido no setor como “open banking”: a era dos bancos abertos.

Um dos exemplos mais evidentes é a integração de aplicações. Quando o sistema de uma startup consegue se acoplar dentro do software do banco, por exemplo. Na prática, o usuário pode fazer uma transação na sua conta bancária dentro de outro aplicativo; e vice-versa: o internet banking pode incorporar soluções de terceiros dentro do seu ambiente.

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É algo que já ocorre hoje, mediante parcerias pontuais entre uma ou outra empresa. Mas a tendência é que esta abertura cresça de forma exponencial, nos próximos anos. A União Europeia já aprovou uma lei que irá obrigar todos os bancos a abrirem seus códigos de uma forma que qualquer plataforma possa acessar estes dados para oferecer uma solução própria.

No Brasil, o Banco Central já anunciou que vai apresentar um modelo de regulamentação até o final deste ano (2018). Além de adaptar seus modelos de negócios, com iniciativas como as já citadas, Itaú e seus concorrentes trabalham atualmente na tecnologia que vai dar suporte a esta nova era.

Não é algo simples, como meramente disponibilizar para download os milhões de dados que o banco possui para os seus concorrentes. Para garantir a segurança dos usuários e da própria empresa, será necessária uma nova arquitetura de dados, que permita às plataformas se “plugarem” no universo do banco e acessar apenas aquilo que for necessário, em uma linguagem que permita que os dois sistemas dialoguem entre si.

Startups são parte da inovação no Itaú

A proximidade com startups ajuda neste processo de abertura. “Muita gente vê as fintechs como os caras que vão matar o banco. Mas seria arrogante da nossa parte achar que todos os caminhos e todas as soluções [do mundo financeiro] têm que estar aqui dentro. Então [é preciso] investir no ambiente de fintechs”, opina Leandro Franco.

Significa que o banco não precisa sair por aí comprando toda empresa de tecnologia que surgir no ramo financeiro. Pelo contrário. É possível trabalhar em parceria com várias delas (que possivelmente vão oferecer o mesmo serviço para os concorrentes do Itaú), sem precisar incorporar toda a gestão destes novos negócios.

A iniciativa do Cubo facilita este trabalho. Há, hoje, startups que aproveitam a estrutura do banco para testar seus serviços em grande escala; assim como iniciativas do banco incubadas no espaço do Cubo.

O espaço traz também um benefício “intangível” para o banco. “Respirar o mundo do Cubo é por si só uma lição para o dia do banco, com ambientes diferentes, inovadores, cabeças, conexões”, o que tem sido transportado para as mudanças que ocorrem dentro da própria estrutura do banco, diz Franco.

“Se tem alguma coisa que já foi incorporada no core do banco? Eu acho que essa pergunta não cabe mais. Porque o core do banco deixou de ser aquele tradicional de abrir conta, ter um relacionamento bancário, fazer investimentos e transação. Passam a ser vários cores, como dado, motor de fraude. E a inteligência por trás disso tudo é muito aproveitada e testada”, resume.

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