O governo japonês saiu nesta sexta-feira (6) em defesa da Toyota e de sua indústria automotiva depois que Donald Trump ameaçou a empresa com taxas alfandegárias se construir uma fábrica no México, e não nos Estados Unidos.
“A indústria automotiva japonesa tem 1,5 milhão de trabalhadores nos Estados Unidos e é uma contribuição importante para a economia americana”, disse o ministro do Comércio, Hiroshige Seko, em uma coletiva de imprensa. “É importante que as empresas digam isso e o governo também tem que lembrar, se for necessário”, acrescentou.
Por sua vez, o porta-voz do governo, Yoshihide Suga, não hesitou em defender a montadora. “A Toyota sempre se esforçou para se comportar como uma empresa responsável nos Estados Unidos”, disse, garantindo que o presidente eleito “é um homem de negócios que trabalhou no exterior e deveria saber disso”.
A Toyota, líder mundial do setor automotivo há vários anos, lembrou os números de sua atividade nos Estados Unidos, com 25 milhões de veículos produzidos no país nos últimos 30 anos, 10 fábricas e 136.000 trabalhadores. “A Toyota forma parte do tecido social americano há 60 anos”, disse a companhia em um comunicado.
Trump, que assumirá a presidência no dia 20 de janeiro, atacou na quinta-feira em um tuíte o projeto do grupo japonês de construir uma fábrica no México.
“A Toyota Motors diz que quer construir uma nova fábrica na Baixa Califórnia, México, para fabricar carros Corolla para os Estados Unidos. SEM CHANCE! Que construa a fábrica nos Estados Unidos ou pague um grande imposto na fronteira”, escreveu no Twitter.
A Toyota tem uma fábrica na Baixa Califórnia, onde fabrica caminhonetes Tacoma, mas Trump escreveu erroneamente que a nova fábrica também seria neste estado, quando na realidade está sendo erguida em Guanajuato.
Nesta sexta-feira, as ações da Toyota chegaram a perder mais de 3% na bolsa de Tóquio e fecharam em queda de -1,68%, a 6.930 ienes.
Antes da ameaça de Trump, o conselheiro delegado da Toyota, Akio Toyoda, já havia insistido na contribuição da companhia aos Estados Unidos através dos impostos e da criação de postos de trabalho. A Toyota também diz ser o construtor que menos carros “made in México” exporta aos Estados Unidos, com apenas 78.000 Tacoma vendidos em 2015.
O México é o quarto exportador de veículos leves do mundo e o sétimo produtor mundial de automóveis, segundo números da indústria.
Este setor, que gera 52 bilhões de dólares por ano, representa mais de 875.000 empregos diretos em todo o país, segundo o Ministério da Economia.
O principal alvo de Trump são os veículos fabricados no México e exportados posteriormente aos Estados Unidos, em alguns casos sem impostos graças ao tratado de livre comércio americano entre Estados Unidos, México e Canadá (TLCAN), muito criticado pelo futuro presidente.
A Nissan, rival da Toyota, ainda não sofreu os ataques de Trump, mas é um dos construtores com mais implantação no México.
No total produz 830.000 veículos por ano, entre eles os modelos Sentra e Versa para o mercado americano. A Nissan, sócia da Renault, está implantada no México há 50 anos, onde também está construindo uma fábrica em colaboração com a alemã Daimler.
A Honda também está muito implantada, com uma capacidade de produção de 260.000 unidades. Por sua vez, o Mazda, um pequeno construtor, vende nos Estados Unidos veículos fabricados no México e no Japão.
Até o momento, no entanto, as ameaças de Trump não parecem preocupar os investidores. Na bolsa de Tóquio, as ações das principais companhias do setor sofreram apenas quedas moderadas (Nissan -2,20%, Honda -1,90% e Mazda -3,16%).
O conselheiro delegado da Nissan, Carlos Ghosn, também quis lançar uma mensagem tranquilizadora. “Somos pragmáticos, nós nos adaptaremos às novas regras sem importar a situação, com a condição de que sejam as mesmas regras para todos”, declarou em uma coletiva de imprensa na feira de eletrônicos de Las Vegas, a SEC.
Ghosn lembrou que a Nissan tem sua maior fábrica em Tennessee (Estados Unidos), onde são produzidos 650.000 carros por ano, e que o total de sua produção nos Estados Unidos é de cerca de um milhão de unidades, com 22.000 empregos diretos.
No mesmo sentido um responsável da Honda, Yoshiyuki Matsumoto, afirmou à rede de televisão japonesa que ainda é cedo para reagir antes de Trump chegar à Casa Branca.