Henrique Meirelles: ex-presidente do Banco Central ocupa carno na J&F e poderia ir para a construtora| Foto: Valter Campanato/ABr

Ex-BC

Meirelles está cotado para presidir conselho da construtora

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi escalado para assumir o conselho de administração da construtora Delta, caso se concretize a compra da empresa pela holding J&F. Afastado de cargos públicos desde 2010, Meirelles é, desde março deste ano, o presidente do conselho consultivo da J&F. À época, especulou-se que uma das principais tarefas do ex-dirigente do BC seria criar uma estrutura de governança corporativa que permitisse, no futuro, abrir o capital do grupo. Hoje a JBS, cabeça do grupo, é a maior exportadora global de carnes.

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Participação

31,41% é a participação que banco estatal BNDES possui no grupo JBS, que inclui empresas nos setores de carnes, higiene e limpeza, papel e celulose e até um banco.

A J&F Participações pode anunciar nesta quarta que está assumindo a gestão dos fundos que controlam 100% da Delta Construções, segundo fontes ouvidas pela Agência Estado. Será o primeiro passo para a aquisição, que só deve ocorrer dentro de 30 a 60 dias, depois da avaliação dos ativos. Dono de 31,41% do capital da JBS, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passa ao largo da negociação desenhada pela holding dos irmãos goianos Joesley e Wesley Batista, que controla, além do frigorífico, um leque de empresas tão díspares quanto banco, indústria de cosméticos e fabricação de celulose. No BNDES, a operação é vista com reservas.

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A negociação de venda da Delta Construções para a J&F, a holding que controla o frigorífico JBS, está avançada e não vai envolver dinheiro num primeiro momento. Pelo que era discutido ontem à noite, o empresário Fernando Cavendish, principal acionista da Delta, entregaria sua participação de cerca de 80% na construtora, sem receber nada agora. Se a operação der lucro nas mãos do J&F, Cavendish receberá dividendos em alguns anos. Se der prejuízo, não vai receber nada.

Essas são as bases da negociação, mas Joesley Batista, da J&F, e Cavendish ainda precisam acertar vários pontos. Não está combinado, por exemplo, daqui a quanto tempo seria feito o acerto de contas. Acionistas minoritários da construtora, como a Galvão Engenharia, que tem uma participação de 2%, continuariam na empresa. As informações são de profissionais que participam da operação. Delta e J&F não quiseram se manifestar oficialmente.

Pelo desenho negociado nesta terça, se der tudo certo, Cavendish seria pago de acordo com os resultados dos cerca de 300 contratos que a Delta tem em carteira hoje. As empresas calculam que essa carteira deveria render algo em torno de R$ 4 bilhões ao longo dos próximos quatro anos. Se ficar mesmo com a construtora, a J&F vai trocar a diretoria.

De acordo com pessoas próximas a Cavendish, a aposta do empresário é que a maior parte de seus contratos será aprovada no pente-fino realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU). Ele baseia sua defesa na ideia de que os problemas da Delta estão concentrados nas operações do Centro-Oeste, área administrada pelo ex-diretor Cláudio Abreu. Abreu foi flagrado nos grampos da Polícia Federal (PF) em conversas comprometedoras com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os dois estão presos. A tática da defesa de Cavendish é tentar comprovar que Abreu agia por conta própria.

Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com contratos em 21 Estados e no Distrito Federal, a Delta tem obras importantes para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. A empresa faturou cerca de R$ 2,7 bilhões no ano passado, segundo balanço que está para ser divulgado nos próximos dias. O resultado é um pouco inferior aos R$ 3,1 bilhões de 2010. O balanço deve mostrar também que a empresa fez uma reserva técnica de aproximadamente R$ 250 milhões para contingências.

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A J&F, da família Batista, por sua vez, vive um processo de expansão que começou com a transformação do JBS no maior frigorífico do mundo, com forte apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje sócio da empresa. A holding controla também empresas nas áreas de higiene e limpeza, está investindo em papel e celulose e é proprietária do Banco Original.