A diferença salarial entre homens e mulheres é um dos temas mais polêmicos no mercado de trabalho. Há dezenas de teses que tentam explicar o fenômeno, cada uma provavelmente com uma parte da razão – a lista de motivos vai desde a pura discriminação até preferência pessoais. Uma das teorias mais recentes usa jogos de xadrez para explicar a diferença salarial.
O estudo “Gênero, competição e performance: Evidências de torneios reais”, dos pesquisadores Peter Backus (Universidade de Warwick) e Maria Cubel (Universidade de Barcelona), em parceria com outros três especialistas, tenta demonstrar a teoria da “ameaça do estereótipo” com a ajuda de arquivos de jogos de xadrez. Segundo essa teoria, a existência de um estereótipo em uma relação social pode influenciar decisões reais.
Em um ambiente dominado por homens, como o xadrez, o estereótipo é o de que há uma superioridade de gênero. São poucas as mulheres nos principais torneios e entre os melhores jogadores do mundo, embora haja um número crescente de jogadoras profissionais. A questão colocada pelos pesquisadores é se essa realidade tem relação com as escolhas das mulheres (por não gostarem de competições, por exemplo), ou se os resultados são influenciados pelo sexo do oponente.
Os pesquisadores escolherem o xadrez para fazer o estudo porque o jogo não é influenciado pela sorte e tem milhares de registros de jogos reais. Além disso, há uma metodologia que avalia a habilidade do jogador, que é internacionalmente reconhecida, a Elo, e sistemas artificiais que avaliam os erros nas partidas. Cruzando dados de jogos, sexo dos jogadores e o índice Elo, os pesquisadores puderam avaliar as probabilidades de vitórias e os índices erros.
O resultado para jogos entre duas mulheres com habilidades semelhantes é o esperado: 50% de chance de vitória para cada. Quando os jogos são entre homens e mulheres com habilidades semelhantes, a chance de vitória feminina cai para 46%.
Para esclarecer as razões para a diferença, o estudo tenta identificar a qualidade das jogadas em cada partida. A conclusão é de que as mulheres cometem mais erros quando enfrentam homens.
“Os resultados são compatíveis com a teoria da ameaça do estereótipo, que argumenta que, quando um grupo sofre com um estereótipo negativo, a ansiedade experimentada na tentativa de se evitar o estereótipo, ou só o conhecimento sobre ele, aumenta a probabilidade de se confirmar o estereótipo”, escreveu Cubel em um artigo sobre o assunto.
Ambiente corporativo
O paralelo com o ambiente corporativo é claro. A competição em situações em que há domínio das funções de liderança por homens pode elevar as chances de decisões equivocadas. O insight é interessante em um momento em que empresas e governos estudam formas de reduzir as diferenças salariais e de ocupação de cargos de liderança.
Um estudo recente da consultoria McKinsey calculou que a equiparação de rendimentos entre os sexos em uma década elevaria o PIB global em US$ 28 trilhões, o equivalente às economias de China e Estados Unidos hoje. Nos 95 países analisados pela pesquisa, as mulheres são 50% da população em idade de trabalhar, mas geram apenas 37% do PIB. Ao mesmo tempo, 75% do trabalho não pago é realizado por mulheres.
Outro estudo, do Fórum Econômico Mundial, mostra as diferenças entre os sexos em diversos campos da vida. Na área de participação econômica, por exemplo, a diferença é de 31 pontos percentuais, enquanto em participação política o abismo é de 67%.
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