Você conhece algum jogo produzido no Irã? Você se lembra de algum game que tenha a mitologia persa como referência (Prince of Persia não se enquadra nessa categoria)? E de algum título para PC desenvolvido com software open source? Nada? A partir de outubro, Garshasp será a sua resposta afirmativa para todas essas perguntas.
O game é fruto dos esforços criativos da Fanafzar, softhouse formada em 2004 no Irã a partir de outra empresa homônima, que desenvolve programas corporativos. A reportagem conversou, por e-mail, com Amir Fassihi, um dos fundadores da empresa e gerente de produção do Garshasp.
Amir é formado em engenharia civil pela Universidade de Tecnologia Sharif, no Teerã, além de ter ganhado uma bolsa para estudar engenharia nos EUA. "Fazer jogos sempre foi uma grande paixão minha e eu sonhava com isso desde os dias eu estava na escola", diz Amir, que usou uma plataforma livre como base para criar o ambiente mítico de Garshasp.
Dois fatores justificam, para Amir, a escolha por ferramentas open source. Primeiro, a própria Fanafzar usa software livre em suas aplicações administrativas, já que elas permitem que os desenvolvedores alterem qualquer aspecto do produto. Segundo, devido a uma série de restrições econômicas e políticas impostas ao Irã, muitos softwares, ferramentas e bibliotecas não podem ser oficialmente comprados lá.
O tamanho da Fanafzar também complica: "Mesmo se não houvesse as sanções, para um estúdio pequeno como o nosso, sem financiamento e sem relações com grandes editoras, seria muito difícil comprar um dos caríssimos softwares de desenvolvimento de games", diz Amir.
A inspiração inicial para Garshasp veio de um livro de fantasia baseado na mitologia persa que Amir e Arash Jafari, seu sócio na empresa, descobriram. A leitura despertou o interesse dos dois, que já vinham estudando os movimentos básicos para o desenvolvimento de games para PC. "Eram apenas duas pessoas tentando fazer algo na base da tentativa e erro", relembra.
"Nós ainda procuramos um escritor profissional, especialista em história e mitologia persa para nos ajudar com o roteiro de Garshasp", explica Amir, que afirma que toda a equipe envolvida no jogo e, principalmente, na parte visual, fez muita pesquisa. "Nosso designer, Soheil Eshraghi, fez um trabalho maravilhoso em visualizar os monstros e criaturas míticas, algo que não é comum na mitologia persa."
O mercado de videogames e jogos para computador ainda é muito restrito no Irã, porém Amir é otimista em relação à distribuição de Garshasp: "Temos percebido uma repercussão positiva dentro do Irã, e muitos acreditam que o jogo foi um salto no desenvolvimento de games iranianos". A empresa também tem planos de distribuir o game para outros países e já estão em negociação com distribuidoras internacionais, além de estudar a possibilidade de permitir que o jogo seja baixado.
A equipe da Fanafzar foi muito bem recebida na Gamescom a mais importante conferência anual de games da Europa, realizada na Alemanha onde a empresa, além de conseguir estabelecer bons contatos, chamou a atenção da imprensa especializada internacional. "Parece estranho para o Ocidente ver um estúdio de desenvolvimento de jogos do Irã, mas gostaríamos muito de ver mais jogos iranianos, com histórias e elementos da cultura local, e que isso possa ser desfrutado por qualquer pessoa no mundo."
Na web, o jogo foi comparado a God of War, um clássico do estilo hack & slash aquele em que o jogador comanda um personagem que sai desembestado destruindo tudo o que vê no caminho , lançado em 2005 para o PlayStation 2 (God of War 3 foi lançado neste ano para o PS3).
A empresa tem acompanhado a repercussão de Garshasp na internet, inclusive no Brasil. Amir ainda faz um agradecimento ao público brasileiro: "Encontramos um post em um blog do Brasil sobre Garshasp e depois recebemos muitos comentários positivos dos brasileiros em nossa página no YouTube, o que nos fez realmente felizes".