Está prestes a completar 25 anos um dos jogos eletrônicos mais populares do planeta: o Tetris, viciante quebra-cabeças baseado em blocos que foi criado pelo programador russo Alexey Pajitnov. Qualquer um que tenha comprado num camelô aqueles jogos eletrônicos portáteis com 9.999 versões de games de blocos conhece o prazer de ficar encaixando as pecinhas ad aeternum em todos os cenários possíveis: praças, ônibus, filas de banco e por aí vai.
- Joguei muitas variações de Tetris num aparelho desses - lembra a professora Valéria Figueiredo, que é viciada em joguinhos portáteis (atualmente tem pelo menos três: uma paciência eletrônica e duas versões de pôquer).
O Tetris não surgiu do nada. Alexey o programou inspirado numa modalidade de jogo de tabuleiro chamada "pentomino", de origem grega. Esse jogo tem vários blocos semelhantes aos do Tetris, só que formados por cinco quadrados. Alexey montou suas peças eletrônicas com quatro quadrados, nos conhecidos formatos de S, T, L, I etc. Daí o nome Tetris, derivado do grego tetra (quatro). O game foi originalmente desenvolvido para divertir os colegas de Alexey em seu local de trabalho, a Academia de Ciências de Moscou. Não demorou muito e ele foi adaptado para o IBM PC por outro programador, Vadim Gerasimov.
Inventor passou anos sem receber nada por seu jogo
Como todos os órgãos científicos eram controlados pelo governo soviético na época, Alexey, por um bom tempo, jamais recebeu um tostão de royalties por sua invenção. Mas o próprio programador não se mostrou amargo com isso.
- Originalmente, eu cedi os direitos do Tetris por dez anos à organização onde trabalhava - contou Alexey ao site Gamespot. - Depois que esses dez anos terminaram, recuperei os direitos.
De qualquer modo, a intenção inicial não era o lucro. O caso é que a versão para PC do Tetris programada por Vadim acabou "escapando" para a Hungria, onde foi descoberta por programadores britânicos. Não demorou muito, o diretor de uma softwarehouse chamada Andrômeda, Robert Stein, procurou Alexey em Moscou e lhe propôs o licenciamento do game.
Não deu certo - como os direitos eram do regime soviético, Stein não conseguia chegar a um acordo com o ministério responsável pelas exportações de hardware e software no país. As conversações prosseguiram, mas, mesmo antes de obter um contrato, Stein vendeu os direitos do game para a empresa inglesa Mirrorsoft e sua sócia americana, a Spectrum Holobyte.
Em 1988, Tetris vira febre nos EUA
O resultado foi que já em 1988 o game apareceu nos Estados Unidos e virou coqueluche instantânea.
Entrementes, o imbróglio das licenças continuava. Novas versões do jogo apareceram via Atari e Nintendo, no Japão, e a confusão dos direitos se estendia ao Tetris portátil, ao embutido em consoles ou ao feito para PCs. As empresas faturaram muito, mas Alexey passou todo esse tempo a ver navios (até 1996, quando os direitos voltaram para ele).
Nesse mesmo ano, o programador (que hoje vive nos EUA) criou a Tetris Company e conseguiu assegurar a marca registrada do game em vários países. Mesmo assim, há espalhadas pela internet incontáveis versões do Tetris com outros nomes. Há pelo menos 38 variações oficiais e umas oito oficiosas de destaque - entre elas, Blockout, Gnometris, Puzzled, Tetris the Grande Master, Columns, Jewels, e assim por diante.
O jogo é tão viciante que existe um verbete na Wikipedia sobre o chamado "efeito Tetris", em que, depois de jogar o game obsessivamente, a pessoa começa a ver as formas das peças em qualquer lugar à sua volta. "Quem joga Tetris por muito tempo pode se pegar pensando em como diferentes peças se encaixariam no mundo real, como nas caixas de um supermercado ou nos prédios de uma rua (...). Eles também poderiam ver imagens das peças do Tetris nos cantos de seus campos visuais quando fecham os olhos. Aí, o efeito seria uma forma de alucinação", diz a enciclopédia online.
Maluquice? Mais louca ainda é a pergunta: será possível jogar Tetris para sempre (ou pelo menos até uma tendinite atroz se instalar)? Já no fim da década de 80 os jogadores se perguntavam isso. Teóricos como o professor de ciência da computação da Universidade Leiden, na Holanda, e John Brzustowski, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, se debruçaram sobre o tema. Ambos construíram modelos matemáticos para ver se era possível encaixar indefinidamente os bloquinhos (cá para nós, poderiam ter mais o que fazer, é ou não é?).
Tetris não pode ser jogado infinitamente
Independentemente do fato de a queda das peças ir aumentando de velocidade, levando ao "game over" na maior parte dos casos, a verdade é que o jogador está condenado a perder o Tetris em algum momento. Isso porque, se ele receber em dado momento um monte de peças nos formatos S e Z, acabará deixando um buraco em algum lugar. Além disso, a partir de determinada fase a velocidade de queda passa a ser muito maior do que a velocidade lateral da peça, controlada pelo jogador. Aí fica muito difícil prosseguir. Além do mais, segundo o próprio Alexey Pajitnov, o placar do jogo tem limite. Depois de duas semanas, volta a zero.
Ele mesmo não se considera um superjogador de Tetris. Diz que alcança o nível 10 da versão em GameBoy. Mas nem chega perto dos profissionais.
O site oficial da Tetris Company tem uma seção de estratégia com dicas simples e avançadas para quem curte o jogo. Nas novas versões do game, há características diferentes, como a possibilidade de preview de mais de uma peça ao mesmo tempo - entre três e seis - e o uso de uma peça "fantasma", em que a sombra dela aparece no lugar onde cairá. Também é possível, em determinadas versões, evitar a queda de peças indesejáveis a certa altura ou salvá-las para mais tarde.
Versões recentes vão do Xbox 360 ao iPhone
As versões mais recentes do games incluem o Tetris para o iPhone da Apple, que pode ser adquirido na loja de aplicativos do iTunes. Além da versão arcade Tetris Splash para Xbox 360, com suporte a até seis jogadores em versão multiplayer, a Tetris Online - nova subsidiária da Tetris Company - lançou o Tetris Friends, que pode ser jogado online no Facebook ou no website homônimo, e está anunciando para os próximos meses (o outono do hemisfério norte) o lançamento do game Tetris Party para Nintendo Wii, com suporte para o "pad" do sistema sobre o qual o jogador pode se equilibrar.
O jogo terá 18 modalidades, entre as quais as versões online (para até seis jogadores, como no Xbox) chamadas World Battle e Friend Battle. Outras versões, totalmente novas, foram batizadas como Stage Racer, Wii Balance Board Tetris Marathon, Field Climber, e Duel Space. Mas ninguém sabe ainda como serão. O site oficial do Tetris Party é praticamente um "teaser" sobre o lançamento, sem maiores informações.
A versão móvel do jogo traz, além do tradicional modo Marathon, os modos 40-Line (em quanto tempo o jogador consegue eliminar 40 linhas?) e Ultra (quantas linhas ele consegue eliminar em dois minutos?). São 15 níveis de velocidade. Já o Tetris Zone é voltado para ambientes Windows e Mac OS X, e o Tetris Cube é o que diz o nome: um cubo de plástico feito de peças de Tetris. É um cubo mágico com nove mil soluções possíveis, mas a turma de Alexey avisa: "desafiamos você a completar pelo menos uma delas..." E a versão do Game Boy foi parar no iPod Video.
Há ainda o Tetris Pop, com aproximadamente 17 variações. Entre elas, Ball, Circuit, Erosion, Filler, Flood, Furnace, Limbo, Meteors, Touchdown, Scanner, Split, Stacker e Vanilla. Também é um jogo para telefones celulares, smartphones e afins.
Alexey também criou outros jogos
Quem gosta de Linux também pode jogar Tetris à vontade. Existem pelo menos três versões do jogo para o sistema do pingüim. A mais bonitinha é a Gnometris, para o ambiente Gnome, que já vem instalada no Linux mais simples, o Ubuntu. Mas tem ainda a K-Sirtet (Sirtet é Tetris ao contrário, para quem não notou), do ambiente KDE. E há uma meio maluca chamada Bastard Tetris. Seu princípio é o seguinte: o jogo calcula a peça seguinte que mais atrapalhará o jogador e e a deixa cair. Grrrrr! Não admira o nome.
Alexey não parou no Tetris. Criou outros jogos. Um exemplo é o Hexic, em que o jogador precisa rotacionar hexágonos coloridos e formar grupos da mesma cor para eliminá-los do tabuleiro. Lembra um pouco o esquema do igualmente viciante Collapse. Outro jogo criado por ele é o Hatris, em que chapéus substituem as peças de Tetris.
Tudo indica que a saga dos bloquinhos que descem não vai parar, ainda que as peças da vida real demorem muito mais tempo para se encaixar que as do jogo propriamente dito. Somente em 2005 os direitos de licenciamento foram todos reunidos sob a empresa oficial. Dá para imaginar Alexey suspirando aliviado.
Apesar do famigerado efeito Tetris, mencionado anteriormente, pesquisadores dizem que o jogo é bom para o cérebro. Durante as partidas, gastaríamos mais energia cerebral. Até porque ele é simples só na superfície. Dois matemáticos do Massachusetts Institute of Technology se debruçaram sobre o game e concluíram que não há maneira de maximizar a contento os resultados do game, mesmo que os jogadores saibam de antemão todas as peças que vão cair no tabuleiro eletrônico - o que não é o caso no game tradicional. Eles fizeram uma pesquisa com um jogador e chegaram à conclusão de que nem mesmo um computador seria capaz de melhorar os scores.
E vamos parando por aqui, porque já estou vendo peças caindo na minha frente...